Escitora, Ana Suy

Entre outros temas, Ana Suy fala sobre o amor e a presença da inquietude

Kizzy Tonegawa/Divulgação
Vazio. Qual é o significado para você? Ana Suy, escritora e doutora em pesquisa e clínica em psicanálise, no livro “Não pise no meu vazio - Ou o livro do vazio”, da Editora Planeta, faz um convite a pensar a respeito. De forma poética, com escrita afetiva e afiada ao mesmo tempo, ela entrega uma leitura inquieta, cheia de dualidades, sobre o vazio, o amor, a perda, relacionamentos, descobertas e muito mais. Um percorrer pela vida que tantas perguntas provoca em meio à ação e reação, mesmo se estiver imóvel.

Ana dividiu o livro em “o que preenche”, “o que esvazia” e o “o que preenche e esvazia ao mesmo tempo”. “A ideia está em considerar as diferentes nuances do nosso preenchimento, que é sempre parcial. Por vezes, nos apavoramos com nossos vazios e não queremos saber deles. O livro é um convite a encontrarmos nossos vazios, a dar algum contorno para eles, quem sabe até algum preenchimento, não-todo.”

O vazio, “como condição fundamental da existência” tem um significado especial para a escritora. “Talvez o vazio ao qual me refiro seja o vazio de sentido. Somos tomados por colocar sentido em tudo e quando nos deparamos com algum esvaziamento disso em nós, no outro, na vida, tendemos a não querer saber disso e, por vezes, pagamos preços altos demais para isso. Na medida em que podemos escolher vazios, brechas, intervalos, silêncios, mistérios, podemos também acalmar nossas turbulências e sermos mais inventivos.”

Na dualidade da vida, Ana também escreve sobre a presença da inquietude. E o lidar com a satisfação num instante e a insatisfação no instante seguinte. “Cada pessoa precisa encontrar um modo próprio de fazer isso. Em um texto chamado “O mal-estar na civilização” (1930), Freud afirma que a felicidade é um caminho individual. Ninguém tem como encontrar algo que se aproxime de uma noção de felicidade copiando o caminho do colega. Suportar nossas oscilações entre inquietudes e insatisfações passa pela tarefa que cada um de nós tem, que é solitária, de inventar um caminho próprio. E esse caminho não é definitivo, é preciso sempre revisitá-lo. Viver é trabalhoso.”

A MÃE ASSUSTADORA

 Com tantos temas ricos e necessários, Ana dá um peso para a angústia, alertando que ela não é “consequência da falta, é a falta da falta”. “Somos seres desamparados e precisamos de um outro para nos constituir. Mesmo quando estamos sozinhos, estamos com o outro, porque estamos com nossas lembranças, pensamentos, com as palavras que vêm do outro, com nosso nome que vem do outro. Nossa imagem de corpo é constituída a partir de nossa relação com ‘nossas pessoas’. Em certo sentido, nunca estamos sós, porque estamos sempre com o outro. E em certo sentido sempre estamos sós, mesmo quando estamos com o outro. Mas há certas coisas que marcam alguns impossíveis. ‘Cócegas’ é um texto sobre isso, sobre o quanto não há independência ou autonomia que nos isente da dependência do outro.”

No livro, há muito do amor. Ana nos atiça ao escrever que “o amor é uma conversa de fraqueza e franqueza”. A vida se resume a ele, a única saída? “Não sei se o amor é a saída, mas certamente é a entrada. É alguma experiência de amor que nos liga à vida, desde bebês. Com nossa mãe, pai, vó, cuidador, babá...seja lá o que for. Todos nós temos um primeiro amor que nos encontrou, ainda que provisoriamente em nossa tenra infância e ali marcou em nosso corpo algo que nos liga ao desejo de viver.”

A leitura de “Não pise no meu vazio - Ou o livro do vazio” é um deleite, com convite e propostas para se encontrar e desencontrar e está tudo bem. Como numa sessão de análise, é o desconstruir e o reconstruir e Ana Suy faz isso muito bem com sua escrita: “Em certo sentido, a escrita é como a psicanálise porque assim como uma sessão de análise tem vida própria (pensamos que vamos dizer uma coisa e dizemos outra), seguindo a técnica da associação livre, também com a escrita ocorre assim – pensamos que vamos escrever uma coisa e escrevemos outra. A escrita tem vida própria, nos leva para caminhos que só vamos saber a respeito depois – e por vezes, de modo incompleto. Talvez possamos pensar, nesse sentido, que a escrita possa ter efeito terapêutico para algumas pessoas, pois pode levar quem escreve a sustentar um certo enigma em si – justamente uma das coisas que me parece fazer uma análise”.

Capa do livro Não pise no meu vazio - Ou o livro do vazio

Capa do livro Não pise no meu vazio - Ou o livro do vazio



Não pise no meu vazio - Ou o livro do vazio
• Autora: Ana Suy
•  Editora: Planeta
•  Número de páginas: 208
•  Preço: R$ 54,90