BRUMADINHO

Morte de cacique em MG completa 1 ano e investigação segue sem conclusão

Familiares e amigos suspeitam que o líder indígena foi vítima de homicídio; a princípio, a morte foi registrada como suicídio

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Líder da Retomada Kamakã Mongoió em Brumadinho, na Região Metropolitana de BH, o cacique Merong Kamakã, 36 anos, foi encontrado morto no dia 4 de março de 2024. Um ano depois, o caso ainda segue sem conclusão. A princípio, a morte dele foi registrada como suicídio, mas familiares e amigos suspeitam que Merong foi vítima de homicídio. 

“Estamos aguardando até hoje a investigação”, afirma Gilvander Moreira, amigo do cacique. De acordo com ele, a família de Merong está sem respostas e continua suspeitando que a morte do indígena foi motivada pela luta de retomada territorial que ele liderava. 

“Simularam uma cena de enforcamento, um negócio absurdo. Ele enforcado com os pés no chão, com uma ‘travazinha’ que não aguentava o corpo dele”, conta Gilvander. Na época da morte, o amigo de Merong, que acompanhava a liderança dele em Brumadinho, já associava a morte à luta do cacique. “Conversei longamente em particular com o cacique Merong no dia 24 de fevereiro, lá na Retomada Xukuru-Kariri em Brumadinho. Ele estava planejando ampliar as lutas, de cabeça erguida. Não foi suicídio, foi assassinato por perseguição”, afirmou. 

O inquérito policial do caso tramita na Polícia Federal. Em resposta ao Estado de Minas, a corporação informou, nesta quinta-feira (6/3), que não disponibilizou até o momento “quaisquer informações relativas à operação que está sendo investigada”. A princípio, a Polícia Civil de Minas Gerais participou das investigações e ouviu testemunhas.

Pedido de justiça

Em junho do ano passado, quando a morte de Merong completou três meses, familiares fizeram um protesto pela demarcação do território Kamakã Mongoió e pediram respostas. “A gente precisa de uma posição. O que aconteceu com Merong?”, questionou a cacica Katorã, mãe do líder indígena.

Acompanhada de indígenas e de uma faixa que diz “cacique Merong presente”, a cacica se emocionou ao mencionar a morte do filho. Katorã pediu à Polícia Federal, responsável pelo caso junto ao Ministério Público Federal, uma posição sobre a investigação “porque atrás disso tem coisa. Cacique Merong não tinha essas intenções, ele era cheio de vida, cheio de sonhos”, disse a indígena se referindo a possibilidade de o líder ter se suicidado.

Na época, ao Estado de Minas, Rogério Kamakã, irmão mais novo de Merong, também colocou em dúvida a possibilidade do líder ter tirado a própria vida. “Eu acho que meu irmão não tinha coragem de fazer isso. Se ele fez, alguém o forçou”, disse. Rogério conta que Merong era um líder bondoso, querido e a perda dele “deixou um buraco em nossos corações”. O líder indígena deixou dois filhos e mais quatro irmãos.

Quem era cacique Merong 

Pertencente ao povo Pataxó-hã-hã-hãe e da sexta geração da família Kamakã Mongoió, o cacique Merong Kamakã era conhecido pela defesa dos direitos dos povos originários e pela liderança na retomada do Vale do Córrego de Areias, em Brumadinho. 

O cacique nasceu em Contagem, também na Grande BH, e, na infância, foi morar na Bahia. Para o cacique, a terra significava vida e espiritualidade, razão para defendê-la ao máximo. "No momento em que a terra é explorada indevidamente, ela nos dá o retorno da sua dor", dizia. Ele atuou também no Rio Grande do Sul e participou ativamente da Ocupação Lanceiros Negros.

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Conforme informações do Museu Nacional dos Povos Indígenas e do Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva, Merong disse que "guiado pelo Grande Espírito, sentiu que precisava voltar às terras ancestrais na região de Brumadinho protegendo-as da destruição que a assola e a ameaça constantemente".

*Estagiária sob supervisão do subeditor Humberto Santos

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