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Estado de Minas OPINIÃO SEM MEDO

Ricardo Kertzman desabafa sobre ataques bolsonaristas ao Nordeste

Brasileiros do norte e nordeste do País vêm sofrendo com ataques de cunho nazistas por bolsonaristas extremados nas redes sociais


03/11/2022 14:10 - atualizado 05/11/2022 07:29

O colunista do Portal UAI e Estado de Minas Ricardo Kertzman gravou um vídeo que vem viralizando nas redes sociais, em veemente defesa dos nordestinos após uma série de ataques de xenofobia patrocinados por eleitores do presidente Jair Bolsonaro.

No começo de outubro, em Uberlândia,  no Triângulo Mineiro, uma advogada local - e vice-presidente da Comissão da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - divulgou um vídeo com fortes ataques contra o povo nordestino, logo após o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais.

"Nós que geramos empregos, nós que pagamos impostos, vocês sabem o que a gente faz? Nós gastamos nosso dinheiro lá no Nordeste. Não vamos fazer isso mais. Vamos gastar dinheiro com quem realmente merece. A gente não vai mais alimentar quem vive de migalhas. Vamos gastar nosso dinheiro no Sudeste, no Sul ou fora do país", afirmou Flávia Moraes.

Durante o mês passado, mensagens semelhantes em grupos de WhatsApp se tornaram frequentes, e Kertzman, que, por mais de 20 anos trabalhou na região, começou a “brigar” com amigos que compartilhavam os ataques. Uma dessas publicações foi escrita por um vizinho, morador de um condomínio na zona nobre da região metropolitana: “Povo nordestino principalmente os Bahianos, nunca mais verão minha cara e com certeza torço para que cada ano a pobreza aí aumente para que vcs tenham sempre uma esquerda junto de vocês !!!! (sic)”.

Segundo Kertzman, em seu meio social, discursos de ódio contra nordestinos, pobres e homossexuais tornaram-se extremamente frequentes, obrigando-o a se afastar de antigas e gratas amizades: “Tenho 55 anos de idade e jamais imaginei viver algo assim no Brasil. Quando me lembro das histórias sobre o nazismo, fico chocado com a semelhança entre os fatos e os tempos”. O colunista lembra que “nazismo é muito mais amplo e abrangente que o antissemitismo e o holocausto”. E conclui: “Para alguns judeus, falar em nazismo, nesses casos, acaba diminuindo o tamanho da nossa tragédia. Mas repito: o nazismo, como doutrina, não se limita ao antissemitismo e ao holocausto”.

A doutrina nazista não admite “raças” senão a ariana, e prega o Estado totalitário e absoluto sobre todas as coisas, inclusive por meio do extermínio de outras etnias, religiões e ideologias políticas. “O antissemitismo, que culminou com o holocausto de mais de 6 milhões de judeus, é a parte mais vísivel e dramática do nazismo, mas não o todo”, afirma Kertzman. Na Alemanha, qualquer menção que faça apologia ou possa ser interpretada dessa maneira é proibida e, a depender da gravidade, tipificada penalmente, tamanho o reconhecimento do país alemão sobre a extensão e a gravidade do movimento.

Eleições


Após a eleição do presidente Lula, no domingo passado, os ataques de cunho nazita contra os nordestinos se tornaram ainda piores e mais agressivos. A esposa do presidente do Flamengo e diretora de Responsabilidade Social do Clube compartilhou em seu Instagram uma imagem com os seguintes dizeres: “Ganhamos onde se produz, perdemos onde se passa férias, bora trabalhar, porque se o gado morrer, o carrapato passa fome”. Em entrevista, o presidente do Flamengo saiu em defesa de sua esposa e diretora. 

“É óbvio que isso a deixa muito chateada por algo que ela tenha feito. Isso foi quase um desabafo, por ver a terra que ela tanto ama, ela achar que não vai ter nos próximos anos o destino que ela gostaria que tivesse. Ela tem o direito de se posicionar”, afirmou o dirigente carioca, causando revolta em clubes de futebol do Nordeste como o Sport, de Recife, o CSA, de Alagoas, e o Sampaio Corrêa, do Maranhão. Lembrando que o clube carioca é dono da maior torcida do país e que milhões de nordestinos torcem pelo Flamengo.

