

Mães superprotetoras
Vide as situações recentes de livros sendo censurados por algumas prefeituras do país por reivindicação dos pais
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO

Quase toda mãe busca cuidar dos filhos, satisfazendo suas necessidades e cuidando para que não se exponham a perigos. No entanto, algumas mães exageram no controle e na proteção e podem acabar impedindo que seus filhos experimentem o mundo, que aprendam a lidar com problemas e frustrações, e que tenham autonomia. São as mães superprotetoras. Também existem pais superprotetores, mas como o trabalho de cuidado ainda é atribuído às mulheres, as mães são maioria.
O excesso de proteção é prejudicial porque torna o sujeito inseguro e incapaz de lidar com as adversidades da vida e até mesmo com questões simples como resolver alguma questão com um professor ou fazer uma entrevista de emprego. A mãe superprotetora acaba impedindo o desenvolvimento dos filhos que crescem sem autonomia.
Maria Montessori foi uma educadora, pedagoga e médica que dizia: "Nunca ajude uma criança em uma tarefa que ela sente que pode realizar sozinha”. Quando a criança está aprendendo a andar, eventualmente ela vai cair; quando está aprendendo a se alimentar sozinha, ela vai se sujar, mas isso faz parte do desenvolvimento e é preciso controlar os riscos, mas deixá-los fazer, errando até acertar, é assim que se aprende.
A psicanalista Vera Iaconelli, em seu livro “Manifesto Antimaternalista”, diz que nós somos condenadas a viver sob a opressão imperativa do inescapável do instinto materno, que simplesmente não existe! E que algumas teorias psicanalíticas ajudaram a colocar a mulher nesse papel de responsável pelos filhos e por tudo o que pudesse acontecer com eles: “Por excesso ou por falta, se a criança se revelasse neurótica, psicótica ou perversa, a mãe estaria diretamente implicada no resultado”.
16/06/2024 - 04:00 Criança não deveria ser mãe 23/06/2024 - 00:00 Educação sexual nas escolas 07/07/2024 - 04:00 Estereótipos de gênero
Qualquer semelhança com a realidade, essa culpa materna que colocaram nos nossos ombros, não é mera coincidência. Por medo do que pode acontecer aos filhos, algumas mães acabam pecando pelo excesso de proteção. E o resultado disso a gente vê em diversas situações que vão de jovens levando seus pais a entrevistas de emprego, mães ligando para bater boca porque o filho não foi contratado, pais indo à faculdade reclamar com os professores sobre a nota dos filhos. Mães acompanhando filhos adultos em consultas médicas e respondendo perguntas que o médico faz para o filho como se ele fosse incapaz de respondê-las.
A superproteção tem relação com o controle sobre a vida dos filhos para que eles não tomem as próprias decisões. São mães que falam pelos seus filhos e não lhes dão autonomia. Dessa forma, eles não se tornam adultos independentes e funcionais, embora tenham plena capacidade para tal.
A superproteção também tem relação com preconceitos, como o medo de que os filhos conheçam realidades diferentes da realidade de sua família, que convivam com o diverso nas escolas ou nos espaços públicos, que leiam livros que falem de temas relacionados ao racismo, a pessoas LGBTQIAPN+, à sexualidade. Vide as situações recentes de livros sendo censurados por algumas prefeituras do país por reivindicação dos pais, como o caso recente do livro “O menino marrom”, do Ziraldo, por causa de um pacto feito entre um menino negro e um menino branco (haveria esse rebuliço todo se fossem dois meninos brancos?
Filhos são sim motivo de preocupação para nós, mães, mas querer criá-los dentro de uma bolha de superproteção não é bom para eles, nem para nós. Filhos a gente cria para o mundo, e para que eles vivam bem, é preciso aceitar que o mundo é diverso e que as pessoas são diferentes.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.