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Estado de Minas SAÚDE

Cigarro é porta de entrada para uma série de doenças

Seja em qual embalagem for, muitas pessoas são seduzidas pelo cigarro por diversas questões e se veem presas numa armadilha que pode ser fatal


20/11/2022 04:00 - atualizado 20/11/2022 23:32
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Fernanda Vianna, personal organizer
Fernanda Vianna, de 40 anos, conta que fumou dos 13 aos 18 anos e parou até os 35, quando retomou o hábito, agora, com cigarro eletrônico (foto: Leticia Spirandelli/Divulgação )
Ser seduzido pelo cigarro para entrar em um grupo, fazer parte de uma turma, estar na moda, por timidez, ansiedade, entre outros motivos. Muitas pessoas se veem presas numa armadilha que pode ser fatal. Todo cigarro é prejudicial à saúde e acarreta diversas disfunções e doenças. A personal organizer Fernanda Vianna, de 40 anos, é uma dessas pessoas capturadas pelo cigarro quando ainda era adolescente. “Minha relação com o cigarro comum começou cedo. Tinha um sítio num condomínio, na época era moda fumar, havia um grupo de pessoas mais velhas em que todos fumavam e eu, com uns 13 anos, comecei a fumar para fazer parte da galera. Nunca me dei bem com cigarro, passava mal, vomitava, mas, enfim, fumei dos 13, 14 anos até os 18”, conta Fernanda. 
 

Fiz a biópsia e veio o resultado. Câncer estágio 4, afetando a língua e o assoalho da boca. Tive linfonodos, já sentia dor no ouvido e no pescoço

Fernanda Vianna, de 40 anos, personal organizer

 
 
“Nunca fui de fumar muito, dois, três por dia, no máximo. Era pontual. Fumei até os 18 e decidi que queria uma vida saudável e parei, nunca mais fumei. Mas, aos 35 anos, passei por um momento complicado, um pouco deprimida, nervosa, ansiosa e voltei a fumar, e fumar com tudo. Sei lá, 10 cigarros por dia, parava e voltava. Fumei um ano, parei seis meses e assim foi dos 35 aos 40.” 
 
 
Até largar o cigarro novamente, aos 40 anos, diante de um diagnóstico de câncer de boca/língua, Fernanda Vianna conta que se entregou ao cigarro eletrônico: “A história de fumar o cigarro eletrônico entrou na minha vida crente de que iria parar aos poucos. A sensação era de que o vape era menos pior do que o cigarro. Fumava até o eletrônico que não tinha muito sabor. Para mim, ele era um auxiliar para parar de fumar. Só que o cigarro eletrônico é de fácil acesso, pode fumar em qualquer lugar, ele não dá cheiro, então você está com ele na mão o tempo todo”, comenta.  
 
“E aí, com essa vida ansiosa que a gente leva, põe o cigarro na boca. Faço até a relação de quem tem compulsão por comida. O cigarro eletrônico na minha mão, gostoso, de menta, virando moda também... Quando comecei, era caro, trazido dos EUA, depois veio o vape. Vivia com o vape na mão o tempo todo, fumando. Achando que era mais inofensivo. O pensamento era: ‘Não estou fumando cigarro mais não, só o eletrônico.’”

Estágio avançado

Fernanda destaca que seus médicos não sabem dizer se foi o cigarro comum ou o cigarro eletrônico ou se ela tinha predisposição para desenvolver o câncer. “Seria errôneo dizer que foi só o cigarro que causou meu câncer, até porque meus médicos não sabem dizer. Porque o que tive, o câncer de língua, de boca, normalmente dá em homens e acima de 65 anos, pessoas que fumaram a vida inteira. Meu caso foi apontado como raro e avançado. E também, vale dizer, que fui fumante passiva a vida inteira, meus pais fumavam, vivia sob a fumaça – do café da manhã ao almoço.”

Até ter fechado seu diagnóstico, Fernanda sofreu e peregrinou por consultórios: “Tive um corte na língua que melhorava e piorava. Como me incomodava, procurei dentistas e o primeiro diagnóstico foi de bruxismo, que eu mordia a língua. Mas depois que tive COVID, os sintomas aumentaram: dor na boca, dificuldade para falar. Ao procurar outro dentista, ouvi que tinha nascido um siso, que mudou a mordida, que teria de tirar, mas nada de melhorar. 