Manifestantes bolsonaristas com os braços erguidos
Manifestação análoga ao nazismo (foto: Redes Sociais/Reprodução)
A “gota d’água”, para Kertzman, veio em um vídeo em que uma mulher do Espírito Santo, proferiu duras palavras e ofensas de cunho étnico contra o povo do Nordeste, conclamando os brasileiros do Sudeste a boicotarem a economia da região. “A todo instante vemos pipocar, aqui e ali, campanhas nas redes sociais de todo o mundo, de boicote a Israel e ódio aos judeus”. Para Ricardo, mais uma semelhança com o nazismo, que, “a partir da década de 1930, agia assim com os judeus”, e com “o atual recrudescimento do antissemitismo em todo o mundo”. 

Dados do último Relatório Mundial sobre Antissemitismo, da Universidade de Tel Aviv, apontam um crescimento “dramático” de incidentes contra os judeus em 2021 e citam o espantoso número do aumento de casos de antissemitismo pelo mundo. No Brasil, poucos dias atrás, uma célula nazista foi descoberta, e seus membros, presos, em uma operação da Polícia Civil de Santa Catarina. Na mesma cidade, ontem, durante manifestações de militantes bolsonaristas que pediam intervenção militar, contrariados com a perda das eleições, no momento da exibição do hino nacional os presentes ergueram os braços em saudação idêntica a do nazismo.

Após gigantesca repercussão do fato, o Ministério Público de Santa Catarina apurou que, no seu entender, não houve manifestaçao de cunho nazista, e que os braços erguidos indicavam outra intenção. No Brasil, por todos os estádios de futebol, o hino nacional é tocado antes das partidas, e nunca se viu algo assim. Em eventos oficiais, também, como em cerimônias de formatura e outras de caráter privado. A Conib (Confederação Israelita do Brasil) emitiu uma nota a respeito, diversos judeus se indignaram com o fato e até mesmo o embaixador da Alemanha no País se manifestou duramente sobre o episódio.


 

Desabafo


Tantos fatos tristes e negativos levaram Ricardo Kertzman a fazer seu desabafo: “Quero deixar bem claro que não se trata de política, mas de humanidade, civilidade e respeito ao próximo. Não estou entrando no mérito das eleições ou de Lula e Bolsonaro, já que não gosto dos dois nem sequer saí de casa para votar”. E continuou o colunista: “Quem prega a eliminação de um partido e seus eleitores, quem não admite outras formas de gênero e religião, quem ataca etnias e prega boicote econômico por motivos políticos, quem espanca e até mata pessoas em nome de sua ideologia política se comporta, sim, como nazista”.

Em Belo Horizonte, durante uma festa de comemoração de petistas, um jovem de 28 anos foi morto, após um eleitor do presidente Bolsonaro, indignado com o resultado das eleições, abrir fogo contra um grupo de jovens. Em Santa Catarina, uma moça foi espancada em um posto de gasolina e teve seu carro depredado por bolsonaristas, também no domingo à noite, por causa de um adesivo do PT colado no parabrisas. Recentemente, em Aparecida do Norte, durante a celebração da padroeira do Brasil, um homem foi expulso do local por um grupo de eleitores do presidente Bolsonaro por vestir camisa vermelha. 

Também durante a campanha, dois assassinatos, por motivos políticos, praticados por bolsonaristas contra petistas, chamaram atenção. Sem contar os jornalistas agredidos em Aparecida do Norte, e também em frente à casa do ex-deputado Roberto Jefferson, no dia de sua prisão, e nesta semana (um da CNN e outro da Jovem Pan) durante as manifestações ilegais que bloquearam as estradas brasileiras.

Kertzman conclui: “Uma citação famosa do teólogo protestante alemão Martin Niemöller diz: 'Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar'. Eu não sou nordestino, mas jamais irei abandoná-los ou a qualquer outro povo ou indivíduo ameaçado por quaisquer formas de totalitarismo. Se eu não agir assim, não sou digno dos meus antepassados”.

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