Gari morto por empresário é homenageado no Dia da Consciência Negra
De acordo com a viúva de Laudemir, seu assassinato foi também um ato e racismo e preconceito: 'As pessoas julgam as outras pela cor e pela condição financeira'
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Emocionada e segurando um boneco que simboliza Laudemir de Souza Fernandes, sua viúva, Liliane França da Silva, disse nesta quinta-feira (20/11) , durante um tributo a ele, que a morte do gari foi também motivada por racismo e preconceito. No Dia da Consciência Negra, cem dias após Laudemir ser assassinado enquanto trabalhava, ele foi homenageado na esquina onde sua vida foi tirada, em agosto, pelo empresário Renê da Silva, no bairro Vista Alegre.
“Tive a intenção de colocar essa data mesmo, porque o que o Lau sofreu foi um racismo, preconceito, não só ele, mas a Elen também por ser mulher e motorista. Então, foi uma data que eu pensei pra deixar registrado isso, que as pessoas julgam muito as outras pela cor, pela condição financeira, infelizmente foi isso que é o que aconteceu”, disse Liliane, se referindo à motorista Elen Dias Aparecida Rodrigues.
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Laudemir e Elen estavam trabalhando quando Renê, que passava de carro pelo local, se irritou com a presença do caminhão de lixo em uma rua estreita. Ele ameaçou Elen com uma arma e Laudemir interveio para defender a colega, quando foi baleado. A arma usada no crime pertencia à esposa do empresário, a delegada da Polícia Civil, Ana Paula Lamego Balbino Nogueira.
“Ele teve intolerância também em relação a ela por ela ser motorista, por ela ser mulher, por ela ser negra. A mesma coisa com o Lau, por isso a data foi muito bem pensada”, disse a viúva que só se refere ao gari como Lau, apelido carinhoso que ela deu ao companheiro.
Segundo ela, esses cem dias estão sendo muito difíceis, especialmente para seu neto, João Lucas, de um ano e dez meses, que era afilhado de Laudemir, que procura pelo “avô postiço” todos os dias, sem entender direito o que aconteceu.
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Durante o ato, foram distribuídas flores e os colegas de Laudemir cobraram da Justiça a condenação do gari e de sua esposa, dona da arma usada pelo empresário para matar Laudemir.
“A gente está lutando a cada dia para superar. Eu tenho um neto que gostava muito dele. Ele procura o Lau pela casa, pega as coisas dele, pega a blusa, abraça, beija. Tudo isso dói demais na gente, mas vamos refazendo a vida a cada dia, levando em consideração tudo que o Lau fez e deixou de lembrança para a nossa família”, afirmou Liliane.
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Durante o ato, um grupo de religiosos da Igreja Cristã Maranata executava cânticos de louvor na rua onde Laudemir foi assassinado. Mas para Liliane não foi um acaso esse encontro, que não foi combinado, e sim “coisa de Deus”. “Mais uma homenagem para ele”, afirma Liliane que distribui flores para quem passava pelo local e pediu respeito aos profissionais que trabalham limpando as ruas da cidade. “Vamos tratar bem os garis. É uma profissão muito digna e importante. Eles são agentes de saúde. Eles não são lixo. São trabalhadores, pais e mães de família que trabalham todos os dias no sol quente para deixar a cidade limpa. Respeitem”, cobrou a viúva que passou todo o ato carregando um boneco vestido de gari, uma homenagem ao seu esposo que ela ganhou de uma amiga.