
Marcenaria é acusada de receber por móveis que nunca foram entregues
Clientes reclamam que os responsáveis pela empresa recebem o dinheiro e depois não respondem mais
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Siga noMelina Maciel é mãe de duas crianças e decidiu presentear os filhos com um quarto novo, com móveis planejados e encomendados, no Natal do ano passado. Com esse intuito, entrou em contato com uma empresa que executa projetos arquitetônicos, constrói peças de marcenaria e monta móveis na casa do cliente. Com o dinheiro que juntou, ela contratou os serviços da Artte Design, mas nunca recebeu os móveis que ansiava e decidiu expor a situação nas redes sociais, descobrindo novas vítimas.
A mãe decidiu fazer o projeto, principalmente, porque o filho mais velho tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), e os profissionais que o acompanham recomendaram que ele tivesse um espaço para si, saindo do quarto que divide com a irmã para um só dele. “Os professores e o pessoal que o acompanha falavam muito disso: que ele precisava de ter um espaço dele, um quarto adaptado para fazer as atividades”, conta. Ela buscou ajuda no grupo do condomínio onde mora, pedindo indicações para reformas.
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Uma vizinha indicou a Artte Design, porque já tinha tido contato com a empresa e gostou do serviço prestado, o que influenciou na escolha de Melina. “O (orçamento) deles era um pouco mais caro, só que como foi indicação e tudo mais, pensei: ‘Ah, vou fechar mesmo assim’”, disse. Antes da montagem dos móveis, ela pediu que a empresa organizasse um cronograma das atividades a serem executadas, para que ele se programasse, e o barulho não incomodasse o filho, que é mais sensível ao barulho por ter TEA.
Decorrido o prazo para a execução do serviço, de 45 dias úteis, previstos em contrato, a empresa não havia entregado nem mesmo o cronograma e não respondia às mensagens e ligações de Melina. “Foi demorando, e fui ficando preocupada, porque estava cada vez mais difícil conversar com eles. Quando chegou a semana em que os móveis deveriam estar montados, eles não tinham me enviado nenhum cronograma ainda e também não me responderam às mensagens. Foi quando fiquei três semanas sem conseguir contato algum”, relata.
Novos prazos foram combinados entre a empresa e a cliente, mas a demora na entrega seguiu, até que Melina desistiu de receber os móveis feitos pela Artte Design, depois de uma conversa, presencialmente, no escritório da empresa. Então, resolveu expor a situação no grupo de WhatsApp do prédio, onde recebeu a indicação, e colecionou relatos de outras pessoas que passavam pela mesma situação.
Ela diz que procurou o Departamento Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), onde foi orientada a procurar a Justiça criminal. “Não era só uma questão de relação de consumo, se tratava de estelionato. Era muito sério para eles (Procon) resolverem”, conta. O advogado da empresa propôs um acordo: parte do dinheiro seria devolvida, e parte ficaria com a Artte Design pelos danos morais gerados com a exposição do caso, mas Melina não aceitou o acordo, já que ela quer receber de volta o valor integral investido no projeto que nunca recebeu, e a situação ainda não teve uma resolução.
Outro problema, de acordo com a mãe, é que a Artte Design já teria dado baixa no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) da empresa. Além disso, ela relata que a sede da empresa mudou de lugar ao longo do desentendimento.
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O que diz o advogado da Artte Design
A reportagem do Estado de Minas procurou a empresa, que escolheu se pronunciar por meio do advogado Luiz Henrique Temponi. De acordo com ele, a Artte Design só é acusada de descumprir o contrato com uma única cliente, que é a Melina. “A situação é uma pessoa que teve um desacordo comercial, dentro de vários anos de prestação de serviço, pela nossa cliente, e ela está buscando outras pessoas, sem saber se elas chegaram a contratar a empresa, para denegrir a imagem da empresa na imprensa, em redes sociais e tudo mais”, afirma.
Luiz Henrique também disse que houve um atraso no cumprimento dos serviços, mas que Melina não aceitou acordar um novo prazo com a empresa e compareceu ao escritório, juntamente com o marido, criando um escândalo. “Não sei se ele (o marido) estava na plenitude da sua capacidade mental ali”, diz. Ele completa dizendo que “Melina se dirigiu até a empresa totalmente transtornada, acusando nossa cliente de estelionatária”.
Ele confirmou que o acordo foi oferecido: “Basicamente, seria uma reparação moral de R$ 10 mil, restaria R$ 13 mil a serem devolvidos de imediato, em três parcelas. O pagamento, da primeira parcela, já seria esse mês. Se ela tivesse concordado, ela já estaria com a parte do valor, já teria recebido”.
Sobre o CNPJ, o advogado afirma que, uma vez, a empresa já foi à falência e, depois, reabriu. Além disso, a Artte Design, de acordo com ele, continua funcionando no mesmo lugar. “Em nenhum momento está se escondendo. Lá é um galpão enorme, não tem como falar que está escondendo”, justifica.
Outras reclamações, mesmo problema
Viviane Maia, empresária e mãe de dois filhos, conta que fez um projeto com a Artte Design para dois apartamentos. Um deles é alugado para uma inquilina, e o outro, onde mora com a família. O atraso na entrega e montagem dos móveis planejados acabou fazendo com que ela perdesse o contrato com a inquilina, que decidiu não esperar mais pela montagem dos móveis no apartamento alugado. “Perdi um contrato, assinado já, por causa deles, porque eles me prometeram que, em tal data, o armário estaria todo instalado, e eu tinha repassado essa informação e colocado em contrato com a minha inquilina”, relata.
Uma arquiteta, que preferiu não se identificar, também conta que perdeu um cliente depois de indicar a empresa a duas pessoas. Uma deles entendeu a situação, mas a outra se revoltou com a profissional. “Até hoje não terminaram, e esse cliente quer que eu arque com esse prejuízo”, diz. “Perdi completamente a credibilidade”, completa.
Viviane também se sentiu lesada com a perda de credibilidade: “O que a gente tem de mais valioso é o nome da gente”, lamenta. Além disso, ela diz que “com isso, o nome (dela) está com restrição, por causa deles". "Comprei e não levei nada. Estou com restrição no meu nome”, reforça.
As duas mulheres também relataram que o CNPJ da Artte Design já não existe mais e que a empresa se mudou para outro local.
* Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata