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Estado de Minas MAIS RÁPIDA, MENOS VIOLENTA

O que é a 'covid incidental' e que pistas nos dá sobre a variante ômicron

A onda de novos casos relacionados à variante pode estar mudando o impacto do coronavírus como é conhecido até o momento.


04/01/2022 20:07 - atualizado 05/01/2022 09:54


Mulher é submetido a exame de covid-19
(foto: EPA)

Enquanto a onda de casos da ômicron quebra recordes de infecções em todo o mundo, a comunidade científica corre para entender o real impacto dessa variante do coronavírus.

As evidências levantadas até o momento apontam duas questões claras.

A primeira é que graças à proteção das vacinas, a imunidade natural e as mudanças no vírus, a ômicron parece menos violenta que suas antecessoras.

A segunda é que sua transmissão ocorre tão rapidamente que o avanço dela desafia a saúde pública e a recuperação econômica.

O Reino Unido, devido ao seu alto número de contágios, ao seu extenso programa de testes e à capacidade de sequenciamento do vírus, oferece pistas rápidas e confiáveis sobre o comportamento da ômicron.

E uma das características dessa onda no país parece ser a relevância dos chamados casos de "covid incidental", um fenômeno que pode mudar a forma como medimos o impacto real da pandemia.

Mas em que consistem esses casos?


Sala de hospital no Reino Unido
Cientistas do Reino Unido chamam de "covid incidental" os casos de pacientes que chegam aos hospitais por outras causas que não sejam a doença causada pelo coronavírus (foto: Getty Images)

Covid como causa secundária

A "covid incidental" é um termo que membros da equipe de saúde e cientistas do Reino Unido têm usado para designar os casos daqueles que vão ao hospital por uma doença diferente da provocada pelo coronavírus, mas que, ali, descobrem que também estão com o vírus.

Ou seja, pacientes que estão supostamente no hospital "com covid", mas não "pela covid".

A ômicron se espalha tão rapidamente que uma porcentagem considerável da população, assintomática ou não, tem o vírus sem saber. Portanto, é possível que a pessoa busque atendimento no hospital, por exemplo, por causa de apendicite, e que, uma vez internada, teste positivo para o coronavírus. Em outros casos, é possível que sejam infectados no próprio hospital.

Esses positivos são incluídos igualmente nos dados diários de infecções e hospitalizações com o vírus.

Dados da semana passada sugerem que um terço dos internados em hospitais na Inglaterra estavam nessa posição.

Isso, argumentam políticos e cientistas, pode estar causando uma imagem distorcida do impacto dessa onda.

Mas isso é um fato bom ou ruim? Isso significa que estamos superestimando a capacidade de infecção dessa nova variante?

Ainda é cedo para tirarmos conclusões. Os especialistas esperam que o cenário fique mais claro com o passar das semanas.

Além disso, a situação pode variar conforme cada país em razão das diferenças demográficas e epidemiológicas.


Estes positivos ao redor de um telefone
Em razão do seu amplo programa de testes e sequenciamento genético do vírus, Reino Unido oferece detalhes sobre o comportamento da ômicron (foto: Getty Images)

Debate aumentando

Chris Hopson, diretor do NHS Providers (parte do sistema de saúde público do Reino Unido), falou em seu perfil no Twitter, no fim de dezembro passado, sobre o impacto dos casos de "covid incidental".

Ele alertou, entre outras questões, sobre a maior proporção de "pacientes assintomáticos internados no hospital por outras razões e que logo testaram positivo para a covid, o que alguns estão descrevendo como 'covid incidental'".

Alguns receberam essa observação como uma boa notícia, como mais uma prova da menor gravidade dos casos da ômicron.

Várias reportagens publicadas na imprensa britânica questionam se é a hora de mudar a forma como o impacto da pandemia é medido.

Os dados mostram que, apesar do recorde de infecções, as hospitalizações por covid aumentam em um ritmo muito menor que as ondas anteriores.

Mas especialistas consultados pela BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, insistem que é muito cedo para determinar o real potencial de impacto da ômicron.

