O típico período chuvoso já começou em Minas Gerais e trouxe com ele estragos em algumas cidades, como alagamentos, destelhamentos e quebra de pavimentação, além de queda de energia. A meteorologia indica que o período chuvoso atual, que vai até fevereiro, terá precipitações acima da média na Região Norte e Leste. Como medida preventiva, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) investiu cerca de R$ 4,7 bilhões para modernizar o sistema elétrico em 774 das 853 cidades mineiras – 90% do estado.

De acordo com a Cemig, o investimento inclui a entrega de novas subestações, sendo este o equipamento mais caro, com custo de R$ 15 milhões, conversão de redes, substituição de estruturas e instalação de equipamentos de automação em todo o estado, ampliando a confiabilidade e a capacidade operacional da rede. Além disso, o programa de manutenção total da empresa prevê R$ 1,37 bilhão em recursos até o fim deste ano.

De acordo com o vice-presidente de Distribuição da Cemig, Marney Antunes, o investimento em ações de prevenção são realizadas para fortalecer a confiabilidade do sistema elétrico, reduzir ocorrências e garantir um serviço mais eficiente e sustentável.

“Nós estamos aumentando as nossas bases de eletricistas para podermos atender mais rápido os clientes nesses eventos climáticos. Portanto, dizer que não é só a digitalização, a automação, é também [reforçar] as pessoas capacitadas. Nós estamos treinando muitas equipes para que todos nós estejamos preparados para fazer frente a esses fortes temporais”, diz.

Segundo o meteorologista da Cemig, Arthur Chaves, o aumento da intensidade das chuvas observadas em Minas Gerais e em outros locais no mundo é uma realidade para o futuro. Ele explica que os eventos climáticos ficarão cada vez mais severos em decorrência das mudanças climáticas e que, por isso, é necessário se preparar para as chuvas.

“A partir de novembro, que já tem bastante chuva, sobretudo nos últimos 10 dias [do mês] e há possibilidade de termos valores significativos, principalmente em dezembro e janeiro. Dezembro com uma previsão que está acima da média em relação a todas as regiões e janeiro em algumas, mas a tendência realmente é diminuir a partir de fevereiro. A gente tem, né, observado situações muito severas de essas chuvas muito fortes, às vezes com vento, com descargas elétricas”, disse o especialista.

Investimentos

Até setembro, foram aplicados R$ 993 milhões em ações preventivas e corretivas em redes aéreas, subterrâneas e de alta tensão, para reforçar a segurança e o fornecimento de energia durante o período chuvoso. Isso porque, conforme a Cemig, as chuvas intensas exige muito da rede elétrica, devido as rajadas de vento e quedas de árvores e galhos.

Na manutenção preventiva das redes aéreas de média tensão, foram destinados R$ 371 milhões no mesmo período. A companhia também realizou 718 mil podas de árvores, o que reduz significativamente o risco de interrupções provocadas pelo contato com os cabos, e inspecionou 158 mil quilômetros de rede.

Nas áreas rurais, 39 mil quilômetros de faixas de servidão foram limpos. Também se destacam os R$ 65 milhões aplicados na manutenção de estruturas, sendo R$ 38 milhões em atividades realizadas com a rede energizada, sem necessidade de desligamentos. Apenas na Região Metropolitana, foram investidos R$ 75 milhões, com a execução de 261 mil podas e 6 mil km de limpeza de faixa.

Além das ações de prevenção, a manutenção corretiva também vem sendo intensificada, garantindo maior agilidade e eficiência no atendimento às ocorrências. Até setembro, foram aplicados R$ 497 milhões e a expectativa é de que sejam realizados 1,96 milhão de atendimentos até o fim de 2025, dos quais 75% já foram concluídos. A Regional Centro lidera o número de registros, com 330 mil atendimentos.

Integração de setores

Mesmo com o investimento anunciado pela Cemig, a preparação para o período chuvoso demanda uma integração de diversos setores. A companhia firma uma ação conjunta com o Corpo de Bombeiros Militar (CBMMG), Defesa Civil municipais e estadual, Polícia Militar (PM) e Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). Segundo Marney, é necessário um trabalho compartilhado para sanar questões relacionadas aos eventos climáticos mais severos.

