Tempero árabe é símbolo de resistência no Mercado Central
Mercado Central também acolhe e dá visibilidade a sabores de outras partes do mundo
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A resistência está no sangue da família à frente do Empório Árabe da Hana. A matriarca, Hana Ahmad Khaouli, é palestina e vivia com a família no Líbano, país que os acolheu. Chegou ao Brasil em 1976 acompanhada do marido e de três filhos. Eles fugiam da Guerra Civil Libanesa, que durou de 1975 a 1990.
Em terras sul-americanas, a família se estabeleceu, inicialmente, em São Paulo, depois em Goiânia e, enfim, em 1980, em Belo Horizonte, onde se adaptou melhor ao clima. Hana, desde que chegou ao Brasil, trabalhava com comida, mas inicialmente, nada árabe.
Quando conheceu o Mercado Central, ela se encantou. “O então presidente do Mercado, seu Olimpio Marteleto, a ajudou a conseguir a loja em 1987. Ele perguntou o que ela fazia e ela disse que cozinhava comida árabe, mas que começaria vendendo frango assado e depois ia ensinar os mineiros a comer quibe”, explica a filha, Amine Ahmad Khaouli.
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Assim, Hana começou a se aproximar do público belo-horizontino, vendendo aquilo com o qual eles estavam familiarizados. “Ela vendia almoço. Arroz, feijão, macarrão e frango assado. Aí começou a fazer comida árabe no fim de semana e, de repente, os mineiros estavam pedindo para ela fazer mais quibe, esfirra e outros pratos da cultura dela”, acrescenta Amine.
Aos poucos, a comida brasileira deu espaço para a árabe, até que, em 2000, o cardápio se tornou exclusivamente voltado para a região de origem da família.
Hoje, quem está no dia a dia da loja é Amine, filha de dona Hana, que chegou ao Brasil com apenas cinco meses. “Trabalho com a minha mãe desde os 13 anos. Ia para a escola e vinha para cá. Depois comecei a trabalhar o dia todo e peguei o gosto do comércio. Éramos cinco filhos (Farah, Wadad, Sobhi, Muhieddine e Amine), hoje somos quatro, e nenhum outro seguiu esse caminho no Mercado. Tem que gostar, afinal, não temos fim de semana nem feriado. Estamos aqui de segunda a segunda”, diz a filha, que destaca sempre o sacrifício delas na construção dessa história.
Em 2016, Hana sofreu um acidente e não pôde mais cozinhar. “Ela falou comigo: ‘agora é com você’”, lembra a filha, emocionada. Atualmente, há clientes e funcionários que já enxergam a mãe em Amine. Duas lideranças femininas fortes e muito preocupadas, acima de tudo, com o produto que vendem. “Aprendi a cozinhar, administrar e comprar com a minha mãe.”
“Acarajé árabe”
Entre as delícias árabes, o carro-chefe do Empório Árabe da Hana é o quibe de carne recheado com coalhada (R$ 25). “Os mineiros o apelidaram de acarajé árabe”, comenta Amine. Ela e a mãe fazem questão de que o salgado seja original, feito como é no Líbano. Por isso, elas importam todas as especiarias e não abrem mão do rigor na escolha dos ingredientes.
O zaatar, por exemplo, mistura de ervas secas e especiarias popular no Oriente Médio, vai por cima da coalhada, deixando um gostinho especial.
“Quando você come meu quibe, sabe que ele é diferente. Meu trigo vem do Sul do Brasil, é extremamente saboroso, fica mais crocante. Minha carne é do Mercado. Só compro aqui por ser o produto mais fresco. Minhas especiarias vêm do Líbano, são originais e não abrimos mão disso”, explica.
Resistência
Na história da loja, não houve um dia sequer em que as bandeiras da Palestina e do Líbano fossem tiradas da decoração. Ambas traduzem um pouco da história de muita resistência e resiliência da família Ahmad Khaouli.
“A resistência dela, a luta pelo povo dela. O fato de essa bandeira continuar exposta nos últimos dois anos… Nós nunca deixamos de lutar nem expor quem somos, nunca tivemos medo. Mesmo longe, estamos lutando pela nossa terra e pelo nosso povo”, completa Amine.
A filha de Hana aproveita para destacar sua gratidão ao Líbano e ao Brasil, países que abraçaram a sua família e a de tantos outros refugiados. “Tivemos todo o apoio, todo o acolhimento. Todo refugiado que chega aqui deve ao Brasil, pois é um país que não o segrega.”
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino
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Serviço
Empório Árabe da Hana (@emporioarabedahana)
Loja 33
(31) 99785-9116
De segunda a sexta, das 8h às 18h; sábado, das 8h às 17h; domingo, das 8h às 13h