Leia também: Quase 20% dos jovens usam cigarro eletrônico no Brasil, segundo pesquisa
 
Fernanda acabou recorrendo a uma terceira dentista. “Ela foi minha salvadora. Olhou e me orientou a fazer uma biópsia por precaução. Fui até o hospital, passei por um bucomaxilo de plantão que, ao olhar minha boca, já não me deixou ir em casa. Fiz a biópsia e veio o resultado. Câncer estágio 4, afetando a língua e o assoalho da boca. Tive linfonodos, já sentia dor no ouvido e no pescoço. Precisava fazer a cirurgia para ontem, porque o próximo ponto seria pulmão e metástase”, disse, assustada. 
 
“Graças a Deus não chegou nesse estágio. Fiz uma grande cirurgia, um mês de recuperação, com sessões de rádio todos os dias e quimioterapia uma vez por semana por 24 meses. Foi sucesso absoluto. Sempre fui positiva, apesar de não ser fácil. Mas a maneira como a gente leva o problema, com segurança e otimismo, influencia. Podia nunca mais falar, comer, engolir, rosto deformado, podia acontecer milhões de coisas. Mas deu tudo certo”, comemora.
 
Mas a luta de Fernanda continua. Ela conta que ficou debilitada depois da rádio e da quimioterapia, teve pneumonia, encarou um mês de internação, e revela que sofreu mais do que com o câncer em si. “Faço acompanhamento de três em três meses e sigo rezando para não voltar. E se voltar, já estou preparada para lutar com todas as armas”, afirma, confiante.

Reaprender tudo

Diante dessa batalha, Fernanda destaca que sua relação com o cigarro mudou. “Sempre que posso, ao ver pessoas fumando, eu alerto. Mas as pessoas não acreditam, algumas são agressivas. É  importante conscientizar, porque o cigarro voltou a virar moda. O povo acha bonito, que não faz mal, quer estar no contexto e fazer parte de uma galerinha. Hoje, estou ótima. Só acompanhando. Faço muita coisa, fisioterapia, perdi um pouco da sensibilidade do lado esquerdo, a boca ficou um pouco torta, a questão da fala, deglutição. Só tenho metade da língua, perdi o paladar. É reaprender tudo. Mas com o tempo fui recuperando. Agora consigo saborear as coisas, como tudo de que gosto. Tudo era difícil, mas faz parte da vida.”
 
Com tratamento multidisciplinar, Fernanda fez fisioterapia por conta da mobilidade do seu pescoço. Ela não levantava o ombro, o corpo ficava enrijecido. “A fisioterapia me ajudou não só com a cervical, mas com exercícios para deglutir melhor a comida, para o ganho de abertura da boca, ter uma qualidade de vida melhor, para falar, já que faço um esforço maior do que o normal e sinto dor.” 

Diante da força de Fernanda, sua positividade e da forma como lidou com tudo, ela foi convidada para fazer parte da campanha Julho Verde, em 2023, para dar seu depoimento. “Vou contar sobre a forma como lidei com tudo e que fez diferença na minha vida. Sempre fui bem-humorada e otimista. Estou feliz com o convite para ajudar e espero que todos tenham um processo leve igual ao meu.”

Aumento de casos

Priscila Ferreira, fisioterapeuta cervicocraniomandibular
Priscila Ferreira, fisioterapeuta cervicocraniomandibular, diz estar surpresa com o aumento de pacientes que tem atendido com câncer de boca. Mas ela enfatiza que não tem como atribuir essa alta exclusivamente ao cigarro eletrônico (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )

Priscila Ferreira, fisioterapeuta cervicocraniomandibular, diz que está surpresa com o aumento de pacientes que tem atendido com câncer de boca. Mas ela enfatiza que não tem como atribuir essa alta exclusivamente ao cigarro eletrônico. “Apesar de o cigarro eletrônico estar na quarta geração e presente no Brasil desde 2009, ainda é muito recente para termos muitos casos na população. Porém, existem casos específicos. Tive três casos isolados de câncer de boca este ano no consultório,  decorrente do vape”, alerta. 
 
“Pacientes que apresentaram tão rapidamente câncer de boca decorrido ao vape, provavelmente estariam expostos também a outros tipos de agente, como fator genético, fumantes secundários ou etilistas. A idade média desses pacientes foi de 32 anos, mulheres, e na fase de vida ativa. Agora, têm aparecido mais homens, entre 40 a 65 anos, para tratamento pós-câncer de boca devido ao cigarro convencional.”.
 
A fisioterapeuta cervicocraniomandibular aponta os passos para quem consegue seguir o tratamento. “Os métodos terapêuticos utilizados para o tratamento das neoplasias de cabeça e pescoço incluem as ressecções cirúrgicas, a radioterapia e a quimioterapia, em conjunto ou separadamente. Embora esses tratamentos sejam efetivos na erradicação do tumor e aumento da sobrevida, as sequelas estéticas e funcionais são a grande causa de morbidade entre os pacientes, levando a impactos físicos, psicológicos e sociais.”

