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Estado de Minas REGRAS FISCAIS

Relator do arcabouço fiscal vê ganho menor do que mercado aponta

Economistas projetam uma folga de até R$ 82 bilhões; deputado questiona os números do mercado financeiro e vê um ganho menor que o estimado


19/05/2023 04:00 - atualizado 19/05/2023 07:36
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Deputado Cláudio Cajado diz que novas regras fiscais podem abrir espaço extra para gastos em 2024
Deputado Cláudio Cajado diz que novas regras fiscais podem abrir espaço extra para gastos em 2024 (foto: CÂMARA DOS DEPUTADOS/DIVULGAÇÃO)

Brasília – O relator do arcabouço fiscal, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), afirmou em nota oficial que as mudanças em seu parecer podem proporcionar um espaço extra para gastos em 2024. No entanto, ele questiona os números do mercado financeiro e vê um ganho menor que o estimado. Economistas projetam uma folga de até R$ 82 bilhões em 2024 graças a duas mudanças: a fixação do crescimento real do limite de despesas em 2,5% no ano que vem e a autorização para incorporar à base de gastos uma eventual aceleração da inflação até o fim de 2023.

O cálculo de R$ 82 bilhões foi feito pelo ex-secretário do Tesouro Nacional Jeferson Bittencourt, economista da ASA Investments. Outras casas também apontaram um ganho, embora menor. Tiago Sbardelotto, da XP Investimentos, calcula um adicional de R$ 68 bilhões.
 
A divulgação dos cálculos sobre o tamanho do espaço extra para o governo gastar gerou ruído. Tanto Cajado quanto o ministro Fernando Haddad (Fazenda) saíram em defesa do parecer, contestando os números. Na nota, Cajado diz que a decisão de fixar o crescimento do limite em 2,5% para 2024 cria um espaço de “no máximo” R$ 12 bilhões.

Já a mudança introduzida pelo relator na inflação a ser usada nas contas teria como consequência inicial um corte de cerca de R$ 40 bilhões no limite de gastos do governo em 2024. Para que “não houvesse essa perda”, ele autorizou o governo a manter esse valor ao incorporar aos números a aceleração do índice de preços esperada até o fim do ano. “Nesse caso, o substitutivo não está acrescentando nenhum valor ao que foi proposto pelo governo”, diz o relator.

A expansão é analisada enquanto economistas interpretam que a regra criada pelo governo resultaria em despesas crescendo abaixo do máximo de 2,5% permitido pela regra em 2024, primeiro ano de vigência do arcabouço. Cajado diz que as projeções do governo e da Câmara divergiam. A consultoria da Câmara estimou que o crescimento da despesa ficaria em 1,9% no ano que vem.
 

Expectativa do governo

Ao estabelecer um crescimento real da despesa maior, de 2,5%, o relator buscou convergir para a expectativa do governo, sob a justificativa de compensar o efeito da desoneração dos combustíveis adotada no segundo semestre de 2022, durante a gestão Bolsonaro. Esse foi o componente responsável pelo menor avanço da receita nas estimativas - que, por consequência, diminuem os valores para os gastos.
 
“Estima-se que, em razão da desoneração, o crescimento real da receita será de 2,9%, quando poderia ter alcançado 3,6%”, afirma a nota do relator. Economistas fora do governo tinham previsões ainda mais modestas para a expansão do gasto no ano que vem. Bráulio Borges, especialista em contas públicas, estimou que esse crescimento ficaria em 0,9%. Manoel Pires, do FGV Ibre, na casa de 1%.

Na avaliação do mercado, ao pedir que o crescimento fosse fixado em 2,5%, o Executivo tentava garantir um espaço extra para gastar o que não conseguiria com o aumento da receita, como proposto na regra. Também demonstra que o governo pretende protelar o ajuste e seguir ampliando as despesas mesmo depois do aval do Congresso para elevar os gastos em R$ 168 bilhões neste ano. A desoneração dos combustíveis também passou a puxar para baixo a correção do novo teto devido à outra mudança, no indicador de inflação usado para ajustar o limite.
 
 
A equipe de Haddad enviou a proposta do novo arcabouço fiscal prevendo a correção do limite de despesas pela inflação observada de janeiro a junho do ano anterior e pela variação projetada para os preços de julho a dezembro do mesmo ano. Essa opção repete a manobra usada pelo ex-ministro Paulo Guedes para ampliar o limite do teto de gastos, regra que agora será substituída pelo novo arcabouço.

