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TRANSFOBIA

Minas é o segundo estado com maior número de homicídios de pessoas trans

O levantamento é feito com dados extraoficiais, o que revela a falta de estatísticas que contemplam a população trans

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Minas Gerais é a segunda unidade federativa com maior número de homicídios de pessoas trans e travestis, de acordo com levantamento da Rede Trans Brasil, que considerou as ocorrências de 2024. No ano passado, o estado teve 10 registros, ficando atrás apenas por São Paulo, com 17 casos, e seguido pelo Ceará, com 9. No entanto, as informações podem não ser precisas, uma vez que a Rede Trans depende de dados extraoficiais para realizar a pesquisa apresentada em dossiê.

 

Os levantamentos da organização, feitos por Sayonara Nogueira e Tathiane Araújo, evidenciam e detalham a realidade violenta a qual pessoas trans e travestis são submetidas. De acordo com o dossiê, que será lançado oficialmente no Dia Nacional da Visibilidade Trans (29/1), no Brasil, foram mortas ao todo 105 pessoas trans e travestis.

Entre as vítimas em Minas, Gabi Campbel, mulher trans e referência na cena artística de Belo Horizonte. Ela foi estrangulada em junho de 2024, aos 50 anos. A mineira morava na Europa, tinha uma empresa de laces e vinha ao Brasil passar férias e visitar familiares e amigos. O caso da mineira é um retrato dos homicídios de pessoas da comunidade no país: 93,3% das vítimas também eram mulheres trans ou travestis. 

A pesquisa da Rede Trans Brasil também aponta que a faixa etária média das pessoas mortas era de 26 a 35 anos e elas eram, em sua maioria, pessoas racializadas, incluindo pretas e pardas. Além disso, muitos dos homicídios registrados desde 2016 tiveram como vítima trabalhadoras sexuais. 

Sayonara Nogueira, secretária de comunicação da Rede Trans, enfatiza: são principalmente as “profissionais do sexo, mulheres trans, negras e periféricas” que estão morrendo. Ela, que também é professora da rede estadual, diz que os homicídios acontecem principalmente nas ruas e dentro de residências, cenário que nota ter sido cada vez mais recorrente. 

Invisibilidade

Além de denunciar a violência contra pessoas trans, o dossiê da Rede Brasil revela a falta de estatísticas, seja de vida ou morte, sobre essa parte da população. “Tenho que lembrar que são dados [do dossiê] subnotificados porque nós somos uma população invisível. Não existem dados oficiais sobre a nossa comunidade”, ela enfatiza e questiona como políticas públicas podem ser desenvolvidas sem estatísticas para se basearem.

É por causa desse desprovimento que Sayonara Nogueira precisa procurar na mídia cada uma das ocorrências para construir o relatório. A secretária de comunicação da Rede Trans conta que é responsável por esse processo desde 2016. Em 9 anos de monitoramento, foram contabilizados 1.181 casos. Sayonara diz que tem ativado alertas do Google para receber a divulgação — em jornais, redes sociais e outros meios de comunicação — de ocorrências em que pessoas trans são vítimas. 

Esse monitoramento, apesar de fundamental, expõe Sayonara, que é travesti, aos casos de violência contra a comunidade trans. “Fui me envolvendo com os casos e acabei desenvolvendo terror noturno, eu levantava de madrugada aos gritos, como se eu tivesse levando tiros e facadas. E acabei adoecendo psiquicamente, onde tive que fazer terapia, tomar medicação, pois surgiu uma ansiedade muito generalizada”, ela conta. 

Na preparação da edição de 2024, que será lançada na próxima semana, a professora conta que também teve muita dificuldade: “Cheguei a travar vários dias, sem dar conta de escrever uma linha.”

Combate à transfobia

Para Sayonara, a ferramenta mais poderosa de combate à transfobia é a educação. “Quando você tem um processo de escolarização, uma qualificação para o mercado de trabalho, acredito que esses números possam cair cada vez mais”, afirma. A professora defende que a inclusão de pessoas trans na população, por meio de empregos e até mesmo dentro do ambiente escolar, é uma maneira de lutar contra a violência. 

Diante dos índices apontados pela Rede Trans, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese-MG) afirma que fortaleceu “as ações e serviços de prevenção e combate à LGBTfobia, como compromisso com a promoção da igualdade de direitos e a justiça social, atuando de forma integrada e intersetorial com outros órgãos para proteger a população LGBTQIA+.” 

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Entre as medidas, a pasta cita a inclusão da comunidade nos registros de ocorrência (REDs), o que permitiu a atualização da Base Integrada de Segurança Pública (Bisp) e a criação do Painel LGBTQ+, que traz detalhes sobre crimes com causa presumida LGBTQIA+fobia. “Outra frente de atuação são as capacitações promovidas sobre direitos das pessoas LGBT e identidade de gênero, destinados a profissionais da segurança pública”, complementa.

*Estagiária sob supervisão da subeditora Regina Werneck

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