mulher em posição de meditação, no seu tapete de ioga, co m as mãos na frente do rosto em forma de prece

O grande desafio dos ansiosos é o foco no agora

laurajuarez/Pixabay
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com o maior índice de transtorno de ansiedade no mundo. As várias demandas diárias, em casa, no trabalho e nas relações interpessoais, causam preocupações intensas, excessivas e persistentes, além do medo de situações cotidianas. A qualidade de vida das pessoas acometidas pela ansiedade é drasticamente afetada e o estresse é uma das principais causas do mal.

O grande desafio dos ansiosos é o foco no agora. O Programa de Redução de Estresse, ofertado pela Sociedade Vipassana de Meditação (SVM), ajuda os alunos a identificar onde está o foco e mudá-lo para o objeto e momento desejados. São oito aulas presenciais semanais, cada uma com duração de três horas, e um retiro de seis horas, na sede da SVM, na 909 Norte. São ensinadas diversas técnicas de meditação e movimentos corporais. Haverá, ainda, momentos de interação com os colegas em duplas ou grupos, proporcionando compartilhamento de vivências.

As aulas são ministradas pelo professor de mindfulness Marcus Santos. O termo em inglês significa "consciência plena". "A maioria das pessoas chegam com ansiedade. É muito comum que a mente fique perdida no passado ou no futuro. No curso, o objetivo é treinar e trazer o foco para o agora. É um exercício mental", explica. "Já foram constatados benefícios em casos de fibromialgia, diabetes, insônia e pressão arterial alta", relata o professor.
 

Santos frisa que qualquer pessoa pode meditar a partir dos 6 anos de idade. No entanto, o programa é voltado para o público com mais de 18 anos. As próximas turmas começam a partir de 25 de abril, com finalização em 17 de junho. As inscrições são feitas até 25 de abril, no endereço sociedadevipassana.org.br/mbsr/. O investimento é no valor de R$ 1,3 mil, que podem ser parcelados no cartão de crédito. Em 12 de abril, haverá uma palestra introdutória gratuita sobre o curso, às 19h, na sede da SVM.

Mudanças

Professora da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Gigliola Mendes, 41 anos, foi diagnosticada com transtorno de ansiedade generalizada aos 30. "Começo a fazer muitas coisas ao mesmo tempo e adoeço pelo excesso de cobranças e pela pressão. Quando fico sobrecarregada, sinto falta do silêncio e corro de volta para a meditação", confessa. Ela concluiu o Programa de Redução de Estresse no final de março deste ano. "Eu tenho conseguido estar presente em minhas atividades. Desde as mais simples, como tomar banho e comer, até as mais complexas, como dar aula e me exercitar", revela a docente.

Foi no metrô de São Paulo que Gigliola pôde pôr em prática o conhecimento adquirido com o método de meditação mindfulness. "Comecei a ter uma crise de pânico no caminho para a Avenida Paulista. Fechei os olhos e foquei na respiração por 90 segundos. Depois meditei por menos de 10 minutos na estação, o que foi suficiente para que eu continuasse o meu passeio com meus amigos, como se nada tivesse acontecido", lembra ela. "Com o curso, passei a compreender os efeitos da meditação e a enfrentar o estresse. Agora, medito todos os dias. O curso criou uma base consistente para que eu criasse novos hábitos", comemora.

Luiz Flávio Higa, 42, sabe bem do que Gigliola fala. A experiência com a meditação mindfulness lhe deu condições mais viáveis para abandonar um vício tóxico: o tabagismo. Higa fumava desde os 14 anos e já havia tentado parar várias vezes, mas as crises de abstinência sempre o faziam voltar ao péssimo hábito. Essas crises se manifestavam com insônia, tontura, fadiga e falta de concentração. Agora, ele encara o desafio de maneira diferente. "A meditação não é um remédio, mas sim uma mudança de comportamento que não é intencional. Ao acrescentar os 15 minutinhos de meditação na minha rotina, a mudança de comportamento acabou sendo inevitável", sustenta.
 
