Jup do Bairro se diz 'desnuda' em seu primeiro álbum de estúdio
Cantora e compositora lança 'Juízo final' e aposta no ecletismo. Ela gravou heavy metal, com mineira Black Pantera, rap, funk e eletrônica
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O primeiro álbum de estúdio da paulistana Jup do Bairro, “Juízo final” (Meia Noite FM), reúne 15 faixas com múltipla sonoridade, do rock, funk, rap e pop à música eletrônica, trazendo parcerias com Indianara Siqueira, a banda mineira Black Pantera e Negro Leo.
“O disco é muito eclético. Vai desde o heavy metal com Black Pantera, passando pelo funk meio Miami Bass, anos 1990 e 2000, e também com grandes vertentes da música eletrônica, do rap e do hip-hop. Sou muito eclética e acho que as composições foram escolhendo para onde caminhar”, explica Jup.
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A produção ficou a cargo de Jup e FUSO ao lado de Apeles, Baby Plus Size, Exfera, CyberKills, Thiago Klein e VINEX.
A artista diz que o título reflete a vulnerabilidade de sua trajetória. “Me apresento literalmente desnuda”, avisa.
Vulnerável
“'Juízo final' se apresenta para mim como acerto de contas. É o momento em que me coloco extremamente vulnerável, mostrando que a gente precisa celebrar as nossas conquistas. Muitas vezes, a gente está tão preocupada com o próximo desafio que se esquece de reconhecer o que já foi feito.”
A relação de Jup com a arte começou cedo, na igreja. “Tive meu primeiro contato com grupo de louvor, com grupo de dança”, conta. Foi ali que nasceu o desejo de se expressar. “Sempre tive essa curiosidade, a vontade de performar, porque fui uma criança muito tímida. Quando tinha a provocação de maior protagonismo, conseguia me expressar melhor.”
Quando deixou a igreja, a adolescente Jup encontrou na escrita uma forma de se compreender. “Não havia nenhuma pretensão, até então, de que aquilo se tornasse poesia ou composições. Era uma espécie de terapia barata para entender o que estava passando pela minha cabeça e o que estava acontecendo com o meu corpo”, explica.
Saraus e batalhas
A partir da escrita, ela passou a participar de saraus e batalhas de rimas. Foi assim que descobriu sua presença na música. “Um dia, fui ler uma poesia minha e o DJ soltou a base. Comecei a recitar em cima dessa base, e a galera ficou muito animada e empolgada”, relembra.
A partir dali, Jup começou a fazer shows, especialmente em clubes de música eletrônica. “Não entendia muito bem o porquê de me convidarem para esses shows. Naquela época eu era mais punk, anarquista, tinha muitas coisas a falar e sentia que estragava as festas”, diz.
Paralelamente, Jup foi percebendo o crescimento das discussões relacionadas a travestis e ao discurso queer, o que a fez compreender os convites para festas e shows.
“Me convidavam por validação, por sentirem a necessidade de narrativas que fugissem do ciclo de arte que ainda era de classe média, muitas vezes branca, e que precisava de outros corpos”, afirma Jup.
O nome artístico surgiu de forma espontânea, a partir da identificação do lugar onde morava.
“Quando iam falar de mim, diziam: ‘a Jup do bairro’. Quando nos despedíamos no Centro de São Paulo, todo mundo seguia o mesmo caminho e eu era a única que ia embora sentido bairro. Jup do Bairro acabou pegando.”
A cantora considera o novo trabalho um convite ao acolhimento e ao autoconhecimento. “A mensagem que quero passar é de que a gente consegue superar o medo. Que possamos ver beleza e profundidade no medo. Ele pode nos paralisar, mas, sabendo andar lado a lado com ele, pode ser um facilitador, um lugar a ser superado. Isso nos faz entender que a vida é possível e a gente pode transformar a nossa realidade a partir da nossa verdade, da nossa vontade e, principalmente, com o nosso sonho.”
“JUÍZO FINAL”
• Álbum de Jup do Bairro
• Meia Noite FM
• 15 faixas
• Disponível nas plataformas de streaming e no YouTube
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria