Estresse crônico afeta a saúde cerebral de diversas maneiras, podendo aumentar o risco para vários problemas mentais  -  (crédito: Freepik)

Estresse crônico afeta a saúde cerebral de diversas maneiras, podendo aumentar o risco para vários problemas mentais

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Pesquisa publicada na revista Annals of Neurology revela que eventos como perda de emprego ou divórcio podem levar a uma inflamação cerebral, associada ao risco elevado de Alzheimer. A pesquisa, realizada em Barcelona, envolvendo mais de mil participantes, examinou a correlação entre a experiência de eventos estressantes específicos e biomarcadores de Alzheimer, como a neuroinflamação. Embora a hipótese inicial não tenha sido totalmente confirmada, descobriu-se que tais eventos na meia-idade estão ligados ao acúmulo da proteína betamiloide no cérebro.

Esse estudo, ainda preliminar, reforça a importância de abordar o estresse como um fator significativo para a saúde neurológica, sugerindo que intervenções focadas no gerenciamento do estresse podem oferecer proteção contra o desenvolvimento de demências. Essa não é a primeira pesquisa que indica que experiências estressantes na fase intermediária da vida podem ter um impacto significativo na saúde mental a longo prazo, aumentando as chances de Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas.

Segundo a médica geriatra da Saúde no Lar, Simone de Paula Pessoa Lima, o estresse crônico afeta a saúde cerebral de diversas maneiras, podendo aumentar o risco para vários problemas mentais. “Esse efeito se deve, em parte, ao aumento dos níveis de cortisol, que pode modular o funcionamento do cérebro ao longo do tempo. A associação de estresse e depressão já foi confirmada por diversos estudos. Expandir essas alterações para associação com doença de Alzheimer é bem plausível.”

O Alzheimer

Alzheimer é um tipo de demência que afeta inicialmente a memória, o pensamento e o comportamento. É progressiva e degenerativa, o que significa que os sintomas pioram com o tempo, afetando a capacidade da pessoa de realizar tarefas diárias. As causas exatas, segundo a geriatra, ainda não são completamente compreendidas, mas a doença envolve uma combinação de fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida.

“O risco de desenvolver Alzheimer aumenta significativamente após os 65 anos, bem como a presença de certos genes, como o APOE 4, que aumentam a probabilidade de desenvolvimento da patologia. Temos também o fato de pessoas com pais ou irmãos com a doença terem maior risco. Fatores como obesidade, sedentarismo, tabagismo, hipertensão arterial, diabetes e colesterol alto, estresse crônico, depressão, isolamento social e baixo nível de educação.

Diagnóstico

O diagnóstico é realizado por exclusão de outras condições que podem também afetar a memória e avaliação cognitiva (testes). Exames específicos são usados para ajudar quando há dúvida de diagnóstico e não servem para rastreio da doença. O processo inclui avaliação dos sintomas, histórico familiar e condições de saúde; da memória, do raciocínio, habilidades visuais-espaciais e outras funções; exames físicos e laboratoriais e imagens cerebrais.

Tratamento

Embora não haja cura, há tratamentos que podem ajudar a tornar mais lenta a progressão da doença. O tratamento também abrange os sintomas que o paciente apresenta. Simone fala sobre medicamentos inibidores da colinesterase (como Donepezila e Rivastigmina) e memantina, que podem ajudar a melhorar ou estabilizar os sintomas por algum tempo.

“Temos também exercícios físicos e atividades que estimulam a mente, podendo melhorar a qualidade de vida do paciente. Alguns casos merecem intervenções mais específicas como terapia ocupacional, fonoterapia ou fisioterapia. Grupos de apoio, aconselhamento e planejamento de cuidados a longo prazo são essenciais para pacientes e cuidadores.”

Cuidados e prevenção

Para reduzir o risco de desenvolver Alzheimer, é crucial adotar estratégias para gerenciar o estresse eficazmente. Isso inclui praticar exercícios regulares, manter uma dieta saudável, envolver-se em atividades que promovam relaxamento e bem-estar mental, como meditação e yoga.

“Também é importante manter um ambiente social ativo e buscar apoio em terapias ou grupos de suporte. Medidas preventivas como estas podem não apenas melhorar a qualidade de vida, mas também diminuir a probabilidade de desenvolver demências relacionadas ao envelhecimento”, indica.