Higa já tinha praticado meditação antes do programa, mas com o método mindfulness foi a primeira vez, na Vipassana. "A mudança veio naturalmente, sem o peso da obrigação. Os estressores que aparecem na minha vida, no dia-a-dia, ficam sob controle, gerando menos ansiedade, e, como consequência, não tenho tido crises de abstinência".

Experiência

A psicóloga clínica Isabel Frantz medita desde 2007, na Vipassana, quando se preparava para fazer um mestrado em Lisboa. A iminência da experiência de morar no exterior lhe dava ansiedade devido à enxaqueca. "Quem sofre de dor crônica sabe que é refém do problema", constata. O Programa de Redução de Estresse levou Frantz a conhecer novas camadas do poder da meditação. Ela fez o curso em 2020, em meio à pandemia, na modalidade à distância. "Para mim, ficou muito clara a plasticidade neuronal, que é a capacidade de achar novas formas de agir das que estamos acostumados, devido a traumas do passado", explica.

O treinamento da respiração é outra vantagem do curso destacada por Isabel. "Está em uma situação ruim? Respire. O curso é muito bom para mudar comportamentos automatizados do organismo. Mas isso leva treinamento e tempo, por isso a importância do programa", salienta.

Desde uma criança de 3 anos até um adulto de 90 anos pode aprender a observar a respiração. Isso significa que é uma prática muito ampla e é muito satisfatório praticar com os nossos familiares. Meditar em família, meditar em casal ou com os amigos é algo que aprofunda a nossa relação, porque passamos a compartilhar momentos de silêncio.

A maioria das nossas relações familiares são baseadas no diálogo excessiva e automático, na troca de favores ou na busca por atendermos as necessidades uns dos outros. À medida que paramos para meditar em família, começamos a cultivar o silêncio em família, e assim, desenvolvemos um tipo diferente de conexão com os nossos familiares por meio da meditação. Ao invés de nos afastarmos e nos isolarmos para meditar, será que não seria mais interessante introduzir os familiares nessa prática?

Desde muito cedo podemos ensinar nossas crianças a meditar. Nós podemos também desenvolver uma relação conjugal mais amorosa, mais compassiva e assim, criarmos novas habilidades de concentração, bondade e equanimidade juntos. De nada adianta colhermos os benefícios da meditação e nossos cônjuges continuarem estressados ou nossos filhos continuarem agitados. Podemos perceber que por meio da nossa prática, do nosso exemplo, também podemos introduzir os familiares. Experimente introduzir práticas curtas, 3 a 5 minutos e aos incentive aqueles que você ama a observarem a respiração e acalmarem a mente. Isso não significa que devemos obrigar ou aliciar os outros a realizarem a prática pois nem sempre aquilo que é bom para mim, é bom para o outro. Caso haja resistência ou desinteresse, continue praticando e quem sabe um dia eles venham a se juntar a ti.
 
Outro ponto importante é a possibilidade de sermos mais gratos por nossos familiares e principalmente reconhecer o esforço de cada um deles, sendo praticantes de meditação ou não. É importante reconhecer a jornada dessas pessoas! Honrar a herança que recebemos de nossos ancestrais significa ter a humildade de notar que somos uma consequência do esforço deles. É importante buscarmos desenvolver gratidão também por nossos familiares que nos despertam emoções ou sensações desagradáveis, percebendo que esses são os que devemos enviar bondade amorosa, perdoar e ter paciência. Talvez eles sejam nossos maiores professores.

Se não conseguimos tornar as nossas relações familiares mais saudáveis, consequentemente a nossa relação com o mundo sempre vai ser tóxica. Dentro desse caminho que temos percorrido, de meditar e nos conhecermos melhor, é importante termos gratidão pelos familiares e principalmente perdoa-los porque não é saudável mantermos e alimentarmos emoções de raiva, culpa, ou medo perante alguém que faz parte da nossa família. Mais do que quaisquer outras pessoas no mundo, estamos ligados a cada um de nossos familiares e podemos curar as relações dentro do círculo familiar. Quanto mais eu entro em contato comigo mesmo, maior é a minha vontade de ter um comportamento amoroso, carinhoso, acolhedor para com os meus familiares. É muito importante pensarmos sobre os nossos parentes que estão distantes e nos conectarmos com eles, enviarmos bondade amorosa para cada um deles, porque eles também fazem parte de nós.  