Nesse contexto, a fisioterapia especializada em cabeça e pescoço tem o papel de preservar, desenvolver e restaurar a integridade cinética e funcional, como também prevenir alterações causadas pelo tratamento do câncer de cabeça e pescoço.
 
Priscila Ferreira destaca que as principais disfunções relacionadas aos tumores de cabeça e pescoço em que a fisioterapia cervicocraniomandibular atua são: dor, perda de força muscular, limitação de amplitude do movimento (ADM) e funcionalidade do ombro homolateral, edemas e linfedemas de face, deformação na face, paralisia facial, parestesia (falta de sensibilidade), hipersensibilidade, trismo (rigidez na face) e lesão nervosa, gerando a “síndrome do ombro caido”. 
 
“Essas alterações podem ocorrer devido à tentativa de retirada completa do tumor ou de linfonodos cervicais comprometidos (esvaziamento cervical), lesionando estruturas acessórias e importantes. Todas essas complicações são fatores limitantes, que impactam negativamente na qualidade de vida do paciente com câncer de cabeça e pescoço. Porém, a instituição de um programa de fisioterapia cervicocraniomandibular direcionado e individualizado logo no pós-operatório é capaz de prevenir e/ou minimizar tais sequelas. Por exemplo, com relação à dor.”
 
No consultório, Priscila Ferreira explica que os casos mais atendidos são o de carcinoma epidermoide, de língua. “Normalmente, os pacientes procuram atendimento devido ao caroço ou pequeno machucado intraoral, quando não há uma melhora. Com isso, inicia-se o processo de investigação com o dentista estomatologista e o cirurgião de cabeça e pescoço. 
 
A fisioterapia cervicocraniomandibular é aplicada de acordo com demandas individuais. “Cada paciente apresenta uma necessidade clínica. Porém, o mais importante é o comprometimento do paciente e o conhecimento que o mesmo deve ter sobre seu corpo e em âmbito científico. Com isso, conseguimos ter percepções das pequenas evoluções até que o corpo obtenha resposta ao tratamento.”
 
No caso de pacientes com câncer de cabeça e pescoço, é fundamental uma equipe especializada e multidisciplinar, como dentista estomatologista, fisioterapeuta cervicocraniomandibular, oncologista, cirurgião de cabeça e pescoço, psicólogos e fonoaudiólogos. “São profissionais da saúde que conhecem os aspectos relacionados à doença e todas as particularidades que a envolvem.” 

Famosos que sofreram com cigarro eletrônico

Modelo Lucas Viana
(foto: Instagram/Reprodução)
 
 

Modelo Lucas Viana 

“Estava em uma festa e, de repente, me faltou o ar de um jeito surreal. Parecia que estava tudo entupido, como se estivesse afogando. Fui socorrido, me deram um aparelhinho de oxigênio. Tudo isso aconteceu por conta de cigarro eletrônico, vape”, acredita o modelo. 

Cantora Solange Almeida

"Eu não conseguia atingir os tons na mesma facilidade que eu tinha antes. O uso indevido do cigarro eletrônico quase culminou na perda total da minha voz e do meu emocional por inteiro. Me tirou do chão, de verdade”, diz a cantora.
 
Zé Neto, da dupla com Cristiano
(foto: Instagram/Reprodução)
  

Zé Neto, da dupla com Cristiano

"Realmente, passei por um problema sério no pulmão devido a cigarro, esses vapes. Inclusive, dou um alerta para quem mexe com essa porcaria... Para com isso porque é um cigarro como qualquer outro e faz mal do mesmo jeito ou até mais", alerta o cantor.  

SAIBA MAIS

E o narguilé?

Apesar de ser tratado como produto inofensivo, o narguilé tem origem em países árabes e o que o usuário ingere é um tabaco que sofre combustão, aquecido com carvão. Isso significa que, além da nicotina, ele tem monóxido de carbono e alcatrão. Ou seja, também é uma substância que traz danos à saúde, além do risco de contaminação ao ser compartilhado entre os usuários. Médicos dizem que “uma hora de inalação contínua de narguilé equivale à fumaça de 100 cigarros”. No Senado, tramita um projeto de lei (PLC 104/2018) que proíbe a venda de narguilés para crianças e adolescentes. A proibição se estende a acessórios como cachimbos, piteiras e papéis para enrolar cigarro. Já no relatório Covitel, a pesquisa mostrou a taxa de experimentação de narguilé entre os brasileiros: 9,8% dizem ter consumido, contra 5% das mulheres. A faixa dos 18 aos 24 anos também é a que mais usa — 17% da população da faixa etária.  


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