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Estado de Minas BOA NOTÍCIA

Coronavírus: cientistas brasileiros desenvolvem exame que testa imunidade

Diferente dos testes rápidos que diagnosticam a infecção, o novo exame será capaz de identificar se, após a contaminação, a pessoa desenvolveu imunidade contra o vírus


postado em 27/05/2020 14:58 / atualizado em 27/05/2020 19:43

Os testes estão sendo desenvolvidos pela Imunobiotech, em Porto Alegre(foto: Divulgação)
Os testes estão sendo desenvolvidos pela Imunobiotech, em Porto Alegre (foto: Divulgação)
 
Um grupo de cientistas brasileiros da empresa Imunobiotech, localizada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, desenvolveu um teste capaz de detectar se um organismo já esteve em contato com o novo coronavírus, e se este desenvolveu imunidade ao vírus.  
 
Segundo especialistas, esse exame laboratorial pode mudar o panorama de combate à COVID-19. Isso porque, ao identificar e quantificar a presença de anticorpos tipo IgG, contra a proteína S, seria possível detectar os pacientes considerados imunes, ou seja, aqueles que não estariam suscetíveis a desenvolver a doença e/ou transmiti-la. 

Alberto Stein, médico, doutor em medicina e membro do grupo de pesquisa, explica que inúmeros estudos feitos atualmente, a fim de desenvolver vacinas que combatam o novo coronavírus, demonstraram que o alvo dessas vacinas se dá, justamente, na produção de anticorpos contra a proteína S, responsável pelo processo de infecção da célula humana.

E, portanto, destaca que essa pode ser a “chave” para a constatação de imunidade. “Cabe dizer que nem todo anticorpo reagente contra a proteína S é neutralizante, mas todo anticorpo neutralizante age contra a proteína S, ou seja, os anticorpos que indicam imunidade com relação à COVID-19 são os que reagem à proteína S, que permite a ligação do vírus às células e causa a infecção.” 

No entanto, Stein pontua que a imunidade é avaliada pela presença de anticorpos de forma geral. E que, com relação ao novo coronavírus, ainda não se tem ideia da quantidade de anticorpos necessária para que o paciente esteja, de fato, imune à doença. 

“Nos Estados Unidos, está em estudo uma vacina para a COVID-19 em que o alvo é o mesmo número de anticorpos nos pacientes que estariam imunizados, equivalente à titulação dos pacientes que estão curados da doença. Ou seja, quem teve a doença e se curou tem nível suficiente de anticorpos contra a proteína S."

A vacina, portanto, tem como objetivo que as pessoas tenham seu sistema imunológico estimulado a produzir anticorpos no mesmo nível/quantidade de quem teve a doença e se curou, explica Stein.

Por isso, acredita-se que, para garantir imunidade contra a COVID-19, é preciso que as pessoas tenham contato com o vírus, desencadeando uma resposta imunológica capaz de produzir anticorpos responsáveis por agir contra a proteína Spike (S) e bloquear a infecção viral.  
 
“O sistema imunológico de cada pessoa reage de forma diferente. Uma pessoa pode produzir anticorpos contra a proteína N do novo coronavírus, que não impede o desenvolvimento da doença no organismo. Quando a pessoa produz anticorpos contra a proteína S, há possibilidade de impedir que a doença se desenvolva, a depender da quantidade de anticorpos produzido”, diz. 

Sendo assim, pessoas que ainda não tiveram contato com o vírus não podem ser consideradas imunes ao novo coronavírus. Para desenvolver imunidade é preciso ter contato com o vírus. O que pode ocorrer é uma manifestação branda da doença.

"Aliás, em média, 85% das pessoas que entram em contato com o vírus apresentam apenas sintomas leves da COVID-19. Ou seja: entraram em contato com o vírus, estimularam o sistema imunológico e produziram anticorpos contra a proteína S.” 


Como funciona? 


O especialista explica que o teste consiste em uma coleta de sangue, analisada em laboratório, a fim de determinar e quantificar a presença de anticorpos reagentes no combate à proteína S. E destaca que, apesar da semelhança no processo de análise, esse teste se diferencia dos já existentes no mercado.  

“A maioria dos testes imunológicos disponíveis hoje não quantificam o nível de anticorpos contra a proteína S, pois se avalia somente os anticorpos contra a proteína N, e nem se submetem à avaliação de outros anticorpos como imunizantes.” 

Stein ressalta que esse exame se distingue, ainda, dos demais testes feitos para diagnóstico de COVID-19, como os testes rápidos
 

"Em meio à pandemia, essa inovação pode mudar o paradigma de enfrentamento da sociedade e dar a ela uma nova perspectiva para lidar com a crise, uma vez que, por meio deste teste, pode-se identificar indivíduos imunes e, portanto, os habilitar a retomada de atividades."

Alberto Stein, médico, doutor em medicina e membro do grupo de pesquisa


 
Ainda, Stein conta que, a princípio, o teste fez uso da proteína S viral importada, e que, devido à importância estratégica, foi possível substituir o material por um produzido no Brasil. 

“Oficializamos uma parceria entre a Imunobiotech e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para que houvesse uma nacionalização de todo o processo de formatação do teste. Ou seja, toda a tecnologia usada no teste é nacional. Isso nos proporciona independência tecnológica e, também, maior disponibilidade de exames.” 

Apesar de o teste já ter validação comprovada, conforme informado por Stein, a implementação do exame, em nível nacional, depende de mais parcerias.  

“A partir desta semana, o teste estará disponível em laboratórios da região Sul do Brasil, podendo muito em breve ser ampliado para as demais regiões do país. No entanto, para isso, será preciso realizar parcerias com laboratórios que estejam aptos a desenvolver a técnica e realizar o exame”, elucida. 

O teste tem duração de duas horas. O resultado da análise tende a ficar pronto em torno de seis horas

“Passaporte de imunidade” 


Stein comenta que o teste de imunidade pode proporcionar mudanças no panorama da pandemia, e provocar alterações em como o mundo se porta no combate ao novo coronavírus

Alberto Stein, médico, doutor em medicina e membro do grupo de pesquisa(foto: Arquivo pessoal)
Alberto Stein, médico, doutor em medicina e membro do grupo de pesquisa (foto: Arquivo pessoal)
“Em meio à pandemia, essa inovação pode mudar o paradigma de enfrentamento da sociedade e dar a ela uma nova perspectiva para lidar com a crise, uma vez que, por meio desse teste, pode-se identificar indivíduos imunes e, portanto, os habilitar à retomada de atividades.” 

O argumento e, consequente, proposta do especialista se assemelha a uma iniciativa cogitada em alguns países, como Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, no início da pandemia, quando ainda não havia estudos mais aprofundados sobre o assunto e nem mesmo a idealização de um teste. 

A ideia consistia em constatar se uma pessoa foi infectada e se estava imune para, depois, fornecer a ela um documento que comprovasse sua imunidade, para que, assim, essa pessoa pudesse voltar às suas atividades diárias

* Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram


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