REFLORESTAMENTO

Ao Velhas, com carinho

Mutirão das Árvores promove o plantio de 333 mudas em homenagem ao Rio das Velhas, num gesto simbólico de respeito pelos 333 anos de Santa

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Por Julio Moreira

Santa Luzia celebrou a natureza e a própria história com a realização do Mutirão das Árvores, promovido pela Fundação Pitágoras em parceria com a prefeitura e diversas instituições. O evento, realizado, nessa quinta-feira (17/7), no Centro de Educação Integrada, às margens do Rio das Velhas, marcou o plantio simbólico de 333 mudas de árvores — uma para cada ano de existência do município.

Mais que um ato de arborização, a ação foi um gesto de carinho e respeito ao Rio das Velhas, curso d’água tão sofrido, mas fundamental para a identidade e a formação histórica da cidade e de Minas. A mobilização reuniu dezenas de estudantes da rede pública, que participaram ativamente do plantio e das atividades educativas. O envolvimento das crianças torna o mutirão um legítimo instrumento de educação ambiental, ao integrar teoria e prática em defesa da vida e do planeta.

 

A iniciativa faz parte do projeto de educação ambiental da Fundação Pitágoras, braço social da Cogna Educação, e teve apoio das Secretaria Municipais Educação, da Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura e Abastecimento de Santa Luzia e do Conselho de Educação da ACMinas (Associação Comercial e Empresarial de Minas).

Durante o mutirão, os estudantes foram orientados por educadores ambientais e servidores públicos sobre as técnicas adequadas de plantio, o ciclo de crescimento das árvores e a importância da preservação das matas ciliares. A fundação disponibilizou cartilhas e manuais que abordam desde a coleta de sementes até a formação de viveiros e a manutenção das mudas.

O projeto integra um conjunto de ações firmadas através do protocolo de intenções assinado pelo Governo de Minas Gerais em 2024, que incentiva atividades práticas de reflorestamento e sensibilização ecológica em todo o estado.

Em Santa Luzia, a escolha do local do plantio reforça a conexão entre o meio ambiente e a memória coletiva. O Rio das Velhas, símbolo de resistência e vida, recebeu de volta o cuidado de uma geração que aprende desde cedo a importância de proteger o que é de todos. Com isso, o Mutirão das Árvores se torna mais do que um evento pontual — é a semente de uma consciência ecológica plantada no coracão de cada estudante.


Fala de um mestre da causa ambiental

Presente ao evento, o professor Apolo Heringer, da Faculdade de Medicina da UFMG e idealizador do Projeto Manuelzão, reforçou o caráter amplo e transformador da iniciativa: “A importância desse movimento vai além da questão climática – ele também é fundamental do ponto de vista educativo. E mais: é importante porque não estamos plantando leucena, que acabou virando uma praga. Então há vários contextos envolvidos. Aqui é uma escola em parceria com a prefeitura, um projeto social maravilhoso. E eu fico muito satisfeito em ver a criançada, os jovens, curtindo essa oportunidade. Isso é algo que eles nunca vão esquecer – o poder que uma árvore tem.”

A presença de Apolo Heringer deu ainda mais força simbólica ao mutirão, conectando a ação local a uma trajetória histórica de defesa do Rio das Velhas, do Velho Chico e de toda a bacia do São Francisco – que há décadas são foco do trabalho ambiental, científico e social promovido por ele e por toda a rede do Projeto Manuelzão.


Compromisso nacional com o reflorestamento

Quem também conversou com o Estado de Minas foi a presidente da Fundação Pitágoras, Helena Neiva, que compartilhou os planos ambiciosos da instituição e reforçou o papel transformador das escolas: “A gente tem a meta de plantar um bilhão de árvores até 2032, não só em Minas, mas em todo o Brasil. Já temos parcerias além de Minas Gerais, com os estados de São Paulo, Espírito Santo – que está caminhando muito bem – e com os três estados do Sul”.

Segundo ela, o grande desafio é realmente envolver o maior número de estudantes e educadores, para que eles sejam os grandes guardiões dos plantios. “Não adianta apenas plantar no Dia da Árvore ou na Semana do Meio Ambiente. Tem que ser um projeto perene, que dure todo o ano letivo e que seja trabalhado em todas as disciplinas. Nosso foco é criar boas práticas para que escolas do Brasil inteiro possam se inspirar e queiram levar isso também para suas cidades, para suas comunidades. E, tendo essas novas gerações como guardiãs das árvores, sabemos que essa será uma iniciativa que vai durar para sempre.”

Depoimentos emocionam e reforçam o aprendizado

Para os estudantes, a experiência foi marcante. Larissa Cristina, de 14 anos, aluna do 9º ano da Escola Integral e Integrada de Santa Luzia, destacou o aprendizado ambiental. “A importância de plantar árvores está no cuidado com o meio ambiente. Está tudo muito seco, tem muito desmatamento, então a gente precisa fazer a nossa parte. Plantar é um ato de amor com a natureza e com os animais e com o nosso rio.”

Cauã Richard, 15 anos, também da Escola Integrada, falou sobre o legado que as árvores deixarão para o futuro. “Aqui bate muito sol na hora do almoço. Daqui a uns anos, com as árvores grandes, vai ter sombra e o espaço vai ficar bem melhor. E o mais legal é que a gente pode voltar aqui com nossos filhos ou sobrinhos e lembrar desse momento. Vai valer a pena.” 

Esses relatos mostram que mais do que plantar árvores, os jovens estão semeando consciência ambiental, respeito ao planeta e amor à cidade onde vivem.

Em Santa Luzia, o Mutirão das Árvores pode ter cumprido seu papel multiplicador, já que o prefeito da cidade, Paulo Bigodinho, prometeu, para o ano que vem, plantar mais 334 mudas de árvores, quando a cidade estará comemorando 334 anos. O tão sofrido Rio das Velhas vai agradecer – tomara que não fique apenas na promessa política. 

Apolo alerta: “Quem polui o Rio das Velhas está tirando o alimento do povo”

O médico e professor da UFMG Apolo Heringer Lisboa, conhecido por sua trajetória à frente do Projeto Manuelzão, esteve presente no Mutirão das Árvores em Santa Luzia, que marcou o plantio de 333 mudas às margens do Rio das Velhas. Durante o evento, ele declarou ao EM a urgência em retomar e ampliar os esforços pela recuperação do rio, anunciando o lançamento da Meta 2034, que tem como objetivo a volta abundante do peixe em todos os afluentes da calha principal do Rio das Velhas, da foz no São Francisco até a Cachoeira das Andorinhas em Ouro Preto.

Segundo Heringer, o foco da nova etapa é claro: trazer de volta o peixe, garantir alimento e aumentar a renda das comunidades que dependem diretamente do rio. “A questão do peixe não é romântica – é sobre sobrevivência. É o prato de comida do povo mais pobre. Quem está poluindo o rio precisa entender que está tirando o alimento da mesa dos mais vulneráveis. Não é só uma questão ecológica ou poética – é social, é urgente.”

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O professor foi direto ao descrever a situação atual do Rio das Velhas: “O Rio das Velhas está podre em muitas regiões. O peixe só está resistindo graças à Meta 2010, um projeto muito importante que, na época, conseguiu melhorar a qualidade do rio em cerca de 60%. Mas se os ataques continuarem, vamos perder todo o trabalho que já foi feito.”

Diante desse cenário, Apolo defende que a Meta 2034 seja encarada como uma continuação estratégica das ações iniciadas há mais de duas décadas, com foco na recuperação ambiental, educação das novas gerações e valorização dos ribeirinhos como protagonistas da transformação.

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