Pós-menopausa: uma em cada cinco mulheres tem distúrbios do sono
Problemas de sono nessa fase da vida foram associados a sintomas vasomotores (como ondas de calor), uso de psicotrópicos, obesidade e outras comorbidades
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A ideia de dormir oito horas por dia parece um sonho inatingível para muitas mulheres no pós-menopausa. Pelo menos é o que diz um estudo latino-americano publicado em agosto no periódico Climacteric, que mostra que 20,6% das mulheres nessa fase da vida relataram distúrbios do sono.
“Dentre esses distúrbios, particularmente a insônia é altamente prevalente e impacta significativamente a qualidade de vida de mulheres na menopausa. Os distúrbios do sono estão frequentemente associados às flutuações hormonais e aos sintomas vasomotores (como ondas de calor e suores noturnos) associados à menopausa. Além disso, uso de psicotrópicos, obesidade, outras comorbidades e a não realização de terapia hormonal também têm relação com o problema”, explica a ginecologista, com título de especialista em ginecologia e obstetrícia (TEGO), Ana Paula Fabricio.
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“Estamos falando de um problema que impacta não só na qualidade de vida, na medida em que deixa a paciente menos produtiva, mais sonolenta e cansada durante o dia, mas que também é associado a um risco aumentado de problemas cardiovasculares e mortalidade”, complementa a médica.
O estudo coletou dados sociodemográficos e clínicos de mulheres latino-americanas e avaliou a presença de distúrbios do sono. O trabalho incluiu 1185 mulheres na pós-menopausa com idade média de 56,9, índice de massa corporal (IMC) de 26,5kg/m² e 8,6 anos desde a menopausa.
“No geral, uma a cada cinco (20,6%) relata distúrbios do sono. Em comparação com aquelas sem problemas de sono, as mulheres afetadas tiveram maior duração na pós-menopausa, IMC mais alto, eram mais frequentemente fumantes e donas de casa e tinham mais comorbidades. Elas também eram menos propensas a ter um parceiro ou ter usado terapia hormonal na menopausa. Os distúrbios do sono também aumentaram proporcionalmente com a gravidade de sintomas vasomotores, como ondas de calor e suores noturnos”, explica a médica.
Segundo o otorrinolaringologista, especialista em medicina do sono e coordenador científico do grupo Bonviv Brasil, Paulo Reis, durante a menopausa, a queda nos níveis de estrogênio e progesterona afeta diretamente o sono, aumentando o risco de insônia, roncos e apneia do sono.
“A progesterona tem efeito relaxante, e sua redução pode aumentar a dificuldade para adormecer. Já a diminuição do estrogênio interfere na regulação da temperatura corporal e do humor, favorecendo sintomas como os fogachos, ondas de calor intensas que despertam a mulher várias vezes durante a noite. Além do mais, após a menopausa a mulher aumenta, em muito, o risco de apneia do sono que afeta diretamente a qualidade do sono, levando a noites fragmentadas e menos restauradoras. Muitas mulheres relatam acordar cansadas, mesmo após várias horas de sono, porque não conseguem atingir as fases mais profundas e reparadoras do descanso”, esclarece Paulo Reis.
“Sobre o estudo, é importante contextualizar que em muitos países latino-americanos, o uso de terapia hormonal é relativamente baixo em comparação com outras regiões, e as mulheres frequentemente recorrem a terapias alternativas, como remédios fitoterápicos. E sabemos que a terapia hormonal pode melhorar a questão dos sintomas vasomotores e também melhorar a qualidade do sono”, diz Ana Paula.
Além da reposição hormonal, a ginecologista explica que abordagens como terapia cognitivo-comportamental para insônia e modificações no estilo de vida também são fundamentais. “A terapia hormonal pode ajudar a reduzir os sintomas que atrapalham o sono, especialmente os fogachos e a irritabilidade. Porém, ela não é suficiente sozinha. O sono depende também de hábitos diários, da saúde emocional e da presença ou não de distúrbios associados, como a apneia do sono, que se torna mais comum nessa fase da vida”, aponta Paulo Reis.
“Estratégias importantes para combater a insônia incluem: estabelecer uma rotina, com horários regulares para dormir e acordar; criar um ambiente propício (quarto escuro, silencioso e fresco); evitar cafeína e álcool; praticar exercícios físicos (mas evitar fazer perto da hora de dormir); e adotar técnicas de relaxamento como meditação e yoga”, diz Ana Paula Fabricio.
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“O tratamento ideal é integrado: a reposição hormonal pode ser uma aliada importante, mas precisa caminhar junto com práticas de higiene do sono, avaliação médica individualizada e, em alguns casos, acompanhamento especializado para identificar outras causas de insônia”, completa Paulo Reis.
“Se a insônia persistir e interferir na qualidade de vida, é fundamental buscar ajuda médica de um ginecologista ou médico do sono para identificar a causa e receber o tratamento adequado”, reforça Ana Paula.