Oposição a Zema aceita conciliação sobre concessão de estradas na Grande BH
Projeto do estado que previa 12 praças de pedágio nas rodovias do Vetor Norte da Região Metropolitana de BH foi suspenso pelo TCE em abril
compartilhe
Siga no
O bloco de oposição ao governador Romeu Zema (Novo) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) enviou um ofício na noite desse sábado (9/8) ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG) concordando com uma mesa de conciliação para debater a ação que suspendeu a concessão das rodovias do Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Cabe agora ao conselheiro Agostinho Patrus, relator do processo, abrir a negociação.
O documento enviado para o TCE foi assinado pelo deputado Ulysses Gomes (PT), líder do bloco Democracia e Luta. Na peça, o parlamentar ressalta que inicialmente seu entendimento pessoal era de “impossibilidade técnica de composição sobre o tema”, mas a decisão dos demais membros da oposição foi pela conciliação.
Leia Mais
“Após discussão interna com os demais deputados que integram o bloco Democracia e Luta, por respeito aos cidadãos mineiros e ao devido processo legal, consentimos com a designação de audiência de conciliação”, escreveu Ulysses Gomes.
A privatização das rodovias no Vetor Norte da Grande BH (MG-010, MG-424 e LMG-800) era um dos principais projetos da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade e Parcerias (Seinfra) no ano, com o edital publicado ainda em fevereiro. O projeto previa a instalação de 12 praças de pedágio em pouco mais de 124 km de rodovias de Belo Horizonte até Sete Lagoas, com tarifas que variavam de R$ 1,45 a R$ 5,57.
- PL tenta manter Eduardo Bolsonaro apesar da insatisfação de filiados
- Vice-secretário dos EUA diz que Moraes destruiu relação do país com Brasil
Contudo, o processo foi suspenso pelo TCE em abril, após uma representação articulada pela deputada Bella Gonçalves (Psol) junto ao bloco de oposição ao governo do estado. A parlamentar chegou a apresentar um relatório demonstrando que a arrecadação tarifária prevista com a concessão se concentra em 53,19% no deslocamento entre BH e Vespasiano. Nesse trecho, de acordo com dados da Agência da RMBH, órgão do governo estadual, 76,8% do tráfego são feitos por cidadãos que recebem até três salários mínimos.
O conselheiro Agostinho Patrus aceitou a ação dos deputados. Segundo ele, os principais problemas do projeto são tarifas consideradas excessivas para a população e a “realização inadequada” das audiências públicas que deveriam ser base para a licitação. Patrus ainda considerou como ponto crítico a falta de equilíbrio entre a “atratividade econômica para investidores” e a “justiça tarifária” para os usuários.
O Palácio Tiradentes tentou reverter a liminar da Corte de Contas no Tribunal de Justiça (TJMG), mas também não teve sucesso. Em junho, quando o edital já havia perdido a validade sem a realização de um leilão, o estado voltou a recorrer ao TCE pedindo a abertura de uma mesa de conciliação.
Consulta popular
Ao Estado de Minas, a deputada Bella Gonçalves disse que o bloco de oposição sempre esteve aberto ao diálogo, e afirmou que foi o governo quem “se furtou da democracia ao não consultar a população, prefeitos, vereadores e moradores do vetor norte”. “Claramente a gente topa um processo de conciliação. Só que a conciliação que tem que acontecer não é com o bloco de parlamentares, mas com quem a gente representa, que é o povo”, disse.
A parlamentar destaca que o papel do bloco na mesa será defender os mecanismos democráticos de consulta popular, e lutar para que o interesse da população da região seja garantido. Como o edital perdeu a validade e outro não foi publicado, ela ainda acredita que o assunto está “esvaziado” e a mesa servirá para dar base a possibilidade futura de um novo processo de concessão. “E claro que nós queremos participar desse processo”, emendou.
- Na disputa por Minas, Cleitinho larga na frente na corrida digital
- Ao se lançar ao Planalto, Zema repete feito tentado pela última vez por JK
“Quando a gente critica o Estado por ausência de democracia na condução dos processos, é porque a gente quer que o Estado melhore. Só o processo democrático de verdade pode dizer se a população concorda ou não com a proposta da instalação dos pedágios. Eu continuo acreditando que a população não concorda, mas um processo informado de participação vai dizer melhor do que eu qual caminho a gente deve tomar”, completou Bella Gonçalves.
O edital de concessão previa a instalação de pórticos de cobrança em distâncias curtas entre si Na MG-010, por exemplo, seriam quatro praças, sendo que a menor distância era entre o ponto instalado no KM 17,4 entre BH e Vespasiano (R$ 1,68), e o instalado entre Vespasiano e Lagoa Santa (R$ 2,96) no KM 28,5. O argumento da Seinfra era que o modelo onerava o motorista apenas pelo trecho trafegado e não por toda a concessão.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Em contrapartida, a pasta esperava que a concessão atraísse R$ 5 bilhões de investimentos. O edital previa a duplicação ou a construção de faixas adicionais em 44 km de estrada, 31 novos viadutos e pontes, a recuperação de mais 20 e a construção de 26 passarelas. O maior destaque ficava com as grandes obras de engenharia: a construção de três estradas nos contornos de Lagoa Santa, Matozinhos e Prudente de Morais.
Após pressão de deputados e vereadores da região, Zema atendeu a um pedido do presidente da Assembleia, Tadeu Leite (MDB), e havia determinado a revisão da licitação. O governo previa isentar de cobrança os motoristas que passam mais de uma vez pelo mesmo pórtico de cobrança, no mesmo dia e no mesmo sentido, mas a proposta não foi formalizada antes da suspensão do processo.