Circuito da Stock Car passa em frente ao Hospital Veterinário da UFMG -  (crédito: Raphaella Dias/EM/D.A Press)

Circuito da Stock Car passa em frente ao Hospital Veterinário da UFMG

crédito: Raphaella Dias/EM/D.A Press

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) encaminhou um ofício à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), nesta terça-feira (27/2), para dialogar com a gestão municipal sobre a realização de uma etapa da Stock Car em Belo Horizonte, no entorno do Mineirão, na Região da Pampulha, prevista para acontecer em agosto deste ano. Ao Estado de Minas, a reitora da instituição, Sandra Goulart Almeida, pontuou alguns dos possíveis impactos negativos que a realização do evento proporcionará à comunidade da universidade. Entre eles, Sandra Goulart cita os impactos ambientais e sonoros da realização do evento, além dos bloqueios de acesso à universidade, que terá, no mínimo, duas das seis portarias da universidade afetadas.

A reitora pede à administração municipal uma agenda para discutir os impactos do evento. Conforme a representante da instituição, eles não foram incluídos ou consultados nas discussões sobre a realização do evento de Stock Car em Belo Horizonte. Na sua avaliação, houve “falta de diálogo” com a UFMG. Ainda segundo a reitora, a única proposta apresentada à Universidade Federal de Minas Gerais foi a possibilidade de construir uma barreira acústica para mitigar os impactos sonoros do evento. Para a reitora, a medida não é suficiente, visto que o evento ocasiona em outros problemas. A instituição ressalta que não é contra o evento, apontado como um grande investimento para a capital mineira por muitos. No entanto, ressalta que a região não é a mais adequada para a realização do evento.

“A gente está aberto ao diálogo. A universidade é esse espaço de diálogo, de confluência. Agora, nós precisamos, de fato, conversar. Já estou enviando um ofício ao prefeito [de Belo Horizonte] pedindo uma conversa com a UFMG para eu pontuar essa posição, que é uma posição da nossa comunidade. O evento terá impacto enorme para nossa comunidade. Nós tivemos uma reunião com os organizadores. Eles estão trabalhando em uma proposta de barreira acústica que nós ainda não vimos e não sabemos se isso vai funcionar ou não”, pontuou. 

“Estamos conversando com outros atores também. Participamos de uma audiência na Câmara dos Vereadores [de Belo Horizonte], vamos participar de uma audiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Estamos conversando com os moradores, que têm nos procurado. A gente tem ouvido todas as instâncias e procurado encontrar um caminho. Mas a gente acha que o caminho mesmo é retirar o evento dessa região. Precisamos colocá-lo em uma outra região, onde não tenha um impacto tão grande como terá nesta”, completou.

 

Conforme a reitora, serão impactados diretamente o Centro de Esportivo Universitário (CEU) da UFMG, a área de ciências biológicas, além do Hospital Veterinário, que, segundo ela, só é acessado por uma das vias que será bloqueada. Sandra Goulart também compara a etapa da Stock Car com eventos, festivais e shows que acontecem no Mineirão. Ela pontua que esses eventos já provocam diversos impactos aos arredores do estádio, no entanto, ressalta que eles costumam ocorrer, geralmente, durante um ou dois dias. A previsão é que o evento de Stock Car ocorra entre os dias 15 e 18 de agosto deste ano. Porém, a reitora aponta que antes do evento, os pilotos devem treinar na pista, o que também impactará a universidade. 

“A gente entende a relevância de um evento dessa natureza para a cidade de Belo Horizonte. Não é o caso de ser contra o evento. Mas como eu já deixei claro, a nossa avaliação é que o entorno do Mineirão não é um lugar adequado para se fazer um evento desse porte com o impacto que ele terá em termos ambientais e também em termos de poluição sonora, que será enorme, não será um evento de um dia. Claro que a gente já tem problemas com o Mineirão de forma regular quando ocorrem shows, mas é um evento de um dia, de uma noite”, declarou.

