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Estado de Minas FUTEBOL MINEIRO

Cruzeiro: Sem dourar a pílula

Ronaldo compara Cruzeiro a paciente na UTI, prevê até dois anos para ter equilíbrio financeiro, mas diz que montará time para brigar pelo acesso à Série A


12/01/2022 04:00 - atualizado 12/01/2022 11:09

Novo gestor celeste, o Fenômeno falou com jogadores na Toca da Raposa, prometeu priorizar a volta à elite, mas sem se descuidar do equilíbrio financeiro
Novo gestor celeste, o Fenômeno falou com jogadores na Toca da Raposa, prometeu priorizar a volta à elite, mas sem se descuidar do equilíbrio financeiro (foto: fotos: GUSTAVO ALEIXO/CRUZEIRO)

A primeira entrevista de Ronaldo Nazário depois de assinar carta de intenção para adquirir 90% das ações do Cruzeiro Sociedade Anônima do Futebol (Cruzeiro SAF) foi tão certeira quanto ele era na frente dos goleiros. Ainda que não tenha apresentado soluções para os enormes problemas financeiros do clube, o ex-atacante mostrou querer enfrentá-los sem recuar e não fez média com a torcida, que está na bronca depois que o goleiro Fábio não teve o contrato renovado.

Durante cerca de 30 minutos, ele respondeu às perguntas enviadas previamente por jornalistas e não fugiu de nenhum assunto. Evitou fazer promessas, falou abertamente sobre a situação crítica do clube e aproveitou para agradecer aos jogadores que aceitaram reduzir vencimentos para se adequarem à nova realidade da Raposa, cujas dívidas chegam a R$ 1 bilhão.

“O Cruzeiro é um paciente em estado grave, na UTI, e estamos oferecendo o tratamento necessário para que saia o mais rápido possível dessa condição. Que possamos fazer o máximo para que o Cruzeiro seja o clube grande que merece ser”, afirmou o agora empresário, cujos investimentos podem chegar a R$ 400 milhões nos próximos anos, segundo a empresa XP, que é intermediária entre ele e o clube.

Além da entrevista coletiva, Ronaldo conversou virtualmente com sócios-torcedores da categoria Diamante, que pagam R$ 1 mil por mês. E conheceu as instalações da Toca da Raposa II, os jogadores, a nova comissão técnica e os funcionários do CT azul, devendo permanecer na capital mineira até amanhã. Deixou claro que conta com a torcida para tirar o clube do buraco em que ele se meteu.

Saída de Fábio

Fábio foi e sempre será um ídolo para o Cruzeiro e para a torcida cruzeirense. Nós, diante do cenário atual, fizemos um esforço muito grande para oferecer uma proposta decente a ele, respeitando a história dele no clube, a trajetória, mas, infelizmente, durante a negociação, houve negativa por parte dele, o que também nos pegou de surpresa, mas entendemos que todo o sacrifício que deveríamos ter feito foi feito. Temos de virar a página e seguir adiante. Os desafios do clube são gigantes. A dívida que encontramos... e a cada dia que abrimos a gaveta encontramos alguma surpresa negativa. Ainda neste processo de análise do clube, a gente está fazendo o máximo para mudar o padrão, pois o clube, principalmente nos últimos três anos, contraiu uma dívida milionária, bilionária eu diria. Então, todo o esforço que a gente poderia ter feito para manter o Fábio e oferecer a ele um período para ele se despedir da torcida, da casa que foi sua durante muitos anos, foi feito. Uma pena que não chegamos a um acordo. Mas precisamos seguir adiante. O Cruzeiro é maior do que qualquer atleta, qualquer nome que você possa imaginar, o Cruzeiro tem de ser sempre o protagonista.

Cenário trágico

Na nossa gestão, o que entendemos é que o Cruzeiro tem de gastar somente aquilo que arrecada. Infelizmente, o cenário hoje é bem complicado, com receitas dos próximos dois anos já antecipadas, inclusive já gastas. Encontramos um cenário trágico no clube, mas precisamos estancar o sangramento. Temos de cuidar. O Cruzeiro é um paciente em estado grave, na UTI, e estamos oferecendo o tratamento necessário para que saia o mais rápido possível dessa condição. Que possamos fazer o máximo para que o Cruzeiro seja o clube grande que merece ser.

