(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas REPORTAGEM DE CAPA

Como é ser um sobrevivente do câncer?

O mês de junho é dedicado a comemorar, alertar e chamar a atenção para a importância de um olhar integral sobre o paciente com câncer


26/06/2022 04:00 - atualizado 25/06/2022 09:52

Joana D'Arc e o marido Júlio
Joana D'Arc diz que nunca enxergou as batalhas contra o câncer como algo negativo: 'Sempre saímos mais fortes e unidos, tanto o Júlio quanto eu', referindo-se ao marido (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Quatro vezes diagnosticada com câncer em um intervalo de oito anos. Diante de tantas provações, indagada sobre o que é a vida, a artesã Joana D’arc Thibau não titubeia: “A vida é agradecer a Deus por mais um dia que se inicia, pelo meu respirar, pelo marido que Ele me presenteou e pela oportunidade de renovar minhas forças”.

Às vezes, diante de um diagnóstico tão terrível, no afã de ajudar, as pessoas usam frases de efeito que, às vezes, podem se tornar uma pressão, de ter que lutar e vencer a doença. Mas em cada diagnóstico, cada consulta, cada sessão do tratamento, Joana enfatiza que não vivenciou nenhuma pressão. “Dentro de mim, já busco a convicção pela fé de que tudo vai passar. Embora sempre deixe claro que, se em algum momento me sentir triste, desanimada, tenho esse direito, mas nunca aconteceu.”
 

Após cada obstáculo superado, a artesã revela que seguir em frente é sonhar e vislumbrar o futuro, sem trazer para o presente qualquer pensamento negativo. “De cada momento em que precisei travar batalhas, procurei encontrar algo de positivo. E, sim, sempre saímos mais fortes e unidos, tanto o Júlio quanto eu.”

E como é ser um sobrevivente? O que é preciso ter para encarar tudo que ela passou? “Em primeiro lugar, é manter a fé em Deus elevada, sem olhar para as circunstâncias. Imaginar-se já curada e não ficar buscando informações no ‘dr. Google’, porque nem todas convêm, mesmo porque cada pessoa tem experiências diferentes durante o tratamento”, recomenda. 

AMOR Um dos responsáveis por acompanhar a trajetória de Joana, o oncologista Charles Pádua, do corpo clínico da Cetus Oncologia, afirma que, apesar de ainda não existirem trabalhos científicos que relacionem o amor como uma das causas da cura de um câncer, ele traz impactos positivos no caminho até um bom prognóstico. “O amor verdadeiro é um sentimento forte, inexplicável e universal. Quando uma pessoa é acolhida pelo parceiro, pelos amigos ou entes queridos, ela se sente determinada a enfrentar uma doença como o câncer, por exemplo.”

Mas Charles Pádua ressalta que o tema não pode ser excessivamente romantizado. “A caminhada rumo à cura de um câncer envolve não só as trocas positivas como também as negativas: compartilham-se medos, angústias e sofrimentos. Quando os envolvidos estão alinhados nesse processo e servindo de apoio um para o outro, os dias difíceis ficam menos penosos.”

Vontade de viver

Débora Penido Correa, relações-públicas e concierge
(foto: Patrícia Penna/Divulgação)

"A ficha caiu quando me deparei com meu oncologista"

Débora Penido Correa, relações-públicas e concierge

 
A medicina paliativa tem um papel fundamental no tratamento de pacientes com câncer. Ela não é empregada apenas durante a terminalidade da vida, vai além disso, auxiliando também em doenças curativas. E é primordial na experiência dos pacientes durante essa jornada, que segue ao longo da vida, mesmo curado. Um cuidado que envolve não só a atenção multidisciplinar, mas o acolhimento da família. 

A relações-públicas e concierge Débora Penido Correa, de 42 anos, revela que recebeu o diagnóstico de câncer de mama em maio de 2019. “Devido ao histórico familiar de câncer de mama (irmã e tia), você acaba conhecendo alguns códigos. Quando peguei a mamografia e vi nível 5, pensei: ‘Não pode ser verdade, isso deve ser um pesadelo’. Mas a ficha caiu, quando me deparei com meu oncologista e diante do tão terrível tratamento, só pensava: ‘Não quero morrer, perder a minha mama, meu cabelo, minha vida.”

