Ambiente e clima

Pouco verde e ainda menos água: como a equação do sufoco está afetando BH

Em meio a mudanças climáticas, seca severa e altas temperaturas, equipe do EM mostra como falta de vegetação e de fontes de água afeta diferentes regiões de BH

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A falta de árvores e de grandes massas de água sufoca a população de Belo Horizonte com calor crescente e ar seco, ainda mais degradado pela fuligem e fumaça das queimadas. A cidade ainda tem áreas mais amenas, como a Pampulha, onde a lagoa ajuda a refrescar o ambiente, mas também há locais onde as condições são mais severas, como em Venda Nova, região onde a temperatura bateu em 38°C e a umidade relativa do ar chegou a 21% em marcações feitas no meio da última semana. Nessas e em outras regiões da cidade, a equipe de reportagem do Estado de Minas, com auxílio de especialistas, mapeou áreas mais quentes e secas e mais amenas da capital, usando um termo-higrômetro.


Em Venda Nova, a umidade baixou a um patamar típico de desertos como o do Atacama (Chile) ou o de Sonora (México), à beira da situação de alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) – abaixo de 20%. Entre outros reflexos, o resultado aparece em áreas como a da Avenida Vilarinho, onde até os canteiros centrais e lotes vagos que durante o ano apresentam vegetação secaram a ponto de exibirem apenas uma palha amarelada e quebradiça.


Ondas de calor que se propagam pelo asfalto fazem o ar tremular e distorcem as imagens próximo ao solo em meio à temperatura de 38°C marcada às 15h da última quarta-feira (4/9) na interseção da Vilarinho com as ruas Marçon Ribeiro e Álvaro Camargos, na área da Bacia de Contenção, antes do viaduto da Avenida Dom Pedro I. Marca que superou em muito a máxima oficialmente registrada no dia pela Defesa Civil da capital, de 33,9°C.

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A umidade relativa do ar medida na região não foi a mínima registrada na cidade, que chegou a 13% em estação do Instituto Nacional de Meteorologia. Ainda assim, a marca de 21% é considerada muito abaixo da média tida como saudável pela OMS, entre 50% e 80%. A taxa mede o máximo de vapor de água que o ar retém em determinada temperatura.


No caso de Venda Nova, a taxa de 21% de umidade significa que um metro cúbico de atmosfera naquela temperatura retinha 9,7 mililitros de água. Seria o mesmo que um latão de 25 litros de água dissolvido em um volume de ar que caberia em uma piscina olímpica de 50 metros de comprimento, 20 metros de largura e 2 metros de profundidade.

Venda  Nova -  Na Avenida Vilarinho, a maior temperatura e a menor umidade

Venda Nova - Na Avenida Vilarinho, a maior temperatura e a menor umidade

túlio santos/EM/D.a press

 


Ilhas de calor

De acordo com o professor Antoniel Fernandes, do Departamento de Geografia e Biologia da PUC Minas, a falta de vegetação e de corpos hídricos, somada ao concreto e asfaltamento predominantes em áreas como a da Avenida Vilarinho, levam à formação de ilhas de calor e umidade similar à de um deserto. “O concreto e o asfalto retêm o calor do Sol e com isso evaporam rapidamente a umidade, que é levada para o alto. Outro fator importante é que os ventos carregam essa umidade que se elevou para outros locais, deixando a área ainda mais seca”, afirma.

Na Praça da Savassi (Diogo de Vasconcelos), a mesma conjugação de concreto e asfalto com circulação excessiva de veículos também resultou em muito calor na mesma data, chegando à marca de 36,5°C, com umidade relativa do ar ainda pior, de 20%, mesmo com a medição sendo feita próximo aos chafarizes onde pessoas em situação de rua aproveitaram para tentar aplacar o calor.
O nível, dentro do alerta de baixa umidade da OMS, é tão seco que, considerando-se o mesmo volume de ar de uma piscina olímpica naquela temperatura, seria o mesmo que ter um galão de água mineral de 20 litros misturado à atmosfera do espaço.


A apenas 2,5 quilômetros dali, na Avenida Nossa Senhora do Carmo, altura dos bairros Belvedere e Sion e do Morro do Papagaio, área mais alta, a temperatura já estava bem mais amena, bem como a umidade. Naquela área, em que correntes de ar trazem muita umidade de Nova Lima, na Grande BH, foram registradas temperatura de 32,3°C e 27% de umidade relativa do ar. Melhor, mas ainda muito seco, uma vez que taxas abaixo de 30% são consideradas pela OMS “nível de atenção”.

Parque Municipal - entre árvores e lago, marcas do centro de bh melhoram

Parque Municipal - entre árvores e lago, marcas do centro de bh melhoram

túlio santos/EM/D.a press


Os efeitos no corpo


Quando se tem a umidade relativa do ar tão baixa, menor do que 30%, a OMS destaca que podem ocorrer ressecamento das vias respiratórias, aumentando a suscetibilidade a infecções, irritação nos olhos, nariz e garganta, aumento de problemas respiratórios, como asma e bronquite, e mais incêndios florestais. Abaixo de 20% os riscos à saúde se intensificam e é recomendado evitar atividades físicas ao ar livre, especialmente entre 10h e 16h.

Praça Sete - No coração do Hipercentro de BH, cercado de concreto, asfalto e trânsito, calor e secura se elevam

Praça Sete - No coração do Hipercentro de BH, cercado de concreto, asfalto e trânsito, calor e secura se elevam

túlio santos/EM/D.a press


As recomendações são beber bastante água ou sucos naturais, utilizar umidificadores de ar em casa e no trabalho, evitar ar-condicionado por longos períodos e usar hidratantes.


Ilhas verdes


Entre as ações e projetos de Belo Horizonte para enfrentar as mudanças climáticas, segundo a prefeitura da capital, figuram plantios de árvores (74 mil desde 2021, informa) e a inserção de corredores verdes na paisagem urbana, com o objetivo de unir áreas naturais importantes por meio de faixas com vegetação mais abundante. Já os Refúgios Climáticos são áreas estratégicas projetadas para oferecer abrigo e assistência durante eventos extremos, como ondas de calor ou tempestades, equipados com sistemas de resfriamento e abastecimento de água potável. Há ainda miniflorestas urbanas, com plantios mais adensados, com objetivo de criar ilhas de biodiversidade em áreas pouco vegetadas, além de novos espaços de resfriamento.

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