Menino cantando em frente ao microfone

Menino cantando em frente ao microfone

Pixabay

"Fiquei muito rouca, com dificuldade e dor ao falar", conta a bancária Adriana Saes, de 51 anos, sobre os incômodos antes de descobrir, em um exame, que estava com um pólipo na prega vocal. "Precisei realizar uma cirurgia para a retirada da lesão. Foram sete dias de repouso absoluto na voz e, depois, dois meses de fonoterapia. Já estou recuperada e muito bem. Hoje, sou mais cautelosa e sei da importância de ter alguns cuidados ao falar", relata.

Segundo Marcelo Girotti Merighi, otorrinolaringologista do Vera Cruz Hospital, de Campinas (SP), os pólipos são lesões benignas das cordas vocais (não cancerígenos), comuns entre os adultos, decorrentes do abuso vocal e uso inadequado contínuo da voz, como gritar, cantar e berrar. "Existem várias situações que causam alteração ou perda da voz. Além do uso excessivo, há também as inflamações, como laringite, refluxo gastroesofágico, tabagismo e malformações das cordas vocais", destaca.
 

Além disso, há algo mais preocupante que pode acometer as cordas vocais, um alerta também lembrado no Dia Mundial da Voz, neste domingo (16). Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam que 6.470 homens e 1.180 mulheres foram diagnosticados com câncer de laringe para cada ano do triênio 2020-2022.

Marcelo Girotti Merighi

Marcelo Girotti Merighi, especialista, esclarece ainda que o tratamento depende da causa. Nos casos de rouquidão por uso abusivo, a indicação é a fonoterapia

Vera Cruz Hospital/Divulgação


O risco estimado para a população brasileira é de 6,2 casos novos a cada 100 mil homens e de 1,06 casos novos a cada 100 mil mulheres. "Essa doença representa 25% dos tumores de cabeça e pescoço e, deles, dois terços são originados na prega vocal, tendo como sintoma inicial a disfonia. Portanto, um paciente com rouquidão por mais de 15 dias deve procurar um otorrinolaringologista", acrescenta.

O médico esclarece ainda que o tratamento depende da causa. Nos casos de rouquidão por uso abusivo, a indicação é a fonoterapia. "Para laringites, refluxo e tabagismo, é indicado o uso de medicações e a mudança de hábitos. Já para as lesões benignas e malignas, há cirurgia e outros tratamentos complementares." 

Água, água e água

A voz pode dizer muito sobre uma pessoa: sexo, idade, o estado emocional e até traços de personalidade. Ela é produzida na laringe através da vibração das pregas vocais, gerada pelo fluxo de ar que vem dos pulmões. O som se modifica na faringe, cavidade bucal e nasal e, quando articulado, se transforma na fala. A importância é tanta que a voz ganhou seu dia próprio para conscientizar a população sobre a necessidade de cuidados para preservá-la. 
 

"Recomendamos hidratação, dormir bem, uso de umidificadores em locais com ar-condicionado para evitar o ressecamento das mucosas e evitar o consumo de alguns alimentos, como derivados de cafeína, leite e bebidas alcoólicas, pois podem provocar um refluxo na laringe, levando à rouquidão e ao pigarro. A ingestão de água gelada também pode prejudicar algumas pessoas por contrair os músculos. Outro ponto é poupar a voz quando estiver resfriado", pondera Marcelo.

Para aqueles que usam a voz profissionalmente, o médico destaca outros cuidados, também imprescindíveis. "A laringe é formada por músculos, tendões e cartilagens, portanto, existem vários exercícios que podem ser feitos para manter e melhorar a qualidade da voz: aquecimento e desaquecimento vocais são fundamentais", comenta.