A avaliação de técnicos que acompanham as negociações é de que a permissão para o uso de projeções na correção do limite de um ano para o outro deixaria nas mãos do governo a possibilidade de escolher uma estimativa maior para turbinar seu espaço para gastos. O relator decidiu mudar o mecanismo e estabelecer a correção do limite apenas pela inflação já observada nos 12 meses até junho do ano anterior ao da vigência do teto -última informação disponível até o momento do envio da proposta de Orçamento, em 31 de agosto.

“Optamos em não trabalhar com estimativas e dar o realismo orçamentário e ‘possibilitar’ a incorporação na base de tal diferença da inflação”, diz Cajado. Esse ponto traria diferença porque a inflação em 12 meses até junho deve ficar abaixo de 4%, enquanto o indicador acumulado até o fim de 2023 (e que poderia ser usado pelo governo, conforme a proposta) deve se aproximar dos 6%, diante da perspectiva de aceleração nos preços. “Caso não fosse dado esse ajuste [ou seja, se fosse mantida a correção até o meio do ano sem nenhuma medida adicional], o substitutivo reduziria cerca de 2% do limite de despesa do ano de 2024 (em torno de R$ 40 bilhões), sem considerar os efeitos na inflação do segundo semestre da nova política de combustíveis anunciada pela Petrobras , acrescentou.

Despesas vão crescer menos, diz Haddad


Brasília – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou e agradeceu ontem, em São Paulo, a aprovação do regime de urgência para a votação do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados. Em entrevista à imprensa, ele assegurou que as despesas do governo vão crescer menos do que a metade do aumento da receita em 2024. “No ano que vem, que é o primeiro ano de vigência desse novo marco, a despesa vai crescer menos do que 50% do aumento da receita em todos os cenários projetados tanto pelo Tesouro Nacional quanto pela Receita Federal”, garantiu.

Segundo ele, o governo tem a expectativa de que o projeto será aprovado na próxima semana. Para isso, disse Haddad, o governo estará disponível para responder as dúvidas dos deputados sobre o novo arcabouço fiscal. “Quero manifestar o agradecimento do Ministério da Fazenda e do governo federal em relação aos deputados que aprovaram a urgência desse que é um tema muito caro a nós. Quero agradecer o relator, o [Cláudio] Cajado, que foi uma pessoa muito habilidosa em construir essa expressiva votação na Câmara dos Deputados”, disse o titular da Fazenda.

“Esperamos que, na semana que vem, a gente tenha a tranquilidade para dar o suporte técnico para a Câmara nas contas que precisarem ser feitas, em relação a dúvidas de parlamentares e sobre a inclusão de muitas despesas no teto de gastos. Estamos mobilizados e disponíveis para o relator e para a Câmara, de uma maneira geral”, acrescentou Haddad.

Ele disse ter lido as notícias publicadas de todo o país em que analistas apontaram a preocupação com as mudanças feitas pelo relator Cláudio Cajado à proposta. Nas notícias, os analistas disseram que as alterações feitas pelo relator vão assegurar um espaço extra de até R$ 82 bilhões para gastos em 2024. Mas, segundo o ministro, “não tem como” o Executivo gastar R$ 80 bilhões acima do que foi previsto inicialmente.

Projeções de cenários

“Até li algumas matérias hoje e quero dizer o seguinte: pedi para a Receita e o Tesouro fazerem todas as projeções de cenários. No pior cenário, a despesa vai crescer menos de 50% do incremento da receita. Em qualquer cenário essa regra fiscal tem uma estratégia de recomposição do resultado primário, que é a receita crescer acima da despesa a essa razão, ou a despesa cresce 70% ou 50% da receita. Essa é a base do modelo, ou a despesa cresce 70% quando as metas fiscais são atingidas ou 50% quando as metas fiscais deixarem a desejar”, explicou o ministro.

Ao comentar a alta na taxa de desemprego no primeiro trimestre deste ano, divulgada nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Haddad disse que “primeiro que o dado é menor de um ano atrás. Essa é a primeira coisa a se observar. Em segundo lugar, que efetivamente nós temos um processo de desaceleração que já dura três anos e com aumento das taxas de juros, que subiram no Brasil. É uma taxa de juros bastante expressiva, então é natural que a economia sofra uma desaceleração”.

Segundo ele, a pasta pretende revisar a projeção do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país). “A secretaria [de Política Econômica] está reprojetando o crescimento para 1,9%. O trimestre foi relativamente bom, relativamente surpreendeu os economistas e a gente entende que temos condições de fechar o ano [com crescimento] entre 1,8% e 2%”. O ministro afirmou ainda que o governo projeta também que a inflação deste ano será menor do que a que vem sendo esperada pelo mercado.  


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