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Estado de Minas ENTREVISTA

Alexandre Silveira: 'A democracia está sendo colocada em xeque toda hora'

Senador candidato à reeleição defendeu aliança entre o PSD mineiro e o PT, criticou o ministro Paulo Guedes e disse que Zema fez governo 'feijão com arroz'


03/08/2022 07:00 - atualizado 03/08/2022 07:34

Alexandre Silveira, senador do PSD de Minas Gerais
O senador Alexandre Silveira (foto) é candidato à reeleição com apoio de Lula e do PT (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 2/8/22)
Senador por Minas Gerais desde fevereiro, quando Antonio Anastasia ocupou assento no Tribunal de Contas da União (TCU), Alexandre Silveira (PSD) tentará a reeleição com o apoio de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele se inspira em José Alencar, vice-presidente de Lula em 2003, para sustentar a aliança. "Temos valores inegociáveis na sociedade, alguns pelos quais muitos perderam a vida no passado; o primeiro deles é a democracia - e a democracia está sendo colocada em xeque toda hora", disse, ontem. ao participar do "EM Entrevista", podcast de Política do Estado de Minas.

Silveira definiu como "atroz" a política econômica do presidente Jair Bolsonaro (PL). E, ao criticar o modelo, volta a artilharia a Paulo Guedes, ministro da Economia, chamado pelo parlamentar de "insensível".

"Ele é empregado da Faria Lima. Quem determina as políticas sociais no país, hoje, são os banqueiros", disparou, em menção à rua paulistana que abriga investidores e agentes do sistema financeiro.

A soma de forças entre esquerda e centro, para o parlamentar, é essencial a fim de superar o fosso social visto no país. "Não dá para fazer um discurso que atenda aos grandes empresários sem nos isolarmos dos 33 milhões passando fome. Temos de buscar um equilíbrio, e essa aliança é a cara disso. Nem o PSD se torna o PT, e nem o PT fica sendo só o PT".

O congressista afirmou, ainda, que o governador Romeu Zema (Novo) fez gestão "feijão com arroz". Por isso, defendeu a candidatura ao governo do correligionário Alexandre Kalil.

"Ele foi reeleito com 63% dos votos dos belo-horizontinos e, na pandemia, demonstrou sensibilidade social, socorreu a população e cuidou das pessoas. Teremos a oportunidade de alinhá-lo à sensibilidade social e ao apreço de Lula por Minas".

A íntegra da conversa com Silveira está disponível no canal do Portal Uai no YouTube. Ao longo dos próximos dias, o EM irá publicar mais sabatinas com os primeiros colocados na pesquisa do Instituto F5 Atualiza Dados a respeito da corrida pelo Senado. Leia, abaixo, os principais pontos da conversa:



Como o senhor analisa sua atuação no Senado desde que assumiu a vaga de Antonio Anastasia?
Já são vários os projetos apresentados - alguns, aprovados de forma terminativa, como o que dá proteção à mulher no caso de feminicídio (proíbe a tese de legítima defesa da honra). Fui o relator da Lei Paulo Gustavo, e aprovamos por 74 a 0. É estímulo à cultura: R$ 3,8 bilhões serão aplicados por nós neste ano. Aprovamos no Senado, o presidente vetou, mas derrubamos o veto. Os recursos vão para mais de 5 mil municípios, com R$ 380 milhões para Minas.

Minha primeira ação parlamentar foi a PEC, aprovada agora, que aumentou o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, criou o auxílio de R$ 1 mil mensais para 700 mil caminhoneiros autônomos e dobrou, para R$ 106 a cada 60 dias, o auxílio-gás.

A PEC não está sendo usada com fins políticos e eleitoreiros?
Apresentei a PEC porque compreendia que o maior problema, hoje, é a perda do poder de compra. Atinge frontalmente a classe média, mas atingiu de morte os mais pobres. São 33 milhões de brasileiros passando fome, em situação de miséria. Não é retórica; basta andar por Minas. A vida das pessoas piorou muito.