"Hoje, a Cemig, devido a essa grande intensidade de chuvas, fortes temporais que estão acontecendo cada vez mais com mais frequência, nós precisamos trabalhar juntos. Então o objetivo aqui é puramente a integração, estarmos cada vez mais próximos, já trabalhávamos juntos, como foi dito aqui antes, mas vamos nos aproximar cada vez mais", reforça Marney.

O chefe de Gabinete Militar e coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Paulo Roberto Resende, retoma o argumento e diz que a Cemig já era uma parceira do órgão estadual, mas que agora a contribuição será ampliada. Assim, a Defesa Civil pode combinar as ações com a cadeia logística da Cemig, que inclui veículos, bases operacionais e até um helicóptero.

"O desafio nosso não é adquirir mais bens para o estado ou para a Defesa Civil estadual, é a gente conectar esses parceiros de maneira que todos possam trazer as suas estruturas e os seus esforços para se somarem aos da Defesa Civil. É o que está sendo feito agora", diz o coordenador.

Atuação no período chuvoso

De acordo com a Cemig, o Centro de Operação da Distribuição (COD) e o Centro de Serviços Integrados (CSI) contam com um efetivo de 133 profissionais, como engenheiros e técnicos, para atender demandas emergenciais. Durante o período chuvoso, esse número pode subir 25%, chegando a 167. Em casos de ocorrências extremas, a quantidade pode saltar para 244.

A Cemig também conta com 503 bases operacionais em Minas Gerais em que 2.850 colaboradores atuam em dias normais. Nos períodos chuvosos, esse número pode chegar a 3,3 mil profissionais, cerca de 16% a mais. Já em situações climáticas extremas, a empresa pode mobilizar mais de 8,5 mil técnicos em campo, um acréscimo de 198% comparado ao efetivo regular.

Em relação aos equipamentos essenciais em situações de ocorrências em dias atípicos, a Cemig conta com 30 subestações móveis e 28 geradores de média e baixa tensão. Além disso, a companhia dispõe de dois helicópteros e 99 drones para inspecionar circuitos elétricos e agilizar o atendimento em ocorrências em locais de difícil acesso.

O superintendente de operação e segurança da Cemig, William Alves de Souza, diz que a companhia tem equipes localizadas em pontos estratégicos para o atendimento durante os eventos climáticos, para que a população não fique desabastecida de energia elétrica. Ele explica que o tempo de atendimento médio de atendimento varia, mas, a depender do tipo de ocorrência, fica em torno de 40 minutos. Quando a ocorrência é mais severa e exige deslocamento, o tempo pode ser maior.

“Há uma perspectiva meteorológica de um volume de chuvas que não é tão grande em relação a anos anteriores, mas chuvas muitas vezes concentradas e aí acompanhadas de rajadas de vento, de raios. Nossa meteorologia nos sinaliza que devemos nos preparar e estamos preparados para esse atendimento”, diz o superintendente.

Transtornos no Sul de Minas

Em meio aos investimentos para prevenção contra chuvas em Minas Gerais, os municípios de Boa Esperança, Guapé, Ilicínea e Coqueiral, localizados no Sul do estado, enfrentaram um temporal no último sábado (8/11) e tiveram queda de energia elétrica por mais de 30h. Conforme a Cemig, a situação foi normalizada às 20h desse domingo (9/11). O fornecimento foi interrompido devido à queda de uma torre da linha de distribuição que atende as cidades.

A companhia informou que equipes foram mobilizadas para localizar o defeito e reerguer a torre imediatamente. No entanto, conforme relatado por moradores da região afetada, a demora na solução do problema implicou em vários problemas para a população, como perda de alimentos, paralisação de comércios e outros transtornos. Ainda de acordo com a Cemig, geradores foram instalados para garantir o funcionamento dos serviços essenciais e minimizar os transtornos para a população até o restabelecimento completo do fornecimento de energia. Com as últimas chuvas, a cidade de Ilicínea entrou na lista de municípios em situação de anormalidade da Defesa Civil do estado.

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Segundo a última atualização do boletim do órgão estadual, publicado nesta segunda-feira (10/11), 25 cidades encontram-se em situação de emergência. Ainda de acordo com o balanço do órgão estadual, há 549 desalojados – pessoas que, por causa dos efeitos diretos do desastre causado pela chuva, precisaram desocupar suas casas e se deslocaram para casa de amigos ou parentes. Já o número de desabrigados – quando as pessoas precisam de abrigo público – até esta segunda, é de 82. No período chuvoso de 2025 a 2026, não houve mortes registradas.

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