Operação investiga quatro assassinatos e cinco tentativas de homicídio
Quatro organizações criminosas ligadas ao Rio de Janeiro operam em Caeté, de acordo com a Polícia Civil do município
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Um trabalho da Polícia Civil de Caeté, que dura 12 meses, resultou no esclarecimento de quatro homicídios, sendo um deles com uma vítima transsexual, e na prisão de oito pessoas, além de quatro tentativas de homicídios. Todos os crimes estão ligados à guerra do tráfico de drogas, que inclui as gangues CDE, CDI, Tropa do Stanley e CDC, ligadas a facções do Rio de Janeiro, por pontos de tráfico de drogas, principalmente nos bairros Emboabas e São Geraldo, e vinganças decorrentes.
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O desvendamento e as prisões foram possíveis a partir da identificação de um aplicativo de WhatsApp denominado grupo LETRA B (de ''bandidos'', como os próprios integrantes se identificam), que conta com 270 membros, todos envolvidos com crimes, sobretudo tráfico de drogas.
Tais investigações deram início à primeira etapa da operação “Bellum ad Vitam” (guerra da vida), que teve acompanhamento e estrito apoio do Promotor de Justiça Allender Barreto Lima da Silva, e colaboração da PMMG. Os resultados obtidos possibilitaram a realização da segunda etapa, objetivando identificar todos os demais integrantes do grupo LETRA B, responsabilizando-os criminalmente pelos atos decorrentes, segundo o delegado Cláudio Freitas Ustch, chefe da Delegacia de Polícia Civil de Caeté.
Na Santa Casa
O primeiro crime a ser esclarecido foi o que teve como vítima Tiago Ferreira dos Santos, vulgo “Tiago TG”, de 22 anos, na noite de 30 de dezembro de 2024, morto quando estava no Pronto Atendimento da Santa Casa de Caeté, na região central da cidade.
Populares que estavam no local contam que um jovem deu entrada no Pronto Atendimento e foi atingido por dois disparos de arma de fogo efetuados por um motociclista (com garupeiro), vindo a morrer. A vítima, Tiago, tinha levado um tiro no Bairro Emboabas e, devido ao ferimento, foi levado por um outro motociclista para a Santa Casa, onde levou dois outros tiros.
Na casa da mãe
O segundo homicídio esclarecido teve como vítima Thiago Mateus Fernando de Fátima da Silva, conhecido por “Pelau”, de 33 anos, na noite de 7 de março deste ano.
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Ele era motociclista e foi morto a tiros por dois homens em uma moto, quando chegava à casa de sua mãe, no Bairro São Geraldo, em Caeté. Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Militar, à época, que foi chamada pela tia da vítima, ela estava na casa da irmã no momento do crime, e contou que ouviu um barulho de moto e de tiro. Quando foi verificar, viu o sobrinho caído ao chão.
Quando os militares chegaram ao local, encontraram o homem, sem sinais vitais aparentes. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e o médico de plantão constatou a morte no local.
Conforme a perícia, o homem foi atingido por cinco disparos de munição de calibre .40 milímetros. Três deles atingiram as costas e dois o abdômen. Próximo ao corpo, foram encontradas nove cápsulas da mesma munição.
À PM, a companheira do homem relatou que ele havia recebido uma ligação pedindo que fosse à casa da mãe dele, mas não sabe quem fez a ligação. Após as investigações, segundo o delegado Cláudio Freitas Ustch, descobriu-se que Thiago tinha envolvimento com o tráfico de drogas de Caeté.
Foi importante, segundo o policial, o fato de existirem câmeras de segurança no local, que mostraram o momento em que a vítima chegava de moto e foi abordada por dois suspeitos em outra moto. Eles se aproximaram e efetuaram os disparos contra o motociclista, que caiu. Na sequência, os suspeitos deram meia-volta e fugiram do local.
No bar
O assassinato de Cleiton Fernando dos Santos Silva, de 24 anos, no início da noite de 3 de abril de 2015, foi o terceiro caso esclarecido pela polícia. Ele morreu depois de ser atingido por 10 tiros em um bar, no Bairro Emboabas. Segundo testemunhas, o suspeito chegou ao local de moto, atirou contra a vítima e fugiu.
