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Estado de Minas REPORTAGEM DE CAPA

Neuroarquitetura trabalha os cinco sentidos

Ela busca o equilíbrio entre tato, olfato, visão, audição e paladar, que podem ser traduzidos para o conforto térmico, acústico e olfativo


05/06/2022 04:00 - atualizado 04/06/2022 19:49

ambientes
Os ambientes da casa podem passar por transformações, mesmo depois de prontos (foto: Arquivo pessoal/Divulgação)


Os impactos sobre as emoções nem sempre são percebidos de forma consciente. A arquiteta Juliana Maioli cita como exemplo o fato de  “nos sentirmos inseguros ao andar por ruínas ou nos emocionarmos ao visitar igrejas barrocas, ou o Coliseu, ou ainda a sensação de aconchego e tranquilidade de certos lugares”.
 
A arquiteta conta que, de certa forma, a boa arquitetura sempre buscou desenvolver projetos com qualidade de espaços, aliando-se forma e função com experiências agradáveis aos usuários. “Mas, por meio dos estudos técnicos da neurociência, é possível medir e parametrizar os impactos no cérebro e as respostas humanas aos ambientes construídos. 
 
 
Assim, esses dados e conceitos passaram a ser difundidos nas escolas de arquitetura para que, conscientemente, os arquitetos tenham atitudes de projeto que afetam os comportamentos, emoções e tomadas de decisão na camada inconsciente da relação cérebro/espaço.”


BEM-ESTAR De acordo com Juliana Maioli, não existem regras na criação de projetos sustentados pela neuroarquitetura. Existem conceitos que podem e devem ser usados pelos arquitetos na concepção de ambientes e lugares que incrementem a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas. “É importante entender as necessidades das atividades a serem desenvolvidas no local quanto ao ruído, ao pé-direito, o tipo e a quantidade de luz necessária, as cores, o leiaute, a ergonomia, o projeto de mobiliário, e claro, a aplicação dos conceitos de biofilia, que significa, de forma bem simples, trazer a natureza para perto de si”, comenta. 
 
Cláudia Roxo
Cláudia Roxo diz que a neuroarquitetura estuda como o cérebro reage a um estímulo que o ambiente pode causar (foto: Arquivo pessoal)
 
 
“Por exemplo, um ambiente que exige concentração, como uma sala de cirurgia, deve ter luz mais fria e forte, asséptico e sem elementos que causem distrações. Já em um ambiente de relaxamento, as luzes são mais quentes, amareladas. E em escolas infantis, o mobiliário arredondado dá maior sensação de segurança. Há também que se dosar os estímulos aos cinco sentidos básicos: tato, olfato, visão, audição e paladar, buscando o equilíbrio. E podemos traduzir como conforto térmico, acústico e lumínico, olfativo, jardins sensoriais e ambientes que tragam boas memórias.”
 
O bacana é que é possível aplicar o conceito da neuroarquitetura mesmo em um projeto já concluído: “Sim, é possível, mas primeiramente identificando as dificuldades, restrições e potencialidades do ambiente, das atividades desenvolvidas nele e também quanto tempo se passa no local. As mudanças podem passar por troca da iluminação por uma mais adequada, podendo até mesmo ser necessária a redução da quantidade de luz natural, no caso de ofuscamento e excesso de claridade. 
 
A arquitetura destaca situações como ambientes muito quentes, em que o ideal é incluir brises ou outros dispositivos, ou ainda vegetação que proteja a incidência da luz solar em excesso, promovendo aberturas e eliminando obstáculos para ventilação cruzada. 

DORES DE CABEÇA Os cheiros que marcam a identidade do local podem trazer também boas memórias e conforto, mas também podem causar dores de cabeça e enjoo. “O mesmo vale para a quantidade de ruído local, que pode gerar irritação, estresse ou calma e concentração. Trazer vegetação, madeiras e água para os ambientes.” Enfim, a arquiteta avisa que cada caso é específico e deve ser tratado com suas especificidades, diante das inúmeras possibilidades.
 

Poder de direcionar comportamentos

 
Já a arquiteta Cláudia Roxo, da comunidade Archademy, destaca que a arquitetura tem o poder de comunicar e direcionar comportamentos. “Podemos pensar nas catedrais católicas, que, por meio de sua arquitetura, criaram uma atmosfera sagrada, motivando seus frequentadores”, ressalta.  
 
