Esposa de gari morto em BH diz que foi impedida de participar de audiência
Laudemir Fernandes e Liliane França moraram juntos por mais de quatro anos. Mesmo assim, viúva tem encontrado dificuldade para oficializar união estável
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Liliane França, viúva do gari Laudemir de Souza Fernandes, não pôde participar dos primeiros dias de audiência do homem acusado de matar seu marido. Nessa terça-feira (25/11), depois do primeiro dia de sessão, onde foram ouvidas testemunhas de acusação, a mulher foi às redes sociais desabafar sobre o impedimento. Laudemir foi morto em 11 de agosto, enquanto trabalhava na coleta de resíduos no Bairro Vista Alegre, na Região Oeste de Belo Horizonte. Renê da Silva Nogueira Júnior, empresário que o matou, é réu por homicídio qualificado, ameaça, porte ilegal de arma de fogo e fraude processual.
Ao Estado de Minas, Liliane contou que, apesar de morar com Laudemir há quatro anos e oito meses, desde sua morte tem lutado para ter a união estável reconhecida pela justiça. Ela explica que no atestado de óbito do marido constava o laço matrimonial, com uma observação de que não há documentação formal. “Nós não tínhamos urgência para ter o documento e sim queríamos conviver e cuidar um do outro”
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Pelas redes sociais, a viúva desabafou sobre o assunto. Ela afirmou que, por orientação de seus advogados, não compareceu ao Fórum Lafayette, onde as audiências de instrução aconteceram. “É muito doloroso perceber que, além de perder o amor da minha vida, eu ainda enfrento barreiras que me impedem de participar de um processo que diz respeito diretamente a nós, à nossa história e à nossa busca por justiça”, disse.
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Liliane ainda afirma que nunca imaginou que teria tanta dificuldade para reconhecer a união. Ela diz estar arrasada e confessa que tem se sentido “injustiçada” por não poder participar do processo. “Eu nunca deixei de participar dessa luta. Todos os dias batalho para que o meu Lau não seja apenas mais um. Cada manifestação, cada ato, cada culto em sua memória carrega em si o meu respeito, a minha dor e a minha resistência”, lamenta.
Como o crime aconteceu?
- Equipe de coleta de lixo trabalhava na Rua Modestina de Souza, Bairro Vista Alegre, em BH, na manhã do dia 11 de agosto.
- Motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, 42 anos, manobra para liberar passagem, após ver uma fila de carros se formar atrás dela.
- Eledias e os garis acenam para Renê da Silva, que dirigia um carro BYD, permitindo a passagem.
- O suspeito abaixa a janela e grita que, caso encostasse em seu veículo, ele iria "dar um tiro na cara" da condutora.
- Na sequência, ele segue adiante, estaciona, sai do carro armado; derruba o carregador, recolhe e engatilha pistola, segundo o registro policial.
- Ele faz um disparo que atinge Laudemir no abdômen.
- O gari é levado ao Hospital Santa Rita, em Contagem, na Grande BH, mas morre por hemorragia interna.
- No local, PM recolhe projétil intacto de munição calibre .380.
- Horas após o crime, a PM localiza e prende Renê no estacionamento de academia na Av. Raja Gabaglia.
- Flagrante convertido em prisão preventiva em audiência de custódia, no dia 13 de agosto, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais
- Renê está preso no Presídio de Caeté, Grande BH
Audiência de custódia
Renê da Silva Nogueira Júnior foi ouvido pela Justiça na manhã desta quarta-feira (26/11). Além dele, outras quatro testemunhas prestaram seus depoimentos. O empresário foi ouvido pela juíza Ana Carolina Rauen Lopes de Souza, do 1º Tribunal do Júri Sumariante da Comarca de Belo Horizonte. Ele não respondeu a perguntas sobre o crime, mas contou sobre sua própria história. Por fim, o empresário afirmou que acredita estar sendo perseguido e não sabedizer se o seu casamento com a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira, denunciada no processo por porte ilegal de arma de fogo, resistiu aos fatos.
O empresário ainda contou que viveu isolado muitos anos por conta de uma doença de seu irmão. Falou também que os diplomas juntados ao processo sobre sua formação universitária são verdadeiros, e disse que foi julgado pela imprensa ao ser comparado com um “empresário da Shopee”.
Em nota, a defesa de Renê afirmou que, após os dois dias de audiência, ficou "comprovado" que o empresário não foi identificado "na forma da lei processual". Além disso, os advogados afirmaram que os projéteis foram recolhidos por uma testemunha, o que representa quebra da cadeia de custódia da prova.
De acordo com os defensores, a obtenção de acesso ao celular do acusado se deu sem a prévia comunicação dos seus advogados em notória violação ao princípio da não autoincriminação. A informação já teria sido incluida no processo, no pedido para anular as provas obtidas a partir da quebra do sigilo telefônico do réu. No entanto, a petição foi negada.
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Confira, na íntegra, a nota da defesa de Renê:
"A defesa técnica de Renê da Silva Nogueira Júnior informa que, após 2 dias de audiência, as todas testemunhas presenciais foram ouvidas na qualidade de informante por terem interesse no resultado do processo, vez que ajuizaram ação indenizatória, restou comprovado que não houve reconhecimento do réu na forma da lei processual, que os projéteis foram recolhidos por transeunte não identificado, em clara quebra da cadeia de custódia da prova, e que a obtenção de acesso ao celular do acusado se deu sem a prévia comunicação dos seus advogados em notória violação ao princípio da não autoincriminação. No mais, confiamos que o trabalho seja reconhecido e alcance resultados pretendidos."