Palavra de especialista 

Transformando as relações familiares

Marcus Santos, professor de mindfulness da Sociedade Vipassana

Quando começamos a meditar, nossos amigos e familiares podem se surpreender com mudanças que acontecem em nossos pensamentos, falas e atitudes. O efeito da prática meditativa é percebido por aqueles que convivem conosco e muitas vezes eles se sentem incentivados a praticar também. É importante percebemos que é possível introduzirmos os nossos familiares nessa prática, compartilhando áudios de meditações guiadas com algum familiar que tem interesse ou até mesmo presenteá-lo com algum tipo de literatura que explique melhor como meditar. O mais é importante é percebermos que o apoio dos familiares, da esposa, do esposo, dos filhos, ou dos pais, pose ser um grande incentivo para meditarmos diariamente. Qualquer pessoa pode meditar, independente de condições físicas, emocionais ou sociais, qualquer um que respire pode meditar. A única coisa que precisamos para iniciar essa prática é a respiração.
 
Desde uma criança de 3 anos até um adulto de 90 anos pode aprender a observar a respiração. Isso significa que é uma prática muito ampla e é muito satisfatório praticar com os nossos familiares. Meditar em família, meditar em casal ou com os amigos é algo que aprofunda a nossa relação, porque passamos a compartilhar momentos de silêncio.

A maioria das nossas relações familiares são baseadas no diálogo excessiva e automático, na troca de favores ou na busca por atendermos as necessidades uns dos outros. À medida que paramos para meditar em família, começamos a cultivar o silêncio em família, e assim, desenvolvemos um tipo diferente de conexão com os nossos familiares por meio da meditação. Ao invés de nos afastarmos e nos isolarmos para meditar, será que não seria mais interessante introduzir os familiares nessa prática?

Desde muito cedo podemos ensinar nossas crianças a meditar. Nós podemos também desenvolver uma relação conjugal mais amorosa, mais compassiva e assim, criarmos novas habilidades de concentração, bondade e equanimidade juntos. De nada adianta colhermos os benefícios da meditação e nossos cônjuges continuarem estressados ou nossos filhos continuarem agitados. Podemos perceber que por meio da nossa prática, do nosso exemplo, também podemos introduzir os familiares. Experimente introduzir práticas curtas, 3 a 5 minutos e aos incentive aqueles que você ama a observarem a respiração e acalmarem a mente. Isso não significa que devemos obrigar ou aliciar os outros a realizarem a prática pois nem sempre aquilo que é bom para mim, é bom para o outro. Caso haja resistência ou desinteresse, continue praticando e quem sabe um dia eles venham a se juntar a ti.

Outro ponto importante é a possibilidade de sermos mais gratos por nossos familiares e principalmente reconhecer o esforço de cada um deles, sendo praticantes de meditação ou não. É importante reconhecer a jornada dessas pessoas! Honrar a herança que recebemos de nossos ancestrais significa ter a humildade de notar que somos uma consequência do esforço deles. É importante buscarmos desenvolver gratidão também por nossos familiares que nos despertam emoções ou sensações desagradáveis, percebendo que esses são os que devemos enviar bondade amorosa, perdoar e ter paciência. Talvez eles sejam nossos maiores professores.

Se não conseguimos tornar as nossas relações familiares mais saudáveis, consequentemente a nossa relação com o mundo sempre vai ser tóxica. Dentro desse caminho que temos percorrido, de meditar e nos conhecermos melhor, é importante termos gratidão pelos familiares e principalmente perdoa-los porque não é saudável mantermos e alimentarmos emoções de raiva, culpa, ou medo perante alguém que faz parte da nossa família. Mais do que quaisquer outras pessoas no mundo, estamos ligados a cada um de nossos familiares e podemos curar as relações dentro do círculo familiar. Quanto mais eu entro em contato comigo mesmo, maior é a minha vontade de ter um comportamento amoroso, carinhoso, acolhedor para com os meus familiares. É muito importante pensarmos sobre os nossos parentes que estão distantes e nos conectarmos com eles, enviarmos bondade amorosa para cada um deles, porque eles também fazem parte de nós.