O corpo de Cleiton teve múltiplos ferimentos e ficou estendido na porta do bar. Segundo a perícia, os disparos atingiram o rosto, a cabeça, a nuca e um dos ombros da vítima.
No dia, testemunhas relataram aos policiais que o jovem estava no bar quando um suspeito que usava capacete e blusa de frio chegou de moto. Ele atirou contra o jovem e fugiu. Nenhuma pessoa que estava no bar soube identificá-lo.
Novamente, foram importantes as câmeras de segurança, que registraram toda a ação. As imagens mostram a vítima segurando um celular nas mãos quando foi atingido, mas o aparelho não foi encontrado.
Uma testemunha passou um nome aos policiais, dizendo que o homem poderia ser o suspeito do homicídio em razão de uma questão com o tráfico de drogas. Os policiais o encontraram na casa da namorada, na Comunidade São Geraldo, em Caeté, mas ele foi liberado por não haver nenhum elemento que o ligasse ao crime.
A morte da trans
Kelly Keyze Rosa da Silva, de 32 anos, foi assassinada na madrugada de 17 de abril de 2022. Um dos suspeitos de cometer o assassinato foi preso pela Polícia Militar.
Ao ser preso, o homem disse ter agido junto com um comparsa, que foi identificado pela PM, mas seguia foragido. O suspeito preso contou que o crime foi cometido por ele e um outro homem. Ambos efetuaram mais de 10 disparos em direção ao corpo de Kelly Keyze Rosa da Silva, de 32 anos.
A versão se mostrou conflitante com o que estava sendo investigado anteriormente, quando seis homens eram suspeitos de participar da ação.
Na época, os policiais encontraram duas armas de fogo, maconha, crack e cocaína em um endereço utilizado pelos suspeitos como esconderijo para esconder os acessórios do crime.
Kelly estava junto com o irmão em um bar, no Bairro Emboabas, quando foi surpreendida pelos criminosos, que chegaram atirando. A vítima foi atingida nas costas, pescoço, peito, nádegas, braços esquerdo e direito.
Tentativas
Outros quatro crimes, todos de tentativas de homicídio, com um total de cinco vítimas, também são atribuídos à guerra do tráfico e cometidos por integrantes das quatro gangues: CDE, CDI, Tropa do Stanley e CDC.
Num dos crimes, houve um erro, pois a vítima eleita era Yuri Augusto Fonseca de Jesus, de 22 anos. No entanto, os atiradores erraram a vítima e acertaram Ítalo Santos Damasceno, também de 22, e Pedro Henrique Moreira, de 30. Os autores são ligados ao tráfico de drogas, mas as vítimas, não. O objetivo da ação seria o assassinato de Yuri por vingança.
Outra vítima que escapou da morte foi João Matheus dos Reis Silva, de 18 anos, baleado em 22 de março deste ano. Em 10 de maio de 2025, a vítima de homicídio foi o adolescente B. F. S. Procópio, de 17 anos. Em 22 de outubro último, a vítima de tentativa de homicídio foi Ryander Lucas Dias Pereira, de 18.
Operação
A Operação “Bellum ad Vitam” (guerra da vida) teve o apoio da Polícia Civil e do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), através do promotor Allender Barreto Lima da Silva, que trabalhou, ininterruptamente, com a Polícia Civil.
Pela PM, que atuou na segunda fase da operação, participaram o tenente Marcolino, os sargentos Lacerda, Gil, Afonso, Adeildo, cabo Melo e os soldado Dantas e João Dias.
A equipe da Polícia Civil foi formada pelos delegados Helton Cota Lopes, de Vespasiano; Felipe de Ornelas Caldas, de Sabará; e Cláudio Freitas Utsch Moreira, de Caeté, o coordenador da operação. As escrivãs Rosana Laureana da Silva e Gabrielle Machado Brum, e a equipe de detetives, formada por Henrique Moura, Eroebis de Andrade, Ângela Silva Guedes, Jefferson Marques de Moura, Vanderlei de Assis, Felipe Martins, Jeferson Conceição, Ednei Silva e Breno Cruz.
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