À época, (houve críticas do) ministro Paulo Guedes (da Economia), uma pessoa completamente insensível à realidade do país, que não conhece as várias regiões do Brasil. O grande problema dele é que seu sapato nunca viu um dedo de poeira. É muito teórico, que saiu da Universidade de Chicago e foi para a Faria Lima. Só pensa em pagar os juros da dívida.

O maior erro do governo foi ter entregue as políticas sociais ao ministro da Economia, que conhece de pagar juros a banqueiros; ele é empregado da Faria Lima. Quem determina as políticas sociais no país, hoje, são os banqueiros. Atravessamos um momento de pandemia e um momento de guerra, quando o preço do combustível ficou completamente inacessível à classe média. Mais inacessível ainda (ficou) a vida dos pobres. Paulo Guedes, conservador, chamou essa PEC de 'kamikaze'. Em vez de 'kamikaze', ele deveria considerá-la 'comida em casa'. Voltamos ao mapa da fome e da miséria.

Gastei quatro meses para sensibilizar o Senado e a Câmara. Às portas da eleição, o governo apresentou uma PEC similar. Aí, sim, pode haver críticas. Minha PEC é a 1° de 2022, de fevereiro; a PEC 16, apresentada pelo líder do governo, Carlos Portinho (PL-RJ), é de junho. Uma PEC que o governo combateu de forma atroz, violenta e agressiva, foi apresentada de forma idêntica às vésperas da eleição.

A minha PEC é oportuna, pois enxergava de forma clara que a inflação campeava de forma muito forte, comprimia o preço dos alimentos, impedia a classe média de manter seu padrão de vida, mas, principalmente, atingia frontalmente os pobres. O governo apresentou de forma oportunista - é outra palavra - pensando na eleição. Mas o brasileiro é consciente, sábio, e já mostrou que, em momentos de temperatura normal - espero que seja assim nesta eleição - sabe escolher. E sabe que o presidente Lula é quem se preocupa com os pobres e com as políticas sociais.

Kalil e o senhor apareceram em segundo na pesquisa do Instituto F5, divulgada pelo EM na semana passada. Quando associados a Lula, no entanto, pulam para a liderança. O que pretendem fazer para converter, em votos, o apoio que receberam do PT?

Minha primeira grande oportunidade de servir ao Brasil foi no governo Lula, em 2003. Convidado pelo vice-presidente José Alencar, fui superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Minas por um ano e, depois, diretor-geral no país. Encontramos a malha rodoviária de Minas acabada. Restauramos a BR-135, entre a BR-040 e Montes Claros, que estava intransitável. Participei da duplicação da BR-040, de Sete Lagoas a Curvelo, iniciei a duplicação da BR-262 de Betim a Nova Serrana e comecei o projeto de viabilidade para a duplicação da BR-381 - depois interrompido.

Lula é um líder capaz nesses momentos, principalmente, de grave crise social. Beiramos o caos social no Brasil em termos de desigualdades. A eleição está muito polarizada. É um momento de muita tensão política. Há questões que temos de defender de forma intransigente. Temos valores inegociáveis na sociedade, alguns pelos quais muitos perderam a vida no passado; o primeiro deles é a democracia - e a democracia está sendo colocada em xeque toda hora.

Há uma confusão muito grave entre as instituições, e temos de voltar a ter um líder que coloque o Judiciário para exercer suas funções dentro dos limites de julgar os processos que chegam. Vemos o Judiciário, muitas vezes, ultrapassando esses limites e entrando na seara de outros poderes - e reconheço que muito por omissão do Congresso no passado. O Congresso deixou uma lacuna e o Judiciário ocupou.

Bolsonaro queria o apoio explícito de Zema, mas o governador parece não se interessar pelo apoio do presidente. Como o senhor analisa essa situação?
O eleitor perdoa muita coisa, mas não a incoerência. Há quatro anos, o partido do governador tinha um candidato à presidência: João Amoêdo. E, nos últimos dias (antes) da eleição, Zema declarou apoio a um candidato que sequer tinha participado do pleito por causa daquele triste incidente de Juiz de Fora - que lamentamos, porque qualquer violência tem de ser repudiada por todos.

