Arte Marcial Aikido

O Jo (bastão) é uma das armas que o praticante usa para realizar os movimentos, além de ajudar na autoconfiança e na postura

Marcos Vieira /EM/DA. Press


O aikido é uma arte marcial tradicional japonesa, especializada na harmonização de conflitos. No sentido literal da palavra, é o "caminho de harmonização da energia vital". Arte marcial muito usada por policiais em todo o mundo, ensina a usar a força não violenta, possibilitando que a pessoa, quando preciso, seja controlada sem que se machuque. É o que ensina o sensei de aikido, Rômulo Lagares.

Rômulo pratica aikido desde criança. Sua relação com a técnica faz lembrar a história do pai, Alcino Lagares. O início de Alcino nas artes marciais foi no judô. O hoje conhecido “Sensei Lagares”, aos 16 anos, saiu do interior de Minas e chegou a  Belo Horizonte para assumir o cargo de cadete da Polícia Militar de Minas Gerais, conquistado em concurso. A partir de 1964, passou a morar na academia da PM.

Rômulo Lagares (D), sensei de aikido

"Não se trata de não cair, mas cair bem, sem se machucar, e depois levantar"

Marcos Vieira /EM/DA. Press
O sensei de Alcino no judô, capitão Albano Augusto Pinto Corrêa Filho, que ia ao Japão costumeiramente, de uma de suas visitas, em 1980, trouxe na bagagem um relatório da polícia de Tóquio com diversas informações, entre elas o conhecimento sobre o aikido, que poderia inclusive formar os princípios que inspirariam uma forma de organização filosófica acerca do policiamento comunitário. Dessa maneira, Alcino conheceu a filosofia oriental e acabou se tornando o que se pode chamar de um humanista na segurança pública, pelo o que é atualmente reconhecido.


Proteção

"O aikido é uma preparação para a vida. Segundo seu fundador, transforma a vida em um paraíso terrestre, concilia as diferenças que existem no mundo. Tem como filosofia a proteção da pessoa humana, inclusive do agressor. Faz com que ele entenda o erro da agressão. A violência no aikido é vista como um desequilíbrio. É uma arte marcial que visa entender e solucionar conflitos, não criar mais um", explica o sensei.

Praticante de judô desde os cinco anos, chegando a integrar a equipe de competição de um clube em BH, Rômulo foi assim levado ao aikido pelo pai, nos anos 1980. De lá para cá, a relação de pai e filho com a arte marcial rendeu frutos. Desde 2004, eles mantêm a academia (termo tradicional dojô) BuTokuDen, dedicada ao aikido na capital mineira, que hoje tem entre 30 e 40 alunos. 

Golpes na arte marcial Aikido

Rômulo Lagares (à esq.) aprendeu com o pai, Alcino, as tÉcnicas de aikido

Marcos Vieira /EM/DA. Press

O aikido pode ser praticado com as mãos livres ou com armas tradicionais japonesas, espadas e bastões

Considerando os praticantes que já passaram por lá, sendo alguns inclusive professores espalhados por Minas, esse número ultrapassa 200 alunos. Nas turmas, a idade mínima é de 11 anos, e a intenção para 2024 é ampliar as aulas para a faixa etária entre cinco e 10 anos. Ainda para este ano, deve ser aberto um grupo acima dos 60, incluindo uma das vertentes do aikido e da meditação zen.

Respeito

O aikido pode ser praticado com as mãos livres ou com armas tradicionais japonesas, espadas e bastões, ensina Rômulo. Com movimentos não só de alavanca, circulares, naturais, leves e funcionais, que evitam, por exemplo, lesões na coluna ou nos joelhos, ele diz que esse é um esporte respeitoso. "O treino não se volta para a competição, e, sim, para a cooperação e o convívio. A ideia é treinar junto, sem que um queira derrotar o outro", explica.

A prática ajuda no equilíbrio físico e mental, e relativiza a necessidade da força bruta, segundo Rômulo."Não se trata de não cair, mas cair bem, sem se machucar, e depois levantar", aponta. 