Ronaldo Nazário
"Precisamos sanear o clube, encontrar o equilíbrio entre receita e custo. Vamos precisar de um a dois anos para encontrar o equilíbrio financeiro"

Equipe competitiva

Precisamos sanear o clube, encontrar o equilíbrio entre receita e custo. Temos de buscar novas receitas para que o clube tenha funcionamento adequado. Isso não significa que não estamos pensando em ter uma equipe competitiva. Pelo contrário, estamos trabalhando muito para que nosso time seja muito competitivo. O Pedro Martins (diretor-executivo), o Paulo André (responsável pela coordenação do futebol) e o Paulo Pezzolano (treinador) estão trabalhando para encontrar jogadores que se encaixem na realidade financeira do clube, mas que possam nos ajudar a voltar à Primeira Divisão, que é nosso principal objetivo. (…) Vamos precisar de um a dois anos para encontrar o equilíbrio financeiro. Mas estou muito animado, sou entusiasta de que teremos time competitivo.

Gestão eficiente

Nós ainda estamos descobrindo o tamanho do buraco que existe no clube. As necessidades vão aparecer, mas de imediato temos algumas dívidas que não podem ser ignoradas e que cumpriremos com elas. Essas dívidas, inicialmente, para os anos de 2022 e 2023, totalizam R$ 140 milhões. Não que seja esse valor diretamente pago aos clubes, tem um parcelamento, e temos a possibilidade ainda de negociar com os clubes e vamos procurar fazer. Não existe ainda o planejamento de aporte financeiro. Primeiro, nós estamos criando um novo padrão de gestão. Acho que é o mais importante. A maior ajuda que podemos dar neste momento ao clube é criar esse novo padrão de gestão. Um padrão de gestão eficiente, sustentável. Acho que essa é a principal mensagem que posso deixar ao nosso torcedor. Aqui nós faremos uma gestão totalmente eficiente, não gastaremos nem um centavo a mais do que arrecadaremos. Logicamente que vou cumprir com os meus compromissos contratuais de acordo com a aquisição da SAF. Portanto, quando tiver algum planejamento ou cronograma com relação a isso, vamos voltar a falar e deixar isso um pouco mais claro e transparente para vocês.

Diagnóstico financeiro

Assim que anunciamos a compra da SAF, começamos a mergulhar no que era o orçamento do ano do clube. A primeira coisa que encontrei foi um orçamento de R$ 90 milhões, com uma receita de R$ 60 milhões, que já estão gastos. É realmente uma conta que não bate, não entra na minha cabeça o funcionamento de um clube assim. Nós já fizemos um planejamento do que queremos para a área esportiva, em termos de direcionamento. Conseguimos, com grande esforço, inclusive de muitos atletas, que aceitaram renegociar o contrato. E aqui eu deixo já um agradecimento especial a esses atletas, que entenderam a situação gravíssima do clube e decidiram permanecer no clube para conseguir o objetivo maior. Hoje, nós conseguimos baixar o orçamento para R$ 35 milhões, é quase três vezes menos. Portanto, ainda temos muito trabalho a fazer. Temos muitos cortes a fazer. É um momento de ações impopulares, mas que são extremamente necessárias para que o clube volte a ser grande, como não deveria ter deixado de ser.

Apoio da torcida

O cenário é muito pior do que eu imaginava e, até por isso, é muito importante que todos estejamos na mesma página para entender que a situação do clube é muito difícil. Mas tenho certeza de que com essa gestão eficiente, com um novo planejamento de marketing e com o apoio de nossa torcida, vamos conseguir receitas novas e cumprir o pagamento das dívidas dentro dos prazos. (…) Nosso principal pilar é o torcedor. É para quem vamos fazer todo o sacrifício para que o clube volte a ser grande. Queremos que o torcedor volte ao estádio e faça parte dos nossos programas de sócio. Encontramos o clube com apenas 10 mil sócios. Acho um número muito pequeno para a grandeza do Cruzeiro. Hoje, estamos chegando a 15 mil sócios, ainda acho baixo para a grandeza do clube. Mas, naturalmente, nosso torcedor espera uma reação nossa.

Possibilidade de desistir do negócio

Tecnicamente, sim (sobre chance de volta atrás), o contrato prevê uma saída. Mas está longe da minha cabeça, do meu pensamento, desistir do projeto. No momento, estamos realmente no processo de análise do clube, entender o tamanho do buraco, da dívida, entender os credores, enfim, tem muita coisa por entender ainda no clube. Mas o meu desejo é continuar e ficar aqui até fazer com que o clube volte a ser grande igual era.

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