O que é possível afirmar no momento atual é que essa nova variante está gerando novos desafios.

Menos pneumonia, mais dano autoimune

O professor David Strain, na Faculdade de Medicina da Universidade de Exeter, no Reino Unido, diz à BBC que a ômicron está provocando menos casos de pneumonia e que muitos dos pacientes não chegam ao hospital tendo a covid como causa primária para a busca por atendimento.

A pneumonia é uma das complicações mais sérias após a infecção pelo coronavírus e é a causa final da morte de muitos infectados, principalmente idosos e pacientes imunossuprimidos.


Boris Johnson
O governo do Reino Unido acompanha o comportamento da variante ômicron para avaliar se será preciso definir novas restrições (foto: Getty Images)

No entanto, Strain afirma que "não diria que isso é exatamente uma boa notícia".

Essa variante implica em uma maior chance de ser infectado mesmo tendo sido vacinado. E nos casos de quem não se vacinou, pode ter efeitos mais graves.

"Muitos pacientes, principalmente os mais jovens, entre 20 e 30 anos, continuam chegando muito doentes. São pacientes que não têm pneumonia, mas sofrem com a segunda parte da infecção, a que provoca uma sobrecarga de problemas inflamatórios como coágulos sanguíneos ou edemas", explica Strain.

Os pacientes que sofrem de doenças crônicas como diabetes, problemas cardiovasculares ou colite ulcerativa, por exemplo, estão mais expostos a esse tipo de resposta autoimune.

"Como a gripe, a covid-19 pode agravar esses tipos de doenças médicas, assim como problemas nos pulmões, nos rins e no cérebro", diz o virologista Julian Tang, especialista em doenças respiratórias pela Universidade de Leicester, no Reino Unido.

Strain explica que esses são os pacientes que, quando dão entrada no hospital, podem também figurar como casos de "covid incidental".

"Mas mesmo que sejam internados por problemas relacionados à sua doença cardiovascular, se eles têm covid é muito provável que a infecção tenha sido o que piorou a condição anterior", explica Strain.

Como consequência, isso leva a "uma permanência mais longa, um aumento nas admissões recorrentes e uma maior frequência de consultas ambulatoriais", acrescenta Tang.

Em síntese, embora os casos de "covid incidental" pareçam excluir complicações como a pneumonia, esses pacientes continuam a representar um desafio causado pelo vírus para os profissionais e para o sistema de saúde.

"É certo que os casos de "covid incidental" não são internações diretas e geralmente não têm pneumonia, mas no fim são pacientes cujas enfermidades deterioraram definitivamente por causa da covid", explica Strain.


Paciente con respiración asistida en un hospital de Reino Unido.
Em comparação a variantes anteriores, há menos internados com a ômicron que precisam de respirados nos hospitais, segundo especialistas (foto: Getty Images)

Os profissionais de saúde afetados

Tang lista outros problemas em razão da alta taxa de contágios da ômicron e dos casos de "covid incidental".

"Esta onda está causando muitas ausências de profissionais de saúde em hospitais, porque as vacinas e a dose de reforço oferecem uma proteção incompleta em relação à variante ômicron", declara Tang.

"Se não houver pessoal suficiente, isso afeta de maneira indireta e piora as perspectivas para os pacientes", explica o especialistas.

Portanto, segundo Tang, "os casos de "covid incidental" seguem como importantes do ponto de vista do controle de infecção e de saúde pública", acrescenta.

"Estamos vendo um aumento no número de pessoas que vão ao hospital, mais baixas de pessoal de saúde e tudo isso aumenta a pressão" sobre o sistema de saúde, admitiu Chris Hopson em recente entrevista à BBC.

Enquanto isso, o governo do Reino Unido, chefiado pelo primeiro-ministro Boris Johnson, descarta a aplicação de mais medidas restritivas, alegando que a ômicron é "claramente mais leve" que as outras variantes.

Porém, ele reconhece que a pressão sobre os serviços públicos de saúde será "considerável" nas próximas semanas e diz que seria um "absurdo" pensar que a pandemia acabou.

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