Sistema de água que abastece a Grande BH está próximo a 40%
Volume do Sistema Paraopeba, que inclui três reservatórios, está em 46,6%. Apesar disso, especialistas dizem que situação ainda não é perigosa
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O nível dos reservatórios do Sistema Paraopeba, que abastece a Região Metropolitana de Belo Horizonte, está abaixo de 50%. Até esta segunda-feira (29/12), o índice, de acordo com a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), era de 46,6%. Apesar de baixo, especialistas ouvidos pelo Estado de Minas avaliam que a situação ainda não é perigosa, uma vez que os próximos meses, normalmente, são de chuvas intensas. Enquanto isso, em Contagem, na Grande BH, em meio ao calorão, famílias enfrentam o quinto dia sem água.
O Sistema Paraopeba é composto por três reservatórios: Rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores. As estruturas estão localizadas em seis cidades da região metropolitana - Brumadinho, Juatuba, Ibirité, Mateus Leme, Contagem e Betim - e, segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, é responsável pelo fornecimento de água para cerca de 3,5 milhões de pessoas.
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Em outubro, logo no início do período chuvoso, o EM mostrou que, apesar das precipitações, o armazenamento de água nas represas tiveram redução de 11,57% no volume de operação. Na época, o índice passou de 67,4% - em 31 de agosto - para 59,6% no fim de setembro. Três meses depois, a queda persiste, com menos 21,8%.
De acordo com a Copasa, a represa com menor volume é Rio Manso. Até esta segunda-feira, o nível da estrutura era de 30,9%. Apesar disso, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba, Heleno Maia, explica que, até o momento, a situação não chega a ser uma preocupação. Ele explica que, normalmente, o acumulado da primeira quinzena de janeiro que dita se o restante do ano será de atenção para o fornecimento de água para as cidades da Grande BH, ou não.
Maia afirma que depois do período, caso os reservatórios não estejam até 50% é preciso começar a pensar em ações a longo prazo, como um possível racionamento. “Normalmente, os meses finais do ano não incluem volumes significativos nos reservatórios. Por isso, nossa preocupação começa a partir da segunda quinzena de janeiro”.
Procurada, a Copasa afirmou que os níveis dos reservatórios permanecem “dentro da normalidade” para a época do ano. A companhia ainda explicou que a oscilação dos níveis, com esvaziamento no período seco e recomposição no chuvoso, faz parte do ciclo operacional esperado para as estruturas. Apesar disso, a estatal afirmou que as condições climáticas extremas, como altas temperaturas e baixa umidade, podem elevar o consumo e causar instabilidades no abastecimento.
“Graças ao volume atual armazenado e ao consumo consciente da população, a Copasa assegura a continuidade do abastecimento, sem risco imediatos de desabastecimento”, afirmou em nota.
Longe da catástrofe
Os índices registrados no fim de setembro, logo após o início do período chuvoso, abaixo de 60% , também foram registrados em 2018, período em que, segundo a Copasa, é considerado um dos piores da série histórica da Grande BH. Na época, em primeiro de dezembro, o volume do Sistema Paraopeba foi de 68,1%. O pior registro entre 2018 e 2025 no início do último mês do ano foi em 2019, com 45,6%. Apesar disso, no fim da época das chuvas, em março de 2020, as represas estavam com mais de 99% do volume total ocupado.
Para o professor Luiz Rafael Palmier, do Centro de Pesquisas Hidráulicas e Recursos Hídricos (CPH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a atual situação do complexo de barramentos hídricos responsáveis pelo abastecimento da região metropolitana não é um presságio de catástrofe hídrica. Ele afirma que, apesar de o índice não estar ideal, ainda faltam três meses para o fim das chuvas e, normalmente, nesse tempo a expectativa é de precipitações fortes com grandes volumes.
“Nós temos que nos preocupar com a situação dos reservatórios no final do período chuvoso, caso os níveis estejam baixos. Se não tivermos chuvas significativas, pode haver um problema. Mas, olhando a situação, com as perspectivas de chuva, o cenário não é catastrófico”, afirma Palmier.
No entanto, ele diz que a população não deve baixar a guarda, e faz um apelo quanto à responsabilidade no consumo de água. “É fundamental que haja uma preocupação com o consumo de água. Quando se lava o carro [com mangueira], deixando a torneira aberta, a água está indo direto para o sistema de drenagem sem ser usada de forma inteligente. A pessoa está desperdiçando água, embora esteja pagando por ela”, alerta.
Falta d’água
Em Contagem, na Grande BH, moradores do Bairro Nova Contagem estão a cerca de nove dias sem água. Esse é o caso de Lucianne Rafaella, que com os dois filhos pequenos tem enfrentado o desabastecimento como pode. Ao Estado de Minas, ela contou que esta não é a primeira vez que algo semelhante acontece e que ao longo do ano o serviço ficou instável, com dias com apenas ar nas torneiras.
“Nós ficamos de mãos atadas. Tem dias que, durante a madrugada, a água chega bem pouco na torneira que vem da rua, mas não tem força suficiente para subir para a caixa d’água”, explica.
Lucianne afirma que durante os cinco dias, quem tem condições passou a comprar garrafas e galões do insumo. No entanto, essa não é a realidade de todos. “É uma falta de respeito por parte da Copasa. Estamos sem dignidade e não estamos tendo o básico para viver”.
Com as vasilhas acumulando na pia, a moradora explica que sua prioridade é seus filhos que, por serem pequenos, não entendem a situação. “Nos deixaram na mão, principalmente neste período de férias, que as crianças estão em casa. Está muito calor e elas sempre estão pedindo água ou para tomar banho”.
Em nota, a Copasa afirmou que o abastecimento foi interrompido para a realização de uma manutenção em um registro na rede hídrica entre as ruas Estância do Retiro e Retiro Campestre, no Bairro Nova Contagem. De acordo com a companhia, por isso, seis bairros de Contagem e 11 em Esmeraldas, também na Grande BH, tiveram “intermitência” no fornecimento.
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“A Copasa destaca que o calor intenso prejudicou a recuperação do sistema, mas que o mesmo já encontra-se em normalização e a previsão é que o abastecimento de água seja normalizado no decorrer desta segunda-feira (29/12)”, concluiu a estatal em nota.