Fogos de artifício no Réveillon exigem atenção redobrada com cães e gatos
A explicação está na audição extremamente sensível de cães e gatos, muito mais aguçada do que a dos humanos
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A virada do ano é tradicionalmente marcada por celebrações, roupas brancas, brindes e fogos de artifício. Para cães e gatos, porém, esse momento pode representar um dos períodos mais críticos do ano em termos de saúde física e emocional.
O barulho intenso e imprevisível dos estampidos é capaz de desencadear crises de ansiedade, pânico e uma série de consequências que vão muito além do susto inicial.
Segundo a WeVets, grupo de saúde veterinária, os atendimentos de urgência relacionados ao estresse provocado por fogos aumentam significativamente no Réveillon, sobretudo entre cães idosos, filhotes e animais já sensíveis a ruídos. A médica-veterinária e coordenadora clínica da WeVets, Renata Tolezano, explica que o impacto pode ser grave.
“O impacto, além de emocional, pode ser físico, pois em situações de pânico, o cão pode se ferir tentando fugir, atravessando janelas, rompendo cercas ou manifestando alterações respiratórias ou cardíacas, principalmente se já houver doença pré-existente”, alerta.
A explicação está na audição extremamente sensível de cães e gatos, muito mais aguçada do que a dos humanos. Os fogos são percebidos como ameaças reais, desencadeando reações imediatas de estresse agudo. Entre os sinais mais comuns estão:
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tremores, salivação e respiração ofegante
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vocalização excessiva e inquietação
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tentativas de se esconder ou fugir
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perda de controle urinário
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comportamentos agressivos ou desorientação
Estudos reforçam a dimensão do problema. Dados do The MIT Press Reader indicam que até 50% dos cães apresentam medo dos fogos, com manifestações que variam de ansiedade intensa a pânico. No Brasil, mais de 60% dos animais domésticos demonstram reações de estresse durante os estampidos. Em quadros mais severos, o estresse pode evoluir para taquicardia, convulsões, danos auditivos e acidentes graves, especialmente quando o animal tenta escapar em desespero.
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Medidas preventivas
A recomendação dos especialistas é que os tutores se antecipem e adotem medidas preventivas antes da noite da virada. Criar um ambiente seguro e acolhedor faz diferença. Entre as orientações estão:
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manter portas e janelas fechadas e protegidas, evitando fugas
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deixar o pet em um espaço silencioso e familiar
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usar sons contínuos, como televisão ou música em volume moderado, para abafar os ruídos externos
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disponibilizar camas, cobertores e brinquedos conhecidos, que ajudam a transmitir segurança
Sempre que possível, os animais não devem ficar sozinhos durante a queima de fogos. A presença do tutor pode reduzir a ansiedade, desde que o comportamento seja natural e tranquilo. “Abraçar ou tentar acalmar de forma ansiosa pode reforçar a percepção de perigo. O ideal é agir com naturalidade e manter a rotina o mais estável possível”, orienta Renata Tolezano.
O uso de medicamentos ansiolíticos ou calmantes pode ser indicado em alguns casos, mas apenas com prescrição médico-veterinária. A automedicação é considerada perigosa e pode causar intoxicações graves.
Para animais com histórico de pânico severo, o acompanhamento profissional é fundamental, com estratégias comportamentais e suporte clínico adequado.
Além dos cuidados imediatos, a identificação dos pets é outro ponto essencial. Coleiras com plaquinhas e dados atualizados aumentam as chances de reencontro caso o animal fuja assustado.
Chega de fogos
O cenário também é confirmado por uma pesquisa da Petlove realizada com o público geral e médicos-veterinários dentro da campanha “Chega de Fogos”. O levantamento mostra que 84% dos animais têm medo dos rojões e que 66% dos respondentes afirmaram que seus pets já fugiram ou conhecem algum animal que fugiu por causa do barulho. Entre os veterinários, 54% afirmaram atender frequentemente pets com problemas de saúde ou comportamento diretamente relacionados aos fogos em épocas comemorativas.
De acordo com os profissionais entrevistados, as consequências mais relatadas incluem:
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ansiedade ou medo extremo (91%)
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taquicardia e sinais de estresse fisiológico (72%)
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fugas, perdas ou atropelamentos (65%)
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comportamento destrutivo e ferimentos (48%)
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lesões traumáticas, como fraturas e contusões (44%)
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sinais gastrointestinais por estresse, como vômito e diarreia (40%)
Além disso, 64% dos veterinários já observaram casos em que o pavor evoluiu para transtornos de comportamento crônicos, ultrapassando o período das comemorações.
O médico-veterinário da Petlove, Pedro Risolia reforça a importância do preparo do ambiente e do acolhimento adequado. Ele recomenda oferecer petiscos, brinquedos e espaços favoritos, manter portas e janelas fechadas e utilizar música para mascarar os ruídos.
“Se o pet tem medo ou pânico, é ainda mais importante consultar um profissional que possa checar a necessidade de medicamentos e apontar ações que gerem bem-estar. É comum o pavor e ele não deve ser contido, de maneira alguma, com agressões físicas ou gritos, que só pioram a situação”, destaca.
Quando o tutor não pode estar presente, situação comum em viagens de fim de ano, a orientação é deixar cães e gatos sob os cuidados de alguém de confiança ou em serviços especializados. Segundo Risolia, a procura por hospedagem e cuidados para pets aumenta cerca de 60% durante férias e feriados, refletindo a busca por alternativas mais seguras.
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A pesquisa da Petlove também mostra uma mudança na percepção da sociedade sobre o uso de fogos. Para 58,3% dos entrevistados, apenas fogos silenciosos deveriam ser permitidos, enquanto 39% defendem a proibição total. Entre os tutores, 75% afirmaram que já deixaram de levar seus pets a ambientes com fogos no fim de ano devido à poluição sonora.