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OSCAR 2025

Oscar 2025: Saiba por que 'Ainda estou aqui' fez história, mesmo sem ganhar

Com três indicações, longa de Walter Salles é a primeira produção brasileira a disputar na categoria principal, de Melhor Filme

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Todas as comemorações são permitidas, assim como os superlativos e as analogias - invariavelmente muitas delas serão sobre futebol. Pela primeira vez em 97 edições do Oscar, o Brasil foi indicado à principal categoria da premiação. "Ainda estou aqui", de Walter Salles, está entre os 10 longas nomeados a Melhor Filme.


Fernanda Torres, como previam muitas bolsas de aposta - e a ruidosa torcida verde e amarelo das redes sociais - foi indicada a Melhor Atriz. 

Por fim, a disputa de Melhor Filme Internacional, que no começo da corrida era o principal objetivo da produção, também terá o longa brasileiro.

É a quinta vez do Brasil nesta categoria, e também a primeira desde a indicação mais recente, 26 anos atrás com "Central do Brasil" que, como todos sabemos, tem Salles na direção e Fernanda Montenegro como protagonista. "Reparação histórica" grita a internet diante da indicação de Fernanda filha, lembrando que Fernanda mãe havia perdido para Gwyneth Paltrow no esquecível "Shakespeare apaixonado" (1998).


Fernanda Torres, desde o início da campanha de "Ainda estou aqui", vem mantendo a mesma posição de muita celebração e alegria pelo reconhecimento, mas sem deslumbramento. Mantém os pés bem no chão, mesmo diante do ineditismo das indicações desta quinta-feira (23/1).

Em entrevista à Globonews horas depois da tripla indicação do longa, afirmou que ela e Salles são naturalmente pessimistas. "Ele ainda mais, porque é botafoguense". Disse ainda que os dois trabalham na base do "sim sim sim" mas certos do "não".


Coerente como sempre foi ao longo da carreira - algo que vem reafirmando na intensa agenda de entrevistas, nacionais e internacionais, com momentos de muita franqueza - deverá manter a mesma posição durante o próximo mês e meio.


É bom lembrar que Walter Salles não é um forasteiro na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. "Ainda estou aqui", seu nono longa de ficção, é o terceiro a receber indicações ao Oscar. Além deste e do já citado "Central do Brasil", o cineasta dirigiu "Diários de motocicleta" (2004), que foi nomeado em duas categorias e levou uma, de Melhor Canção Original, para "Al otro lado del río", do uruguaio Jorge Drexler.

"Ainda estou aqui" narra a trajetória de Eunice Paiva (Fernanda Torres), esposa de Rubens Paiva (Selton Mello), ex-deputado federal morto durante a ditadura militar.

"Ainda estou aqui" narra a trajetória de Eunice Paiva (Fernanda Torres), esposa de Rubens Paiva (Selton Mello), ex-deputado federal morto durante a ditadura militar.

Alile Dara Onawale

As indicações de "Ainda estou aqui" obedecem a uma série de fatores. Além dos méritos da produção, o filme, distribuído pela Sony Pictures Classics, vem realizando uma intensa campanha de divulgação, em especial para os membros da Academia. Foi a mesma distribuidora, aliás, que emplacou as duas indicações de "Central do Brasil".


Mas há uma questão menos tangível. O drama inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva captura o zeitgeist, mesmo contando uma história de décadas atrás. Acompanhar uma tragédia familiar durante um período de exceção cala fundo não só a nós, brasileiros, tenhamos vivido ou não durante a Ditadura Militar (1964-1985), quanto a outras países e realidades. O anúncio do Oscar foi feito três dias depois da posse de Donald Trump, não custa nada lembrar.

"A arte pode durar ao longo da vida, mesmo em momentos difíceis como pelo qual essa maravilhosa Eunice Paiva passou. E a mesma coisa que está acontecendo agora no mundo, com tanto medo. Esse é um filme que nos ajuda a pensar em como sobreviver a tempos difíceis como esses", já havia dito Fernanda Torres em seu discurso de agradecimento, no início deste mês, ao receber o Globo de Ouro de Melhor Atriz.


As indicações não só do filme brasileiro, como de outros, a começar pelo campeão de nomeações, o francês-mexicano "Emilia Pérez" (que concorre em 12 categorias com 13 indicações, já que tem duas canções na disputa), vão de acordo com a Hollywood destes tempos.

É bom lembrar que neste 2025 completam-se dez anos desde a campanha #OscarsSoWhite. Ela foi criada na edição de 2015 da premiação, que não havia nomeado nenhum ator negro, bem como nenhuma mulher nas categorias de direção, roteiro e fotografia. Além disto, nenhum dos longas indicados na categoria principal tinham uma protagonista feminina.


Desde então, Hollywood passou pelo maior escândalo sexual de sua história (as acusações de abuso sexual contra o produtor Harvey Weinstein), que redundou no movimento #MeToo, e por uma pandemia, que fez o público fugir das salas de cinema.

A falta de diversidade entre os votantes da Academia vem sendo sanada com a inclusão de novos membros - atualmente, em torno de 10 mil, com profissionais de todo o mundo. Isto também justifica a escolha de uma elenco de filmes, atores e diretores que fogem do padrão hollywoodiano. Fernanda Torres e a espanhola Karla Sofía Gascón, a primeira atriz trans indicada na categoria, tiraram do páreo estrelas como Nicole Kidman e Angelina Jolie.


Diante de tantas boas notícias, o que nos resta, neste momento, é esperar que o resultado de "Parasita" (longa sul-coreano que em 2020 ganhou Melhor Filme, Direção, Roteiro Original e Filme Internacional) se repita com "Ainda estou aqui". Diante do ponto que chegamos, a gente se permite um pouco de ufanismo.

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