NOSSA HISTÓRIA, NOSSO PATRIMÔNIO

Passeio nos tempos da farmácia com ph

Museu Pharmácia Ideal mantém uma herança familiar aberta ao público em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte

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Conhecedor de história, contador de “causos”, defensor do patrimônio cultural e guardião das memórias de Caeté, antiga Vila Nova da Rainha. Esses e outros predicados, como “bom de papo”, se somam ao ofício de Antônio Maria Claret Chagas, de 78 anos. Farmacêutico formado há cinco décadas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o mineiro mantém uma herança familiar aberta ao público: o Museu Pharmácia Ideal, grudado na Farmácia Ideal, do qual é proprietário. Etapas dessa trajetória são unidas pelo dígrafo “ph”, pois se escreveu “pharmácia” até 1931, ano de um acordo ortográfico entre Brasil e Portugal, o qual foi revogado em 1934 e restabelecido em 1938.

Inaugurada em maio de 1918, a Farmácia Ideal, no Centro da cidade, passou por todas as transformações farmacológicas e tecnológicas ao longo de mais de um século, e, felizmente, teve preservados mobiliário, equipamentos, documentos, livros estrangeiros, quadros e substâncias químicas em seus frascos. Após mais de 30 anos ocupando um espaço dentro do estabelecimento comercial, o museu ganhou, em dezembro, lugar próprio, ampliado e com mais proteção, a partir da criação da Associação Museu Pharmácia Ideal. Paralelamente, Claret lançou o livro “Caeté em história e poesia”, com muitos relatos sobre o que viu e algumas lendas locais ouvidas.

“Nasci aqui”, orgulha-se o farmacêutico ao abrir a porta pintada de amarelo, com moldura azul, de acesso ao equipamento cultural particular e sempre pronto para dar boas-vindas a quem chega. Para iniciar a visita, ele mostra os retratos de várias gerações da família, começando pelo avô, João dos Reis Chagas (1890-1915), que se estabeleceu em Caeté, vindo de Lamim, na Zona da Mata. Na sequência, Joaquim Fernandes de Melo (tio-avô de Claret, proprietário de 1918 a 1932), João Geraldo Chagas, tio, e Antônio Fernando Chagas, pai. “Meu filho, Luiz Antônio Castro Chagas, da quinta geração, formado em farmácia em 2000, trabalha aqui comigo. Futuramente, será a vez da minha neta, Ana, que está na faculdade”, orgulha-se.

Passado presente

Os olhos do visitante vão brilhar diante de tantos objetos, retratos, utensílios para fazer os remédios no início do século passado. Há um corta-raízes, cujo nome é autoexplicativo, uma prensa de ferro fundido e um conjunto de balanças sobre o balcão de peroba do campo original. “Este é de 1918”, aponta Claret, revelando que, nos primórdios, os medicamentos eram feitos pelos boticários. “A palavra vem de botica ou móveis usados para armazenagem e manipulação de medicamentos, nas fazendas, na época do Império. Temos uma original aqui”.

Agora estamos no “escritório” e o farmacêutico mostra um formulário oficial, da década de 1950, para requisição, à Secretaria de Saúde, de entorpecentes, a exemplo de ópio em pó, tintura de ópio, morfina, cannabis e fosfato de codeína. Mais adiante, há vasos de porcelana inglesa, ventosas de vidro, gral com pistilo (para moer e triturar substâncias sólidas) em vidro, massa e bronze e um escarificador cutâneo (para incisões superficiais na pele).

Outros utensílios usados nos antigos laboratórios vão sendo apresentados: espátulas de chifre, metal e aço inox para manipulação de pomadas e um inalador importado da Romênia, na década de 1930. Perto da mala de mascate, há livros específicos de estudos de farmácia, alguns em francês. “O profissional tinha que saber o idioma, pois não havia esse tipo de obra no Brasil. Ler e trabalhar”, explica, chamando a atenção para um dos seus preferidos, tanto pelas informações como pelas ilustrações artísticas: o “Atlas completo de anatomia do corpo humano”, de 1864.

O passeio termina numa pequena capela, com imagens de santos pertencentes à família. Ao final, não custa perguntar se existe um remédio para o bem-viver. Com um sorriso confiante, Claret, integrante do Instituto Histórico e Geográfico do Ciclo do Ouro, dá a resposta: “Vida de trabalho, servir o próximo e cultivar a paz espiritual”.

Pioneirismo

Na entrada do museu, um painel informa que Minas é pioneiro no ensino de farmácia no Brasil devido à instalação, em Ouro Preto, em 1839, da Escola de Farmácia. No caso da Ideal, ficamos sabendo que começou pelas mãos de Joaquim Fernandes de Melo, que a vendeu por 12 contos de réis, em 1937, a João Geraldo Chagas, seu concunhado. Em 1970, Antônio Claret assumiu a administração do estabelecimento, iniciando o museu 20 anos depois. Aproveitando as valiosas e raras peças do acervo, quis mostrar “a evolução dos costumes e o progresso ao longo do tempo.” Mais informações, ou para marcar visita, no Instagram @museuideal e pelo telefone (031) 3651-1472

Rota histórica mais perto de ser...