Medo, apreensão, angústia e lembranças dolorosas tomaram conta de Débora: “Eu me vi diante da mesma história vivida pela minha irmã, que morreu em 2020, em decorrência do câncer de mama, metástase óssea, uma perda imensurável. E minha tia. Muito sofrimento: minha irmã descobriu em 2017, minha tia em 2018, e eu em 2019, surreal. Pensei: ‘Como vou falar para todos da minha família’... uma dura verdade que eu não queria aceitar”.

Diante do desafio, da incerteza e da realidade que a vida lhe apresentava, Débora comenta que tinha duas opções: se entregar à doença ou querer viver. “E confesso que eu queria muito viver pela minha família, minha filha, meu marido, minha mãe. Eles foram a minha maior força durante as duras quimioterapias, enjoos, implantação de cateter, cirurgias, radioterapia. Não parei de trabalhar, tentei continuar de forma normal minha vida, mesmo com algumas limitações que os efeitos colaterais causavam. Tenho enorme gratidão pelo oncologista e toda a equipe, que fazem toda a diferença no tratamento. Chegamos tão abalados, com medo do que vai acontecer, e eles conseguem nos acalmar mesmo diante de tanta dor.”
 
   Vencida a luta, o medo e o sofrimento, Débora continua se agarrando à vida, ao desejo de não desperdiçar nenhum instante e, fundamentalmente, seguir em frente. E como se faz isso? “Olhar para trás e pensar: ‘Eu consegui’. É a melhor sensação da vida, costumo dizer que das minhas cicatrizes nasceram asas e só quero ser feliz, viver cada instante. Mesmo tendo que repetir exames de três em três meses, medicação oral por 10 anos, é como se um fantasminha rondasse nesse período. Volta tudo na minha cabeça. Fácil não foi, mas sobrevivi e sigo com as marcas da minha vitória.”

Fique por dentro


>>  A publicação “Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil”, do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), apresenta a estimativa de novos casos de câncer para o triênio 2020-2022 e oferece uma análise global sobre a magnitude e a distribuição dos principais tipos de câncer por sexo, para o Brasil, regiões geográficas, estados, capitais e o Distrito Federal. 

>>  Essas informações fornecem subsídios para monitorar e avaliar as ações de controle da doença. O câncer é o principal problema de saúde pública no mundo e já está entre as quatro principais causas de morte prematura (antes dos 70 anos) na maioria dos países.  

>>  A mais recente estimativa mundial, ano 2018, aponta que ocorreram no mundo 18 milhões de casos novos de câncer (17 milhões sem contar os casos de câncer de pele não melanoma) e 9,6 milhões de óbitos (9,5 milhões excluindo os cânceres de pele não melanoma). O câncer de pulmão é o mais incidente no mundo (2,1 milhões) seguido pelo câncer de mama (2 milhões), cólon e reto (1,8 milhão) e próstata (1,3 milhão). Para o Brasil, a estimativa para cada ano do triênio 2020-2022 aponta que ocorrerão 625 mil novos casos de câncer (450 mil, excluindo os casos de câncer de pele não melanoma). 

>>  O câncer de pele não melanoma será o mais incidente (177 mil), seguido pelos cânceres de mama e próstata (66 mil cada), cólon e reto (41 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil).

Os tipos de câncer mais frequentes de 2020-2022*


Em homens... exceto o câncer de pele não melanoma

1 –  Próstata (29,2%)
2 – Cólon e reto (9,1%)
3 – Pulmão (7,9%)
4 – Estômago (5,9%)
5 – Cavidade oral (5%)

Em mulheres... exceto o câncer de pele não melanoma

1 – Mama (29,7%)
2 – Cólon e reto (9,2%)
3 – Colo do útero (7,4%)
4 – Pulmão (5,6%)
5 – Tireoide (5,4%) 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)