Jozeli Rosa em frente à Brejo, casa criada com o objetivo de ser um espaço para que a população LGBTQIA+ sinta-se segura e acolhida -  (crédito:  Laura Scardua/EM/D.A Press)

Jozeli Rosa em frente à Brejo, casa criada com o objetivo de ser um espaço para que a população LGBTQIA+ sinta-se segura e acolhida

crédito: Laura Scardua/EM/D.A Press

Quem passa na porta do número 1.468 da Rua Alagoas, no Bairro Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, e se depara com um graffiti emblemático e colorido, pode não imaginar que por trás daquele muro há um espaço de acolhimento, política, cultura e convivência para a comunidade LGBTQIA+ e o povo negro. Ali naquela casa, fica a Brejo das Sapas, com artigo feminino mesmo, coletivo gerenciado principalmente por mulheres negras e lésbicas.

 

Em meados de 2016, a Brejo surgiu da necessidade de a comunidade LGBTQIA+ encontrar um espaço de acolhimento e convivência, especialmente com o fechamento da Associação Lésbica de Minas Gerais (Alem) na época, conta Jozeli Rosa, mulher preta, lésbica, cria da favela Pedreira Prado Lopes e uma das fundadoras do coletivo, juntamente com a esposa Mariana Rosa. “O pertencer dá trabalho, você vai construir todo um processo de reconhecimento de afetos, e nós, enquanto população LGBTQIA+, sempre sentimos necessidade de ter espaços nos quais a gente se sinta seguro e confortável de estar presente”, explica Jozeli.

 

O ambiente da casa, cedida por familiares das idealizadoras, ilustra perfeitamente o que é defendido pela Brejo, como a pauta LGBTQIA+, a luta anti-racista, a ancestralidade e a cultura. O espaço é composto por uma ampla sala para reuniões, uma biblioteca, um quarto à disposição daqueles que precisarem, uma sala que pontualmente é emprestada para atendimentos psicológicos, diversas artes nas paredes e um congá para reverenciar o sagrado. Além disso, a área externa conta com uma horta, uma arte na parede em homenagem à escritora Carolina Maria de Jesus e uma parreira, cujos galhos filtram a luz do sol e garantem uma iluminação acolhedora para o ambiente.

 

 

No espaço, são promovidas atividades para diversão, informação e formação como discussões de livros e filmes, rodas de conversas para compartilhar vivências, banhos de cura, noites de forró e festas típicas. Para manter a casa o trabalho é coletivo. As pessoas que ali passam costumam ajudar na manutenção do espaço. Para arcar com os custos, a Brejo conta com apoio financeiro das integrantes, doações e arrecadações promovidas em alguns eventos.

 

A ação do coletivo não se limita à casa. Por exemplo, uma vez por semana, integrantes da Brejo vão ao Bairro Alto Vera Cruz, localizado na Região Leste da capital mineira, para propor atividades sobre direitos humanos para crianças. Com apoio do projeto Tomas Educação, iniciativa que leva arte e cultura para vilas, favelas e aglomerados, acontecem eventos como sessões de cinema.

 

“A Brejo das Sapas é um sonho que a gente não sonha sozinha. Foi sonhada pelas nossas ancestrais de existência e resistência. É dizer que nós somos amplificadores das vozes que vieram antes, que estão agora e vão vir no futuro”, diz Jozeli Rosa, que descreve a ação do coletivo como aquilombar.

 

* Estagiária sob supervisão da editora Vera Schmitz