“Hoje, a neuroarquitetura traz evidências concretas e mensuráveis de que a qualidade do ambiente interfere de forma drástica nas nossas vidas, mesmo quando não percebemos de forma consciente. Um ambiente bem elaborado, focado nos habitantes, não modifica apenas um comportamento, mas a estrutura do cérebro, produzindo mudanças comportamentais.” 
 
Cláudia Roxo explica que a neuroarquitetura busca estudar como o cérebro reage a determinado estímulo que um ambiente pode causar. “São estudos bem difíceis de serem realizados, pois a aplicação desse conceito varia de pessoa para pessoa. O primeiro passo é estudar questões de neurociência e entender como o cérebro funciona, como as emoções são geradas. 
 
Segundo a especialista, na neuroarquitetura não existem receitas de bolo. “Somos indivíduos diferentes e a forma como vamos reagir a determinado estímulo pode variar de acordo com as memórias pessoais, culturais e primitivas. Por isso, é importante um olhar atento para entender sobre quem é o usuário e buscar elementos que tragam conexão e significado para ele.”

RELAÇÃO COM O FENG SHUI? Para Cláudia Roxo, a semelhança entre o feng shui e a neuroarquitetura é que os dois defendem o fato de que é preciso viver em ambientes saudáveis e harmônicos, considerando que a ausência dessas características interfere de forma negativa na saúde, mas são coisas distintas. 
 
“O feng shui é uma das cinco artes da metafísica chinesa, um conhecimento milenar. Estudos do feng shui trabalham com questões energéticas dos espaços, então em parte acho que eles têm uma relação mais próxima com os estudos da geofísica, que é uma área que lida com campos eletromagnéticos e como eles interferem na nossa qualidade de vida. Já a neuroarquitetura tem como ponto de partida o ser humano, o funcionamento do cérebro e como questões espaciais vão gerar estímulos positivos ou negativos.” 
 

Quatro formas de aplicar a neuroarquitetura 

 
De acordo com Danilo Duarte, CEO da Conecta Reforma, a procura por projetos arquitetônicos para imóveis residenciais com aplicação da neurociência se popularizou durante o isolamento provocado pela pandemia. “Depois do mercado corporativo, foi a vez de as pessoas entenderem a necessidade de um espaço funcional que transmita conforto corporal e mental. Há impacto inclusive à noite, durante nosso sono.” Ele explica que essa sensação de conforto pode ser proporcionada por práticas simples, como um pé-direito alto ou uma mudança na posição de um móvel. “É um olhar mais humanizado que coloca como prioridade identificar quais são os elementos arquitetônicos ou de decoração que podem promover bem-estar para os moradores ou frequentadores de um determinado ambiente.”

1 – Natureza

A utilização de plantas no espaço interno é um dos maiores destaques da neuroarquitetura. A aproximação com a natureza proporciona uma grande sensação de bem-estar e relaxamento. Nesse sentido, os projetos utilizam estratégias como vasos suspensos e jardins verticais.

2 – Silêncio

Os ambientes com alto índice de decibéis causam irritação, alterando o humor dos moradores, e, 
por isso, investir na qualidade acústica vai proporcionar um grande conforto e melhorar o foco. Esse aspecto é importante para os momentos de descanso e para a hora de dormir.
 
3 – Iluminação

Acompanhando este movimento, que une eficiência construtiva, design e bem-estar, o mercado tem projetado soluções cada vez mais eficientes economicamente e benéficas para a saúde. Em relação à luz para dormir, hoje sabe-se que ela é classificada como uma das principais influências na supressão de melatonina, o hormônio do sono. Logo, pensar em opções que contribuam com o relaxamento é essencial.

4 – Cores

A neuroarquitetura, a exemplo do neuromarketing, também usa estrategicamente a psicologia das cores a seu favor, criando cenários capazes de intensificar emoções nas pessoas. Não se trata de estética ou gosto pessoal, mas de como o cérebro é afetado pelas cores ao redor. Assim, uma parede areia ou verde ativa mais memórias relacionadas à natureza do que uma branca ou vermelha, por exemplo. 


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