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Estado de Minas ANTÔNIO ROBERTO

Os riscos da acomodação

O maior risco nós já corremos: termos nascido. Agora é nadar. A acomodação, o desânimo, a preguiça é medo do fracasso, da perda


03/01/2021 04:00 - atualizado 03/01/2021 08:39

“Estou passando por um momento muito difícil na minha vida. Sei que estou acomodado em muitos aspectos e tenho medo de arriscar. Tenho uma oportunidade de ir para o exterior, mas algo me prende: a indecisão. Ajude-me!”

Norberto, de Juiz de Fora

A vida em si mesma, pela sua própria natureza, é arriscada. Viver, como dizia Guimarães Rosa, é muito perigoso. A vida é como um navio, que paralisado no cais apresenta mais perigo que em alto-mar. Parado no porto, seu casco se enferruja e apodrece.

É da natureza do barco navegar. É da natureza do homem a ação. O maior risco nós já corremos: termos nascido. Agora é nadar. A acomodação, o desânimo, a preguiça é medo do fracasso, da perda. Perdemos para não perdermos. Esse é o paradoxo dos que desistem sem tentarem.
 
Há uma parábola Zen que ilustra bem o caso do Norberto: Um grande Mestre e seu discípulo passeavam por uma região distante quando avistaram um sítio bem pobre.

Foram até ele à procura de um pouco de água que aplacasse sua sede. Ao chegarem ao sítio constataram a pobreza da família que morava ali. Um casal e quatro filhos, malvestidos, sujos e o casebre mal se mantinha em pé.

Ao se aproximar o Mestre perguntou ao Pai daquela família:

– Essa região é extremamente pobre e vejo que vocês passam necessidade. De que vocês sobrevivem?

O senhor respondeu: – Nós temos uma vaquinha que nos dá vários litros de leite por dia. Nós vendemos parte do leite ou trocamos no povoado por comida e a outra parte produzimos coalhada. Nunca tivemos muita sorte. Poucas pessoas vêm aqui nos ajudar. Há anos que vivemos com nossa vaquinha. Não sei o que será de nós quando ela envelhecer. Estaremos também sem forças.

O sábio, após beber a água que lhe fora dada, despediu-se da família e foi embora com seu discípulo. No meio do caminho voltou-se para o seu discípulo e lhe ordenou: – Discípulo, volte ao sítio, pegue a vaquinha daquela família e jogue-a naquele precipício.

O discípulo mal podia acreditar no que estava ouvindo. Tentou questionar o Mestre sobre o fato de a vaquinha ser o único meio de sobrevivência daquela família. O Mestre não respondeu e o discípulo cumpriu o desejo de Mestre. Apanhou a vaquinha sem deixar que eles percebessem e muito a contragosto, atirou-a pelo precipício abaixo e a viu morrer.

Durante muitos anos a culpa corroeu o coração daquele discípulo que tinha dúvidas se deveria ter obedecido a seu Mestre. Teria seu Mestre enlouquecido ou atrás daquela aparência bondosa e calma, havia uma pessoa cruel?

Um dia o discípulo abandonou o Mestre e para apaziguar seu remorso voltou aquele sítio decidido a contar tudo aquela família, pedir-lhes perdão e ajudá-los de alguma forma.

Quando se aproximou do local viu que tudo ali havia mudado. Avistou um sítio muito bonito com árvores floridas e com outras frutíferas. Limpo, cercado, com inúmeras plantações, um caminhão na garagem e várias pessoas trabalhando.

De cara, ele entendeu: Aquela família humilde teve de vender o sítio após a morte da vaquinha para sobreviver, e Deus sabe como e onde eles deveriam estar. Ao se aproximar, ele foi recebido por um empregado a quem perguntou pela família que ali morava há alguns anos.

O empregado respondeu: – Eles continuam morando aqui. Nunca saíram daqui. Espantado, ele entrou na casa que agora era ampla, bem cuidada e sólida. Notou que a família era a mesma que ele conhecera com o mestre.

Após fazer inúmeros elogios, perguntou ao chefe da família: – Como o senhor conseguiu melhorar tanto a sua vida e da sua família, desenvolver tanto este sítio?

O senhor respondeu cheio de entusiasmo: Nós tínhamos uma vaquinha e éramos muito apegados a ela. Ela era nossa fonte de sustentação e era também a nossa fonte de acomodação. Tínhamos medo de perdê-la e nosso esforço era todo para mantê-la. Um dia nós a encontramos morta no precipício. Depois de muito desespero e tristeza, tivemos que desenvolver inúmeras outras coisas, nossas habilidades e nossa energia foram colocadas em outras formas de ganhar a vida que nem sabíamos existir.

Tivemos sucesso e nossa vida melhorou muito. O discípulo voltou ao Mestre e pediu perdão por duvidar dele. Descobrir a própria vaquinha e atirá-la no precipício é a condição fundamental para nossa felicidade é prosperidade.

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