O governador, de forma oportunista, declarou apoio ao atual presidente e praticamente se elegeu por esse impulso dado. Foi o que aconteceu com João Doria, em São Paulo, que fez o BolsoDoria e venceu.

Agora, o Novo também apresenta uma candidatura (Felipe d'Avila). Mas o governador, aliado do presidente em todo este tempo e seu grande palanque no final da eleição passada, agora nega-o claramente. Não aceita o apoio de Bolsonaro, uma parceria com ele, colocando o presidente em constrangimento. O presidente da República está sem palanque em Minas Gerais. É algo que não lembro de ter acontecido na democracia.

O presidente está ficando sem palanque e o governador vai negá-lo o tempo todo. Mas a sociedade sabe que Zema e Bolsonaro são um só, pensam e agem igual, têm a mesma política econômica, defendem o estado mínimo, a venda da Cemig e da Copasa e as privatizações a qualquer preço.

Qual é o maior problema de Minas em sua visão? Como resolver?
A falta de visão a respeito da gestão de estado. Não houve investimentos em Minas nos últimos quatro anos. As estradas, estaduais e federais, estão em petição de miséria. A saúde vai mal. Os hospitais regionais iniciados no governo Anastasia, paralisados depois, continuam paralisados. Foi feito um feijão com arroz, mas Minas pode muito mais. Teremos, nesta eleição, uma grande oportunidade de alinhar o governo do estado ao governo federal. Kalil foi reeleito com 63% dos votos dos belo-horizontinos e, na pandemia, demonstrou sensibilidade social, socorreu a população e cuidou das pessoas. Teremos a oportunidade de alinhá-lo à sensibilidade social e ao apreço de Lula por Minas. 

O que o senhor pretende priorizar se for eleito?
Precisamos discutir problemas reais, ajudar a mudar a política econômica atroz que prioriza o pagamento de juros sem entender as grandes desigualdades. Todos os mineiros conseguem identificar o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome no governo Lula: Patrus Ananias. Hoje, está tudo no Ministério da Economia.

Disse ao presidente: 'o senhor cometeu um grande erro ao não colocar o ministro da Economia em um avião com o senhor para rodar o Nordeste brasileiro, ao Jequitinhonha, ao Mucuri e a Montes Claros'. Ele deu uma risada, mas não falou nada. O grande erro deste governo foi concentrar as políticas econômicas na mão de quem só quer saber de pagar juros a banqueiros.

O senhor tem trajetória ligada a Anastasia, que por muitos anos foi do PSDB. E compôs o governo estadual dele, que teve o PT como opositor. Apoiar Lula neste ano não soa como contradição?
Minha história com Lula começou com Alencar, homem de centro, do emprego e da renda, presidente da Fiemg, que se tornou vice-presidente para levar as ideias do setor produtivo ao governo. O PSD, partido de centro, somar-se ao governo do presidente Lula, vai levar o mesmo espírito que Alencar levou. Só vamos construir um país com o fortalecimento das nossas empresas, geração de emprego e renda, geração de divisas, investimento no setor produtivo, desburocratização e previsibilidade - o que os investidores internacionais querem para investir no Brasil.

Não dá para fazer um discurso que atenda aos grandes empresários sem nos isolarmos dos 33 milhões passando fome. Temos de buscar um equilíbrio, e essa aliança é a cara disso. Nem o PSD se torna o PT, e nem o PT fica sendo só o PT. Vamos construir, juntos, um país que vai resgatar a dignidade, tirar 33 milhões de pessoas da miséria e continuar defendendo o agronegócio - querem nos afastar do agronegócio.

Tanto o agricultor familiar quanto o pequeno, o grande e o médio produtor são a grande vocação do país. Temos água, solo, clima e povo trabalhador. Temos de comemorar nossas exportações de carne e proteína, mas não podemos comemorar essas exportações tendo um povo sem poder de consumir o que produz.


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