Está próximo de ser declarado Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, pela Assembleia Legislativa (ALMG), o Caminho do Comércio, via histórica com mais de 200 anos ligando Minas ao Rio de Janeiro e passando pelos municípios de Rio Preto, Bom Jardim, Arantina, Andrelândia, Madre de Deus de Minas e São João del-Rei. O projeto de lei de autoria do ex-deputado João Leite foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e na de Cultura, em primeiro turno. Após a apreciação nessa comissão, irá a plenário em dois turnos. Agora um pouco de história: a chegada de Dom João VI e família real portuguesa ao Brasil, em 1808, fez aumentar consideravelmente a população do Rio. Assim, em 14 de novembro de 1811, a “Real Junta do Commercio, Agricultura, Fabricas e Navegação do Estado do Brazil e seus Domínios Ultramarinos”, órgão integrante da administração joanina, determinou a abertura dessa nova rota.

...patrimônio cultural e turístico de Minas

Naquele início do século 19, o Caminho Novo da Estrada Real, aberto no 18, era muito longo e não conectava o Rio diretamente à principal área de produção de alimentos de Minas – regiões Sul e Campo das Vertentes –, se tornando obsoleto e inadequado. A situação motivou a criação do Caminho do Comércio, então mais curto e econômico, que possibilitava o abastecimento da Corte com as produções mineiras (bois, porcos, toucinho e queijos). Além de comerciantes, muitos cientistas estrangeiros, conforme pesquisas, percorreram o trajeto durante o século 19, entre eles o francês Auguste de Saint-Hilaire (1819), os ingleses Robert Walsh (1829) e Charles James Fox Bunbury (1835) e o alemão Ernst Hasenclever (1839). Ao longo dos anos, a via recebeu melhorias, inclusive no trecho fluminense, e ficou conhecido como Estrada do Comércio.

Parede da memória

O tempo passa e não diminui o espanto sobre um dos maiores roubos a igrejas da história do Brasil. Na madrugada de 2 de setembro de 1973, ladrões levaram 17 peças sacras do museu localizado no subsolo da Basílica Nossa Senhora do Pilar, no Centro Histórico de Ouro Preto. Até hoje, nada foi encontrado. Entre os objetos furtados, havia a coleção formada por custódia (peça de prata folheada a ouro, com 7 quilos, própria para pôr a hóstia, na foto), três cálices de prata folheados a ouro, de origem portuguesa, usados no Triunfo Eucarístico, em 1733, a maior festa religiosa do Brasil colonial. Os objetos de fé continuam sendo procurados pelas autoridades federais e estaduais, e se encontram na lista de bens cadastrados na plataforma virtual Sondar do Ministério Público de Minas Gerais.

Protagonismo mineiro

O professor Luiz Souza, da Escola de Belas Artes da UFMG, foi eleito vice-presidente do Instituto Internacional de Conservação de Obras Históricas e Artísticas (IIC), com sede no Reino Unido. Agraciado, em setembro, com o Prêmio Forbes 2024 da mesma instituição, ele se torna o primeiro latino-americano a integrar a presidência do IIC. Para Souza, sua presença na direção é mais um sinal do protagonismo mineiro na área. “Lutamos por isso dentro da UFMG, que criou o primeiro curso de graduação nesse campo. Estar na vice-presidência do Instituto só mostra como temos feito um bom trabalho para os profissionais de conservação e restauração".

Rio das Mortes 1

Será lançada em 9 de maio, na Bienal Mineira do Livro, em BH, a obra “Cypriano Joseph da Rocha – Relato de uma vida entre Portugal e o Brasil na ‘Idade do Ouro’”, de António Andresen Guimarães, sobre a trajetória do sétimo ouvidor da Comarca do Rio das Mortes, que hoje inclui as regiões do Campo das Vertentes e Sul de Minas e parte da Zona da Mata e Centro-Oeste. O lisboeta António é hexaneto de Cypriano (1685-1746), nascido em Ponte da Barca, na Região do Minho, em Portugal. Em 2000, foi lançada a edição portuguesa, e, agora, a brasileira.

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Rio das Mortes 2

Também em 9 de maio, pela manhã, haverá palestra do juiz aposentado e pesquisador Auro Maia, da Associação Mineira dos Magistrados (Amagis), sobre a importância na história mineira da antiga Comarca do Rio das Mortes. O livro “Cypriano Joseph da Rocha – Relato de uma vida entre Portugal e o Brasil na ‘Idade do Ouro’” já está à venda no site www.krausseditora.com.br e presencialmente no Museu da Conversa Macanuda (Rodovia BR-267 – estrada Campanha-Cambuquira) e na Biblioteca Municipal Batista Caetano de Almeida, em São João del-Rei.

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