Bola de fogo cruza o céu e intriga moradores de diversas cidades mineiras
Fenômeno luminoso foi registrado em diversas cidades de Minas e chamou atenção de moradores ao cortar o céu rapidamente
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O registro de um objeto luminoso cruzando o céu chamou a atenção de moradores de diferentes estados na noite dessa segunda-feira (27/10). Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram uma intensa “bola de fogo” riscando o horizonte e deixando um rastro de luz, o que gerou espanto e curiosidade em diversas regiões do país, do Distrito Federal ao Piauí, Ceará, Maranhão, Espírito Santo e Minas Gerais.
Em Minas, o fenômeno foi registrado em cidades como Salinas, Montes Claros, Almenara e Ipatinga. Moradores relataram que o clarão durou poucos segundos, tempo suficiente para iluminar o céu noturno. “Parecia um meteoro caindo, o céu ficou todo iluminado”, contou uma moradora. Em Salinas, o morador Nilson Dias descreveu a passagem como “um grande raio se movendo lentamente”. “Passou tão baixo que não deu pra filmar direito, por causa dos telhados das casas”, disse.
No Vale do Aço, Leonardo Werneck, morador do bairro Veneza, em Ipatinga, registrou o fenômeno por volta de 21h50. “Uma das brincadeiras que tenho com meu filho de 3 anos é ficar mostrando o céu para ele. Ontem, quando me aproximei da janela - moro no 18º andar e tenho uma visão privilegiada da cidade - vi um rastro no céu, bem pequeno, e um ponto de luz um pouco maior que uma estrela, se movendo muito rápido e muito mais luminoso que um avião. Me chamou a atenção”, relatou.
Segundo ele, a cena lembrou um episódio semelhante ocorrido em maio. “Acho que foi uma questão de sorte, de estar no lugar certo, na hora certa e com o celular na mão.”
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Nas redes sociais, os palpites se multiplicaram. Alguns usuários brincaram dizendo que “fizeram o pedido à toa”, enquanto outros afirmaram tratar-se do cometa C/2025 A6 (Lemmon), que está em seu pico de brilho e pode ser observado do Brasil nesta semana.
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Mas, segundo especialistas, essa hipótese não se sustenta. O professor aposentado Renato Las Casas, do Departamento de Física da UFMG, afirma que é praticamente impossível que o objeto avistado tenha sido o cometa Lemmon. “As chances de ser o Lemmon são muito baixas, quase zero. Ele passou muito longe daqui, a uma distância superior à que separa a Terra da Lua”, explicou.
Para Las Casas, o fenômeno observado apresenta características típicas de reentrada de lixo espacial.
“Não existe nenhum objeto construído pelo homem que esteja vagando pelo espaço sem utilidade. O que há são pequenos fragmentos de tinta, pedaços de espaçonaves e satélites desativados. Tudo indica que se trata de um pedaço de lixo espacial que se fragmentou ao entrar na atmosfera, criando o efeito luminoso conhecido como ‘bola de fogo’”, afirmou o físico.
O professor lembra ainda que o som relatado por alguns moradores pode ser explicado por dois fatores: “Um deles é a onda mecânica, provocada pela compressão da atmosfera à frente do objeto. O outro é a onda eletromagnética criada pela interação do corpo com as partículas carregadas do planeta, que se movimentam e acabam gerando o som percebido aqui na Terra.”
A possibilidade de ter sido um meteoro é remota, mas ainda está sendo considerada. “Tudo indica que não é um meteorito. Mas, se fosse, poderia ser um pequeno fragmento associado ao grande cometa Halley”, disse Las Casas.
Fenômeno parecido em maio
Em maio deste ano, moradores de várias regiões de Minas também relataram ver bolas de fogo cruzando o céu. As imagens circularam nas redes sociais e causaram o mesmo tipo de alvoroço. Na ocasião, o professor Luis Cavalcante, do Planetário de Brasília, explicou ao Correio Braziliense que o comportamento observado era compatível com a fragmentação de lixo espacial. “As estruturas cruzavam o céu em velocidade baixa, o que caracteriza lixo espacial”.
Segundo especialistas, é comum que restos de foguetes e satélites se desintegrem ao reentrar na atmosfera terrestre. Em maio, inclusive, o clarão visto no Norte e Noroeste do Espírito Santo foi identificado como fragmentos de um foguete lançado pela SpaceX, em 2014, que se despedaçou ao reingressar na atmosfera.
O que é lixo espacial?
O termo lixo espacial se refere a qualquer peça ou fragmento deixado por atividades humanas no espaço. Pode variar de satélites inativos, com tamanho comparável ao de um carro, a micropartículas de tinta desprendidas de foguetes. Esses objetos viajam a mais de 28 mil quilômetros por hora, tornando-se projéteis em órbita.
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Quando reentram na atmosfera, queimam devido ao atrito com o ar, gerando luz intensa e ruído, em alguns casos, um espetáculo que parece um meteoro para quem observa da Terra. A reportagem questionou a Agência Espacial Brasileira (AEB) sobre o que é o objeto luminoso e aguarda retorno.