(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas EM DIA COM A PSICANÁLISE

Por que ter atenção à violência inserida no nosso cotidiano

'A violência está nas esquinas, pelas ruas, bate à nossa porta. É o resultado de uma sociedade que tem sérios problemas e precisa se debruçar sobre eles'


postado em 08/03/2020 04:00 / atualizado em 08/03/2020 08:00


Faz parte do humano ser dotado de pulsões que substituem o instinto dos animais. Os animais estão na natureza e para sobreviver seguem seus instintos, sabendo de antemão o que comer, de que precisam para viver, como gerar e parir sua prole. Os humanos não.

Nascemos sem saber nada sobre nós e sem condições de sobrevivência senão pelas mãos de um outro, e para entrarmos na cultura devemos adquirir a linguagem, aprender a chorar para pedir que satisfaçam nossas necessidades. O afeto, a voz, o calor do outro nos humanizam, mas sua ausência e demora nos lançam no desamparo fundamental.

As pulsões de vida e morte enlaçadas uma na outra nos conduzem e nos motivam. Porém, caso a pulsão de morte prevaleça, o resultado é desastroso.

E a pulsão de morte nos conduz muitas vezes ao desejo de gozo obsceno e destrutivo. Desde sempre, o homem usou da agressividade para realizar suas vontades e alcançar o que deseja. Um quantum de agressividade é necessário para que lutemos pela vida. Temos de acordar todo dia ir à luta, como sempre falamos nos referindo à vida cotidiana e, às vezes, falamos também que para isso matamos leões todo dia. Mas este é o bom uso dela.

A imagem do homem das cavernas puxando a mulher pelos cabelos quando a desejava, mostra o quanto a pulsão de vida e a de morte estão amalgamadas. Vida e agressividade de mãos dadas para a proliferação da espécie.

Devemos levar em conta muitos estudos sobre comportamento em cada cultura. Não pretendo ser científica. Mas acho interessante pensar como na Roma antiga os cidadãos se divertiam em arenas, onde gladiadores lutavam em num certo momento, a palavra de ordem gritada era: “Jugula, jugula”, e o dedo polegar para baixo do imperador, a ordem para matar, o que levava ao delírio coletivo.

Também os cristãos crucificados e jogados aos leões davam extremo ibope, a plebe rude ficava histérica. Era um espetáculo orgástico, a violência trazia o pleno gozo e satisfação da pulsão de morte. A agressividade e violência legalizada ou não permanece constante no cenário da humanidade. Foram guerras, extermínios, perseguições, queimaram bruxas e santas, crucificações, empalhamentos, nazismo, guerras mundiais e milhares de situações.

O que assistimos em nossa sociedade tão civilizada não é menos cruel. A pulsão de morte se encontra disseminada e continua se manifestando no cotidiano e sendo banalizada da mesma forma que entre os bárbaros. Apesar de tantos discursos pela civilidade, respeito e democracia, nos deparamos com barbáries a cada vez que ligamos as TVs e jornais e nós consumimos violência nas horas de lazer e descanso.

Assistimos a violência dos refugiados repelidos em muitos países e sem lugar para viver serem rechaçados, morrendo afogados e de fome. Crianças desnutridas. Índios atacados por garimpeiros no Norte do país, sendo exterminados sem nenhum socorro do governo federal. Mas tudo isso ainda distantes de nós. Aqui, bem perto, cresce o número de moradores de rua em situação de risco para as quais não deveríamos ser indiferentes.

Em nossas ruas andamos com medo. A violência está nas esquinas, pelas ruas, bate à nossa porta. É o resultado de uma sociedade que tem sérios problemas e precisa se debruçar sobre eles para corrigir a discrepância que gera violência.

Uma dessas situações foi a violência sofrida durante o carnaval. O engenheiro civil Daniel Machado Rodrigues, de 33 anos, estava com a namorada no ponto de ônibus, quando viu uma situação de truculência da PM com um morador de rua. Tentando interceder pelo morador de rua, atraiu para si a truculência. Foi levado na viatura como um marginal, espancado pelos policiais que jogaram spray de pimenta em seus olhos e ele acabou no Hospital João 23.  A namorada levou uma pancada de cassetete na orelha e teve de levar vários pontos.

A PM deveria respeitar e defender os cidadãos porque esta é sua função, trabalha para nós, recebe dos nossos impostos. Trabalham para a sociedade e embora recebam treinamento se permitem satisfazer a violência de modo inadequado, frequentemente atendendo à pulsão de morte mais do que à educação e treinamento igualmente bancados por nós. É que a pulsão de morte escapa ao controle, principalmente num país em que é incentivada pelo de cima.

É inaceitável que situações como esta fiquem impunes. Se estes homens, treinados para situações-limite, agem assim, imaginem os cidadãos comuns armados, com ódio no trânsito, ou em situações tensas. Até onde poderão chegar?

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)