Sobre os benefícios à saúde, Rômulo elenca, em primeiro lugar, a chance de perceber a si próprio e aprender a cuidar bem do corpo em movimento. O aikido favorece ainda a coordenação motora, o condicionamento físico, a queima de gordura, o tônus muscular, a flexibilidade e a resistência cardiovascular. Mais que isso, também é uma recomendação de fisioterapeutas para tratar e prevenir a lesão por esforço repetitivo (LER) e a tendinite, por exemplo. 

"Considerando o processo de envelhecimento, o praticante se desenvolve a vida inteira. Meu pai tem 75 anos, eu quase 50. Ninguém fala que temos essa idade. Pessoas com idade avançada praticam como garotos", reforça.

Leia também: Mais da metade da população brasileira não faz atividade física; diz estudo

Cair e levantar

O aikido ensina seus praticantes técnicas de defesa pessoal, a evitar conflitos e situações de risco, e, a gerenciar o medo da queda, por exemplo

A engenheira mecânica e estudante de fisioterapia Maíra Gabriela Martins Silva, de 30 anos, começou a praticar o aikido aos 14 anos, em Pará de Minas, sua cidade natal, e seguiu até os 20. Quando chegou a Belo Horizonte para estudar, parou com as aulas, retomando na escola de Alcino e Rômulo em 2021. Ela encontra diversos benefícios com o aikido, entre os quais a melhora do tônus muscular e a flexibilidade, favorecida com a prática de alongamentos.

À medida que evolui, Maíra percebe pontos positivos no que diz respeito ao aspecto mental. Diz que fica mais confortável e relaxada, ainda mais pela conexão com as técnicas de meditação e respiração. "Também me ajuda em questões que podem parecer bobas, mas não são, como gerenciar o medo. Os senseis falam muito sobre o medo da queda, sobre cair e levantar, e isso tem um sentido simbólico. Tem a ver ainda com a defesa pessoal, a evitar conflitos e situações de risco. O aikido tem o aspecto filosófico, além da técnica em si. Aprendo muito", conta.

Frederico Ribeiro de Matos tem 34 anos e é policial federal. Pratica o aikido desde os oito anos e nunca parou. Seu primeiro objetivo, conta, era adquirir conhecimentos sobre defesa pessoal, para que pudesse lidar melhor com situações vividas na escola. Depois de visitar academias com foco em outras modalidades de artes marciais, a predileção foi mesmo pelo aikido, e Frederico começou na escola de Alcino Lagares em 1998, ainda quando funcionava no quartel da PM. Para ele, outros benefícios da arte marcial incluem enfrentar problemas com maturidade, contornar dificuldades, além da melhora na construção das relações interpessoais. "Você precisa do corpo do outro para entender os movimentos", diz.

Ele ingressou na Polícia Federal há sete anos. Ao assumir o posto, em 2016, se mudou para Altamira, no Pará, onde acabou abrindo uma escola de aikido. No início de 2022, voltou a Belo Horizonte. A escola no Norte do Brasil continua funcionando com a gestão de uma de suas ex-alunas. No exercício da profissão, o aikido para ele tem um significado em particular. "No meio policial, aplico os princípios usuais do aikido no cotidiano da profissão, na conduta acertada com os cidadãos e, também com o infrator, que precisa ser tratado com respeito. Com o aikido a busca é pela harmonia com as outras pessoas, mas principalmente consigo mesmo." 

Fique por dentro

Mas o que é aikido?
 
O significado da palavra é “o caminho da unificação de energia”. Em japonês, "ai" quer dizer harmonia/união, "ki" significa energia, e "do", doutrina/caminho. O "do", por sinal, está presente nos nomes de outras artes marciais, como o judô, kendo e taekwondo. 

Quem foi um dos precursores?
 
O aikido (arte da paz) é uma arte marcial japonesa desenvolvida por Morihei Ueshiba (1883-1969), mestre do Japão, considerado um dos melhores da história das artes marciais. 

Qual é o principal objetivo?
 
Na prática, seu principal objetivo é a formação do ser humano pela unificação e fortalecimento do corpo, mente e espírito. No aikido tradicional, o treino é feito com três armas: jo (bastão), bokken (espada de madeira) e o tanto (faca de madeira) - o manuseio delas propicia proteção e o conhecimento das técnicas de defesa pessoal.