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Águas passadas não movem moinho

Trazer conosco dívidas e culpas não ajuda em nada. São apenas dívidas que carregamos no presente tentando refazer o passado imutável


postado em 01/03/2020 04:00



Cada um de nós leva consigo as memórias do passado, as histórias de família, as cargas afetivas trocadas, os benefícios da educação recebida e traumas vindos dela, múltiplas saudades e alguns remorsos. Conteúdos importantes que formam a nossa identidade nos fazem ser quem somos. Alguns deles, porém, são excesso de bagagem. Conteúdos inúteis que pesam toneladas sobre nossos ombros e dos quais não podemos nos livrar enquanto não os compreendermos intelectual e afetivamente.

Sobrepesos afetivos, tais como remorsos, culpas, erros cometidos que não podemos esquecer e autorrecriminações, nos fazem sofrer diariamente, constituindo os excessos.

Acredito que, na maioria das pessoas, o sobrepeso emocional não é claramente percebido – no entanto, é sentido. Sofrido, na verdade, como mal-estar, angústia, pânico e ansiedade nem sempre acompanhados da compreensão de sua origem, que permanece inconsciente.

Nem por isso pesa menos. Ao contrário, pesa muito mais e não é de nenhuma valia. Esse inútil sobrepeso retira da vida a alegria e mina a disposição, fazendo com que nossas relações sejam afetadas e tortuosas. São concessões e constrangimentos que fazemos mais do que devemos, sem saber que estamos tentando nos redimir. Nem sabemos de quê.

O que passou está feito, não podemos voltar para consertar o passado. O real é, de certa forma, ido e não pode ser refeito. Trazer conosco dívidas e culpas não ajuda em nada. São apenas dívidas que carregamos no presente tentando refazer o passado imutável.

O ido não se conserta. Foi. E sua lembrança carregada de afeto funciona como uma mochila invisível e pesada nas costas. Cada um deve distribuir o seu peso como acredita ser razoável, o que nem sempre é verdade. Temos nossos pesos, mas também carregamos muitos pelo outro. Tanto um quanto outro de nada nos servem. Só atrapalham.

Devemos, sim, nos responsabilizar pelo passado vivido e pelo que é nosso. O do outro nunca estará a nosso alcance, nem é de nossa alçada. Recusar a nossa história constitui recalques que têm consequências de alienação. Não temos acesso consciente a conteúdos que agem em nós porque eles permanecem ativos no inconsciente.

Precisamos descartar o peso, descarregar esse mundo das costas, para sempre. O acontecido não pode ser modificado e, portanto, para nada servem, no presente, culpa e remorsos dolorosos de atos e comportamentos dos quais não nos orgulhamos.

Todos erramos, falhamos e agimos em concordância com nossas possibilidades. Nossas escolhas e ações, em cada momento da vida, foram determinadas pelo que estava a nosso alcance. Fazemos o nosso possível e nem sempre acertamos, pois humanos são errantes. Não nascemos dotados de instinto como os animais, que sabem de antemão o que fazer em cada situação.

Viemos ao mundo sem manual de instruções. Vamos tateando, aprendendo até a hora de morrer. Ou não, caso fiquemos brigando com a vida, agarrados ao que não tem solução. É para a frente que se olha se não quisermos tropeçar. Para que serve a culpa senão gerar sofrimento? Desta nada se aproveita, apenas se sofre. Por que nos apegamos a sofrimentos inúteis? Precisamos nos desapegar desse gozo da pulsão de morte. Descarregar o peso para viver melhor, mas não sem antes nos responsabilizarmos por nossos atos. Por quê? Porque só assim realmente podemos, de fato, soltar e cessar a angústia advinda da rememoração ou da repressão.

O ato de esquecer, negar ou recusar ao pensamento alguns conteúdos indesejáveis não significa libertação. Mesmo conteúdos afastados da consciência são capazes de gerar angústia. O racional, mesmo afastado da consciência, provoca reações afetivas.

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