“Esse vai ser um evento que precisa de mais tempo para que os pilotos possam fazer testes, a gente entende isso. Mas não há como a gente simplesmente parar as atividades de uma universidade de pesquisa, de ensino, como a UFMG, por causa de um evento dessa natureza. O Mineirão está no centro do campus Pampulha. De um lado nós temos o Centro Esportivo Universitário (CEU), que a nossa comunidade toda frequenta. Nós temos pesquisas no Centro de Treinamento Esportivo, que é um lugar que as pessoas trabalham. Do lado de cá, você tem toda uma parte de pesquisa da área biológica, que é muito importante para a universidade. Nos temos os nossos biotérios, que são espaços de criação de animais, que está de frente para o Mineirão, praticamente. E tem vários outros biotérios no Instituto de Ciências Biológicas e também na Faculdade de Farmácia. É um ambiente que tem que ser controlado”, completa. 

A corrida em BH será realizada no modelo “Circuito de Rua”, e a estrutura será montada ao redor do Mineirão, no Bairro São José. A previsão é que as obras para viabilização da corrida comecem ainda em fevereiro. Os custos serão de responsabilidade da Vicar, Speed Seven e a DM Corporate, empresas envolvidas na realização do circuito na capital mineira. A intenção é que a competição seja realizada na cidade por 5 edições consecutivas, sendo a primeira em 2024.

Segundo a reitora, uma das áreas mais afetadas será o Hospital Veterinário da instituição. “É importante lembrar que o Hospital Veterinário deve seguir todas as regras de um hospital normal. Não é um hospital para pessoas, mas é para animais, é para seres vivos. O que isso quer dizer? Que ali é uma área hospitalar. Não pode ter barulho excessivo, tem que ter certos controles, que nós somos obrigados a seguir como universidade. Se nós somos obrigados a seguir determinados parâmetros por ter um hospital veterinário, acredito que a cidade também deveria fazer o mesmo. Esse evento vai inviabilizar as atividades do hospital veterinário. Por quê? Porque a entrada do Hospital Veterinário é de frente para o Mineirão”, alerta. 

Outra preocupação apontada pela instituição é a aprovação do corte de diversas árvores no entorno do Mineirão, que inclui ipês-amarelos, árvores protegidas pela legislação estadual. “É importante destacar que foi aprovado, até para nossa enorme surpresa, o corte dessas árvores, inclusive, do Ipê Amarelo, que é protegido”. 

De acordo com a reitora, os impactos de acesso à universidade ou às atividades da instituição não estão sendo abordados pelos organizadores do evento, nem pela prefeitura. "Ninguém tem conversado conosco sobre isso. Conversamos com os organizadores e manifestamos todas essas preocupações com eles. Eles mencionaram a possibilidade de se fazer a barreira sonora. Mas nós não sabemos que barreira é essa, como ela será feita. Até porque ela tem que ser aprovada pelas instâncias da UFMG se for o caso. E ela não resolve os outros problemas. Que altura tem que ser uma barreira para barrar um som dessa natureza?", questiona. "Não é uma coisa simples de fazer. Além do mais, há outros impactos também que não estão sendo considerados nesse sentido", completou. 

A reitora ainda avalia que a instituição deveria ter entrado neste processo de decisão anteriormente. Ela alega que a UFMG foi comunicada quando “o pacote já estava fechado”. “Acho que a gente deveria ter sido consultado muito antes, inclusive quando nós ficamos sabendo, já estava tudo resolvido, quando seria, a partir de quando. A gente deveria ter sido consultado com antecedência para que a gente pudesse junto avaliar. Nos preocupa muito o que vai acontecer daqui para frente”, avalia.

“Um grande número de pessoas serão afetadas até para acesso à própria universidade, já que três das entradas da universidade serão afetadas. A entrada da Avenida Presidente Carlos Luz, a entrada da Escola de Veterinária e a entrada da Abrahao Caram. Como você faz isso numa semana? É um espaço de pesquisa, de ensino, é importantíssimo, não apenas para a cidade, mas para todo o estado. Ali não é um lugar para se realizar um evento dessa natureza, que tem um impacto enorme no meio ambiente, na estrutura de todo o espaço. Então, nós avaliamos, a nossa posição como instituição, é que não pode acontecer naquele espaço, que devemos procurar um outro espaço onde esse evento possa ocorrer”, declara.