Newton Cesar

Em Própria Carne, Newton Cesar descreve um mundo em que um vírus ataca as plantas e não se pode comer mais vegetais, hortaliças, legumes, frutos

Arquivo Pessoal
 
 
As pandemias fazem parte da história humana. Febre tifoide, varíola, peste negra, gripe espanhola, ebola, aids, COVID-19. Todas essas doenças (e outras que não se tinha conhecimento na antiguidade) dizimaram milhões de pessoas. Mais recentemente, a COVID mostrou ao mundo que, apesar do conhecimento e dos avanços tecnológicos e científicos da sociedade, um vírus pode ser tão destrutivo quanto várias bombas atômicas. Em outras palavras, pode ser o responsável pela extinção de todo o tipo de vida.

Essa é a premissa do romance de Newton Cesar, o Própria Carne, Editora Minotauro. O livro, que foi escrito no período mais delicado da COVId-19 (de 2020 a 2022), revela uma realidade distópica, na qual um novo vírus surge com um poder de destruição nunca visto.

Nesta ficção, o vírus ataca as plantas e vai espalhando sua infecção por toda a Terra. A principal consequência é a contaminação em cadeia: plantações, animais, humanos. Já na epígrafe da obra, o leitor pode ter noção do que o espera: "Que lugar é esse que, por mais que eu estique a vista e traga o horizonte para dentro dos meus olhos, não vejo animais, não escuto os pássaros? Que Terra é essa que, apesar de árvores e plantas, delas nada se pode comer?"
Maria, personagem principal do romance, ao se fazer tais perguntas, nada entendeu. Foi necessário o caos agarrar e espremer suas raízes na vida de todos para que ela compreendesse que a Terra onde fora feliz, não a alimentaria mais. Nem a ela, nem a ninguém.

Atmosfera perturbadora

Em Própria Carne, o escritor, ao lançar mão da realidade e modificá-la a fim de dar vida ao imaginário, produz uma obra com atmosfera perturbadora, que amplia ainda mais o drama vivido recentemente em nível mundial. O caos social, o luto e os acontecimentos surreais enfrentados tira o leitor do lugar comum e o faz se questionar: “E se fosse verdade?”.

Newton Cesar prende o leitor e, no tempo certo, amarrando capítulos, revela os acontecimentos. Apesar do suspense, o livro é ágil. Logo se descobre que o vírus desconhecido ultrapassou fronteiras e chegou nos lugares mais remotos. Não houve pessoa no mundo que não fosse atingida pela doença desconhecida.

Leia: Escritora britânica aborda em livro os pequenos traumas.

A Organização Mundial de Saúde e indústrias de carnes no mundo todo assumiram que a Terra e tudo o que nela vivia estavam condenados. À busca de salvação, construíram colônias. Dentro delas, Domos. Feito a Arca de Noé, pessoas limpas, sem o vírus, foram selecionadas e enviadas aos Domos com o objetivo de povoar uma nova Terra Prometida.

Diante desse cenário, o extremismo religioso ganha espaço na narrativa. O que é para ser um alento para a alma, revela-se em dor e exploração. Sob o olhar e a fé religiosa à espera da nova Terra, dentro do Domo, a personagem principal e as outras mulheres são vítimas de extremo machismo.

As perguntas que surgem, são: Quais são os planos de Deus para Maria e a mulheres “limpas” dentro dos Domos? Qual será o destino das pessoas ao enfrentarem o poder do vírus e a irracionalidade causada pela pandemia?

Leia: Superbactérias podem causar uma nova pandemia?

Newton Cesar destaca o fato de o livro trazer um tema já vivido por todos: a pandemia: "Mas não só isso, há a condição da mulher no cenário devastador e distópico, há a questão da submissão, do machismo extremo, da teocracia impondo normas". 

Mundo sem vegetais, horaliças, legumes e frutos

O escritor conta como nasceu o romance: "Bem, certa vez, li que existem mais de 200 vírus e viroides para plantas descritos no Brasil. Também li que os cientistas da Universidade de Marselha identificaram um vírus em certos tipos de pimenteiras que poderia infectar o ser humano, causando febre e dores no corpo. Fiquei com isso na cabeça, pois a preocupação que temos, de modo geral, é sobre os efeitos dos agrotóxicos no organismo. Além disso, estávamos na fase ruimda COVID-19  quando me deparei com tais informações. Então, pensei em outras pandemias que o mundo enfrentou: peste bubônica, gripe espanhola... Enfim, imaginei o que seria do mundo se um vírus atacasse as plantas e não pudéssemos mais comer vegetais, hortaliças, legumes, frutos. E o resultado é a  Própria Carne".

Serviço

capa do livro Própria Carne

capa do livro Própria Carne

Arquivo Pessoal

  • Livro: Própria Carne
  • Autor: Newton Cesar
  • Editora: Minotauro 
  • Número de páginas: 234