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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Paixão? Amor?

Distinguir a paixão do amor é fundamental para esquecermos o que séculos nos ensinaram como, por exemplo, em Romeu e Julieta, a morrer para provar o amor


09/01/2022 04:00 - atualizado 09/01/2022 08:07

desenho de um casal com um coração atras
O que é o amor e a paixão


“Apaixonei-me por um rapaz, há um ano. Foi uma loucura nosso relacionamento nesse período. Vivíamos exclusivamente um para o outro. Há um mês, ele terminou, após um período de esfriamento. Por que a paixão acaba? Estou sofrendo muito.”
Beatriz, de Belo Horizonte

A paixão é um sentimento parecido com o amor, mas não é amor. A paixão é um envolvimento excessivo na relação amorosa. O que caracteriza a paixão é basicamente a perda da própria identidade. Ou seja, eu entrego o meu coração totalmente ao outro e perco a minha individualidade.

Na verdade a paixão é um certo enlouquecimento. Todos nós temos uma “ferida” que é o medo do abandono, por isso temos a necessidade de nos apegarmos a alguém. Tudo isso é apreendido pela nossa cultura e é uma forma de loucura. Quando a pessoa está apaixonada, ela perde a identidade.

Ela já não respira sem o outro, não se alimenta direito sem o outro, pensa nele o tempo todo. Torna-se quase uma obsessão contínua. Apesar de a paixão ter sido muito enaltecida pelos poetas, ela é considerada uma forma mais branda de enlouquecimento.
 
A paixão vem do latim patere que significa sofrer. Por isso é que há tanto sofrimento no relacionamento apaixonado. Como o amor é um estado de paz, de alegria e de tranquilidade, qualquer sentimento que nos inquieta e nos faz sofrer está na contramão do amor.

O que nos confunde na paixão é que ela não é só sofrimento, é misturada com momentos de extremo prazer, principalmente na área sexual. Daí a tendência para confundi-la com o amor. A paixão é um veneno envolvido em mel. No começo é dor e prazer. Esgotando o mel sobram a dor e a indiferença. Paixão é fogo de palha.

Por outro lado, a paixão indica um desejo de amor e podemos transformar a paixão em amor. Quando você recupera sua identidade e consegue transformar a paixão em algo mais calmo, começa a ter o seu próprio espaço e tempo. Quando você consegue uma certa separação do outro, a paixão pode se tornar amor.

Como fazer isso? Devolvendo a autoestima. Gostando mais de você mesmo. Assim, o amor ao outro é um transbordamento do seu próprio amor. É o amor é que nos sara da loucura. Como diz Guimarães Rosa, “qualquer amor, por menor que seja, é um descaso na nossa loucura”.

As pessoas com baixa autoestima, normalmente se apaixonam mais facilmente pelo outro. São as pessoas que têm mais medo de serem abandonadas, que têm muita necessidade de serem amadas. É uma carência de afeto. Elas têm de preencher o vazio delas. Por isto mesmo a paixão é sempre prejudicial.

Como a paixão ocorre a partir de nossas carências, de falta de amor próprio, ela mantém uma relação direta com a história de nossos abandonos ou carências infantis, pela ausência de amor dos pais. A paixão é mais comum na adolescência, mas pode ocorrer em qualquer idade.

A paixão como caminho para o amor é até natural que ocorra como pretexto para aprendermos a amar. O que não podemos é ficar infantilmente instalados numa ânsia de sermos amados, sem nos curar da paixão.

E a cura vem do amar a si mesmo, dos exercícios para elevar a autoestima. Sobretudo, ela se cura através do resgate da individualidade. Cada um de nós é absolutamente único, é uma possibilidade no mundo. Cada um tem o seu destino a ser traçado, o seu caminho. Cada um é responsável pelo desenvolvimento e autorrealização.

É a partir daí que eu encontro com o outro e vou construir junto dele. Eu quero o outro não para me preencher, me fazer feliz. A cura da paixão se situa num trabalho psicológico em que eu exista cada vez mais como eu. Há um autor da Gestalt que diz “eu sou eu e você é você”. Na verdade, a cura para paixão é o verdadeiro amor.

O amor é crescimento, é libertação e não posse, domínio, controle.

Distinguir a paixão do amor é fundamental para esquecermos o que séculos nos ensinaram como, por exemplo, em Romeu e Julieta, a morrermos para provar o amor.

Só assim não acharemos natural misturar a dor e o amor.

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