Peça "Os irmãos Timótheo da Costa" estreia no CCBB BH
Dirigido por Luiz Antônio Pilar, espetáculo conta (e canta) a trajetória dos irmãos João e Arthur, pintores negros do início do século 20
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A história de dois importantes pintores brasileiros ganha nova vida nos palcos. O espetáculo “Os irmãos Timótheo da Costa” faz sua estreia nacional nesta sexta-feira (24/10), no CCBB BH, e segue em cartaz até 17 de novembro.
Dirigida por Luiz Antônio Pilar, com dramaturgia de Cláudia Valli e direção musical de Muato, a peça resgata o importante legado de João (1879-1932) e Arthur (1882-1922) Timótheo da Costa.
Reconhecidos por seu talento e esquecidos pelo Brasil, os dois foram precursores do modernismo brasileiro e enfrentaram o racismo na “belle époque carioca”.
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“Eles produziram muito, venderam muitas obras, não morreram pobres, mas foram completamente apagados da história das artes plásticas no Brasil. São pré-modernistas, mas não foram nem citados na Semana de Arte Moderna de 1922, quando o João ainda estava vivo”, afirma Pilar.
Inspirado nas obras dos irmãos expostas no Museu Afro Brasil, com curadoria de Emanoel Araújo, o diretor propõe a discussão sobre o racismo estrutural. “Comecei a estudar na Biblioteca Nacional, fui pesquisando e encontrei alguns acadêmicos desenvolvendo teses sobre a obra deles. Eles não têm biografia tradicional, escrita, então construímos a peça de uma forma que acaba sendo biográfica, sobre o que poderia ter sido a vida desses irmãos”, explica Luiz Antônio Pilar.
João Timótheo da Costa é interpretado por Luciano Quirino (da novela “Êta mundo melhor!”); Arthur Timótheo da Costa por Sérgio Kauffmann (de “Garota do momento"). Realidade e ficção se misturam para preencher as lacunas do apagamento.
A atriz Jeniffer Dias dá vida a Irene, pesquisadora contemporânea que decide escrever uma peça sobre os irmãos. Ela narra a história de João e Arthur, tentando convencer um diretor (Lucas da Purificação, da série “Impuros”) a apoiar sua ideia.
“É uma história de resgate, estamos apresentando uma história que todo mundo deveria conhecer, mas poucos conhecem”, afirma Jeniffer.
“São dois homens pretos grandiosos que trouxeram, de alguma forma, o pré-modernismo para o Brasil, mas quase não ouvimos falar sobre eles. Isso é muito forte e muito triste também. Dá uma supertristeza saber que tivemos esses dois grandes artistas com sua história apagada pelo racismo estrutural. Poder resgatar e trazer isso para o palco, usar meu corpo e meu trabalho para contar essa história é muito especial”, diz Jeniffer.
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CANÇÕES DO AVÔ
Os atores interpretam canções do avô dos irmãos, o maestro Henrique Alves de Mesquita, com criações contemporâneas de Muato.
Mesquita foi o primeiro músico preto a receber de dom Pedro II uma bolsa para estudar na Europa. Tem trajetória importante na arte brasileira, também ignorada. Pilar comenta que Henrique de Mesquita se envolveu com uma mulher branca na Europa e foi condenado por crime de sedução, mas ignorado pelo governo brasileiro.
“Canto em cena uma canção linda e superoriginal escrita pelo Muato. É muito forte. Todo mundo canta muito bem, são todos atores e cantores”, revela.
O fim da vida dos irmãos Timótheo da Costa se deu em hospitais psiquiátricos. No intervalo de 10 anos, ambos morreram com a mesma doença, demência paralítica, no Hospital dos Alienados, no Rio de Janeiro. No mesmo local, o escritor Lima Barreto (papel de Lucas da Purificação) foi internado.
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“No pós-abolição, o homem preto brasileiro foi levado ao estado de demência. É uma questão política mesmo: sem trabalho, sem emprego e sem educação, ele era levado a esse estado ou por ofício da bebedeira, do alcoolismo. Alguns deles, que eram geniais, não suportando toda essa estrutura racista, piravam mesmo”, conta o diretor.
A peça, segundo Pilar, busca reconstruir uma narrativa. “A história que vamos contar é uma investigação. Vamos descobrir quem foram os irmãos Timótheo da Costa, além do apagamento”, afirma.
“OS IRMÃOS TIMÓTHEO DA COSTA”
Estreia hoje (24/10), no CCBB BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Temporada até 17/11, de sexta a segunda-feira, às 20h. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).