COMBATE AO FOGO

Prontidão na temporada dos incêndios florestais

Bombeiros abrem 280 vagas para brigadistas e apostam em estratégias já testadas para evitar que o recorde de queimadas de 2024 se repita.

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Com a entrada do período de estiagem e os números recordes registrados no ano passado ainda nítidos no retrovisor, bombeiros, brigadistas e órgãos ligados ao meio ambiente se preparam para o combate aos incêndios florestais, historicamente mais frequentes entre abril e setembro. Ontem, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais anunciou edital para contratar 280 brigadistas florestais temporários. Também o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) busca servidores ambientais para atuar por prazo definido em parques e reservas nacionais no estado


Neste ano, Minas registrou número elevado de queimadas já no primeiro trimestre, em plena temporada das chuvas – foram 2.141 ocorrências contra 1.221 em igual período de 2024. A expectativa do Corpo de Bombeiros, entretanto, é que a situação na seca seja menos crítica do que a vivida ao longo do ano passado, quando a corporação atendeu ao recorde de 29 mil chamados para incêndios florestais. Ainda assim, a corporação não pretende baixar a guarda e, além da contratação de brigadistas, planeja intensificar medidas que foram bem-sucedidas no ano passado.


Segundo o tenente do Corpo de Bombeiros Henrique Barcellos, a tendência de haver um cenário mais brando neste ano se relaciona com o período crítico de 2024 e suas consequências negativas para o meio ambiente. “O ano seguinte (aos períodos críticos) vem com uma baixa porque grande quantidade de matéria orgânica foi queimada, então, acaba que isso retira um pouco do combustível que existe nessas matas e vegetações de maneira geral”, afirma.


Sobre as condições climáticas ligadas à estiagem, como a drasticidade da seca, ondas de calor, baixa umidade e incidência de ventos — fatores que não provocam a ignição mas interferem diretamente na propagação das chamas — o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Lizandro


Gemiacki, acredita ser pouco provável que o cenário seja tão drástico como em 2024. “O ano passado foi o segundo com uma sequência de dias secos mais longa desde 1961, então, algo relativamente raro”, afirma o especialista. Entretanto, ele adverte que ainda não há precisão sobre como será o período de estiagem deste ano.


Nos últimos anos, tem sido registrada uma escalada nas temperaturas, no número de dias sem chuvas e em outras consequências das mudanças climáticas , o que traz incerteza sobre o que está por vir. A capital mineira foi uma das cidades mineiras que sofreram com a longa estiagem em 2024, quando ficou mais de 150 dias sem chuva. Os níveis médios de umidade do ar ficaram na casa dos 20%, quando o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) está entre 50% e 60%.


Brigadistra há sete anos, Gustavo Gouvêa, é testemunha dessa realidade e seus impactos na vegetação. “Cada vez os incêndios estão vindo com mais intensidade, perdurando mais tempo, exigindo mais dias de combate e em locais onde não tínhamos tantas ocorrências”, diz o profissional, que no momento atua pelo ICMBio.


CONTRATAÇÃO


Para ajudar no combate às chamas no período de estiagem, o corpo de bombeiros divulgou a abertura de edital para vagas temporárias de 280 brigadistas florestais, a princípio, a mesma quantidade do ano passado. Os profissionais atuarão diretamente em ações de prevenção, monitoramento e combate aos incêndios florestais, no âmbito da Força-Tarefa Previncêndio, durante o período crítico do fogo no estado. A remuneração mensal pode ultrapassar R$ 2 mil, somados aos benefícios previstos no edital. As inscrições são gratuitas e estão abertas até segunda-feira (28/4), exclusivamente por meio do site oficial do CBMMG.


Além da ampliação da equipe que vai combater as chamas, o tenente Barcellos acredita que a contratação é importante, uma vez que o brigadista contribui com a “riqueza de detalhes que ele tem daquele cenário e com sua identidade com as comunidades próximas, seja para uma evacuação, para uma orientação ou para a própria proteção e segurança de todos os envolvidos.”


