Daniel Jobim não conhecia Kell, mas a convidou para dividirem o palco ao ouvi-la cantar nA TV. sábado, a dupla se apresenta em BH -  (crédito: Deivide Leme/divulgação)

Daniel Jobim não conhecia Kell, mas a convidou para dividirem o palco ao ouvi-la cantar na TV.

crédito: Deivide Leme/divulgação


A ideia foi de Roberto de Oliveira, ex-empresário de Elis Regina, mas poucos acharam que daria certo. Juntar Elis e Tom Jobim num mesmo disco era impossível. O próprio Tom rechaçou a proposta. “Essa gauchinha está com cheiro de churrasco até agora”, o maestro respondeu a Oliveira, duvidando da maturidade musical da cantora.

 


Depois de muita briga entre Tom e a tal gauchinha, o álbum “Elis & Tom” virou realidade em 1974, tornando-se capítulo especial da história da MPB.

 

 


Corta para 2024. Passados 50 anos do lançamento de “Elis & Tom”, novo encontro improvável se deu na montagem de um show-tributo ao álbum. De um lado, Daniel Jobim, filho do músico Paulo Jobim, neto de Tom e responsável por manter viva a obra do avô. Do outro, a cantora pop Kell Smith, que ganhou projeção com as músicas “Era uma vez” e “Girassol”.

 


No próximo sábado (6/4), a dupla faz apresentação única no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, na capital mineira.

 

 


“Elis foi o meu primeiro amor e também o meu primeiro coração partido”, brinca a cantora, de 31 anos, lembrando como conheceu a “Pimentinha” e como descobriu que ela tinha morrido.

 


“Ela foi a minha porta de entrada para ser completamente apaixonada e obcecada por música brasileira. Ter a oportunidade de honrar a pessoa que me colocou aqui é extremamente gratificante”, comenta.

 

 

Vitrola velha

 

Kell tinha 11 anos quando conheceu as músicas de Elis. Garota de origem humilde, ela estava em casa, em São Paulo, quando o pai chegou com a vitrola velha e estragada que achou na rua. Dentro do toca-discos antigo havia um bolachão de “Falso brilhante”, lançado em 1976.

 


“Meu pai consertou a vitrola. Quando ouvi o disco, fiquei apaixonada pelas músicas, pela voz daquela mulher e pela maneira como ela interpretava as canções. Decorei todas as faixas e fui pedir para meu pai me levar ao show dela. Ali, descobri que ela já não estava mais entre nós. Por isso, Elis foi meu primeiro coração partido”, conta Kell.

 


Daniel não sabia da devoção de Kell por Elis. Por acaso, viu-a cantando músicas da “Pimentinha” num programa de TV e decidiu chamá-la para ser a intérprete a seu lado no show “Elis & Tom”.

 


Os dois mal se conheciam. Aliás, Kell conhecia Daniel, pois foi a shows dele na capital paulista. Numa dessas vezes, chegou a parar o táxi onde Daniel estava para lhe pedir para tirar uma foto com ela.

 


“E ela me disse que tem essa foto até hoje”, comenta o músico, soltando uma risada serena. “O que mais me chama a atenção em Kell é a fidelidade dela ao estilo da Elis”, diz.

 


“Kell não fica tentando mudar muito. Tem o próprio estilo de cantar, mas não fica forçando a barra para aplicar esse estilo nas músicas da Elis. Tudo soa de maneira natural na voz dela. E, claro, fica tudo perfeito”, elogia.

 


A química deu certo. Antes de começar a turnê, em 9 de março, no Rio Grande do Sul, a dupla teve apenas sete dias para praticamente aprender as 21 músicas do repertório.

 


Embora o disco tenha 14 faixas, Daniel e Kell decidiram inserir outras, como “Garota de Ipanema” e “Wave”.

 

 


Daniel já tocou composições do avô, mas nunca havia interpretado as músicas de “Elis & Tom” com os arranjos originais, criados por Tom e César Camargo Mariano. As principais dificuldades, conta o pianista, foram as alterações no tom das canções e as harmonias.

 


Já Kell precisou adequar as canções a seu tom de voz, além de cantar no andamento do piano de Daniel e da orquestra regida pelo maestro Bruno Alves.

 

Documentário

 

Porém, o mergulho naquele universo não se limitou aos sete dias de ensaio. “Eu e o Daniel conversávamos muito sobre como o disco foi feito, as diferenças artísticas entre os dois e como isso influenciou o resultado final. Também falávamos muito sobre o documentário”, diz Kell, referindo-se ao longa “Elis e Tom, só tinha de ser com você” (2022), de Roberto de Oliveira e Job Tom Azulay, outro tributo ao álbum.

 


“Uma confluência de fatores fez o álbum chegar ao patamar onde chegou”, avalia Kell. “Ele une dois ícones, dois gênios, dois seres humanos extremamente sensíveis. Além disso, havia as outras pessoas envolvidas, cada músico. O César Camargo Mariano nos arranjos, aquele ambiente de estúdio, a história que cada um viveu e até os conflitos entre Tom e Elis. Tudo isso foi importante para a densidade do álbum, para ele permanecer tão potente até hoje, meio século depois”, conclui Kell Smith.


Presente de aniversário

 

Depois de quase seis anos, quando lançou o disco “Girassol” (2018) em Belo Horizonte, Kell Smith retorna à capital mineira. Desta vez, realizando um sonho: cantar no Palácio das Artes. A apresentação terá um gostinho especial, já que ocorre na véspera do aniversário dela.

 

“Estou muito feliz por vocês me receberem de novo. Era um sonho poder tocar no Palácio das Artes. E olha que presentão, né? Estrear no Grande Teatro fazendo um show em homenagem a Elis, minha artista preferida. Não poderia pedir um presente melhor”, destaca.


“TRIBUTO A ELIS & TOM”


Show de Daniel Jobim e Kell Smith. Sábado (6/4), às 21h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Inteira: R$ 260 (plateia 1), R$ 240 (plateia 2) e R$ 180 (plateia superior). Meia-entrada na forma da lei. À venda na bilheteria do teatro e na plataforma Eventim. Informações: (31) 3236-7400