Já em âmbito nacional, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) também divulgou e terá neste ano a maior quantidade de brigadistas federais da história, com 231 brigadas espalhadas pelo país. De acordo com o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, as previsões da meteorologia para este ano “não são confortáveis”, o que justifica a medida.


Por sua vez, o ICMBio abriu vagas para servidores temporários ambientais, que podem atuar como agentes de apoio ao monitoramento patrimonial e ambiental, à gestão de unidades de conservação, à fiscalização ambiental e ao uso público. Em Minas, há vagas para atuar como voluntário nos parques nacionais da Serra da Canastra, da Serra do Gandarela, do Caparaó e no Grande Sertão Veredas, além da Reserva Biológica de Mata Escura.


Gustavo Gouvêa, que atuou na linha de frente no ano passado, tamhém chama atenção para o papel fundamental desenvolvido pelos brigadistas antes do período crítico. “No período chuvoso, fazemos plantio de mudas nas áreas queimadas, educação ambiental, as queimas prescritas (…), os aceiros manuais ou com máquinas. É trabalho o ano todo”, explica o brigadista do ICMBio.


Apesar de reconhecer que a contratação temporária reforça a equipe de combate e aumenta a efetividade do trabalho, Gouvêa é crítico desse regime. De acordo o profissional, todos os brigadistas, inclusive ele, têm prazos para atuar. No caso dele, o ofício pode ser exercido por dois anos e, quando o contrato se encerra, é necessário um intervalo de dois anos voltar. “(Com isso, perde-se muita mão de obra boa, muitos brigadistas bons, que acabam procurando outra forma de renda”, diz.
PLANO


Para evitar estatísticas como as de 2024, o Corpo de Bombeiros planeja intensificar ações já testadas e que deram bom resultado. Entre elas, a implantação de bases operacionais avançadas em Unidades de Conservação (UCs) durante o período crítico. Segundo a corporação, as cinco instaladas no ano passado viabilizaram redução de cerca de 60% da área queimada em pelo menos seis UCs. O destaque ficou para a base na Área de Proteção Ambiental Estadual Cochá e Gibão, no Norte de Minas, recordista de incêndios nos últimos 11 anos, onde, segundo o CBMMG, o percentual foi de 83,5%.


Este ano, uma nova base será criada na Floresta Estadual do Uaimii, em São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto. A base visa ao atendimento à região da cidade histórica, ao Santuário do Caraça, em Caeté, à Serra do Gandarela, em Rio Acima, e à Área de Proteção Ambiental Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte (APA Sul RMBH). A APA é cortada por manancias de duas grandes bacias hidrográficas, a do Rio São Francisco e a do Rio Doce, que respondem pelo abastecimento de aproximadamente 70% da população da capital mineira e 50% dos habitantes da região metropolitana.


Além das bases, serão implementados sistemas de gerenciamento de recursos centralizando todas as informações com a Sala de Coordenação Operacional, a fim de otimizar a disposição dos recursos humanos e logísticos de acordo com a necessidade. O sistema fará análises em tempo real apontando dados como os locais de maior risco e direção dos incêndios.


Outra linha de trabalho é a conscientização da população, visto que historicamente mais de 90% dos incêndios em vegetação ocorrem devido à ação humana, de maneira criminosa ou por descuido. As queimadas em lotes vagos e áreas urbanas não protegidas também chamam atenção, uma vez que correspondem a cerca de 60% dos chamados.

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Diante disso, o Corpo de Bombeiros lançou a Operação Alerta Verde, que busca identificar potenciais locais de risco antes do período crítico de estiagem e alertar a população quanto aos cuidados com esses locais. A cada vistoria, são produzidos relatórios, depois encaminhados às respectivas prefeituras de cidades mineiras, para que elas avaliem a aplicação de sanções aos proprietários dos terrenos.


Em âmbito nacional, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, assinou em fevereiro uma portaria que declara estado de emergência em áreas vulneráveis a incêndios. A medida vai facilitar a contratação emergencial de brigadistas e orientar ações preventivas com base em dados climáticos.

*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho

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