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Ambulantes podem lucrar mais de 150% no carnaval

Expectativa é otimista, mas alto número de credenciados em BH (16.117) provoca receio em vendedores, que veem risco com competição


15/02/2023 04:00 - atualizado 15/02/2023 08:04

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Eneas Vieira e a mulher, Débora de Fátima, apostam nos drinques diferenciados para faturar com os foliões na festa de Momo (foto: fotos: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

A folia do carnaval de Belo Horizonte entra na sua semana mais intensa. Com o período oficial da festa tendo início a partir desta sexta-feira e se estendendo até o dia 22, o número de foliões nas ruas e o número de blocos desfilando vai aumentar consideravelmente, fazendo crescer, por consequência, os ambulantes nas ruas. Este ano as informações da Empresa Municipal de Turismo de BH (Belotur) dão conta de que 16.117 pessoas se cadastraram para trabalhar no período, que começou no dia 4. A expectativa de ganhos     dessa categoria chega à casa dos 150% a mais do que o investido.

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Glenya Fonseca e Carlos Magno estão animados com a possibilidade de ter retorno alto com venda de produtos, com previsão da cidade cheia de foliões
Uma pesquisa do Observatório do Turismo, ligado à Belotur, estima que o investimento médio dos trabalhadores credenciados na compra de mercadorias é de R$ 1,8 mil, com a expectativa de ganhos com as vendas chegando a R$ 4,5 mil. “Esperamos que este seja o maior carnaval que BH já organizou, já que estamos vindo de dois anos de pandemia. São trabalhadores que esperam o ano inteiro para ter sua venda no evento”, disse Adjailson Severo, presidente da Associação dos Trabalhadores Ambulantes de BH, que comparou o carnaval como um “décimo terceiro” da categoria.
 
O número de trabalhadores vendendo desde água até destilados mais fortes e outros produtos cresceu 10% em relação à última edição da festa de Momo, em 2020, quando foram credenciadas 14.694 pessoas. Neste ano, 27% das pessoas aptas vão atuar no evento pela primeira vez. Esse é o caso da Glênya Fonseca Costa, de 26 anos, que trabalhou no último sábado  no bloco Uai Cê Samba, na Avenida Fleming, no bairro Ouro Preto, região da Pampulha. A trabalhadora autônoma esteve acompanhada do amigo Carlos Magno Damaceno, de 61, e juntos vão acompanhando os blocos atrás dos consumidores.
 
Com um investimento em torno de R$ 4 mil, distribuídos em produtos e equipamentos – carrinho, caixa de isopor e copos descartáveis –, a dupla está esperançosa para ter um retorno de R$ 8 mil diante da anunciada “invasão de turistas”, principalmente porque durante a pandemia Carlos fez o investimento em um bar, mas acabou perdendo o recurso e agora espera recuperar. "Estamos apostando alto, pois, com a pandemia, a folia ficou represada", disse Carlos.
 
Ainda no Uai Cê Samba, Enéas Vieira Júnior, de 47, conta ter investido R$ 7 mil em mercadorias variadas, mais uma certa quantia na compra de um carrinho novo para trabalhar na folia. O ambulante espera ter um lucro na faixa dos R$ 10 mil, “mas isso Deus é quem sabe”, contou. Animado com o “carnaval atrasado”, conforme define a edição de 2023, após a interrupção de dois anos devido à pandemia, Enéas esteve na Fleming junto com a esposa, Débora de Fátima Ribeiro, e acredita em boas vendas de bebidas alcoólicas, refrigerantes, sucos, água mineral e outras novidades.
 
“Temos duas bebidas que prometem fazer o maior sucesso: o Xeque Mate e o Gingibre”, contou. Enéas ainda explica que Xeque Mate é uma mistura refrescante de mate, rum, guaraná e limão. Já o Gingibre, como o próprio nome diz, tem gengibre, limão e gin na composição. “Vamos acabar de matar esse 'corona'”, afirmou sobre o coronavírus, que prendeu as pessoas em casa em 2021 e 2022.

Pesquisa

Uma pesquisa de intenção de consumo com 921 foliões, feita pela área de Estudos Econômicos e o setor de Negócios Turísticos do Sistema Fecomércio MG, Sesc e Senac e apoiada pela Belotur, revelou que 67,31% dos entrevistados pretendem comprar bebidas com frequência na mão de ambulantes. Em comparação, bares e restaurantes só serão procurados para esse consumo 14% das vezes.
 
O carnaval se consolidou nos últimos anos e tem atraído cada vez mais ambulantes para a festa, principalmente pessoas que pretendem, de alguma maneira, completar a renda e esperam bons lucros. 
 
“O lucro varia. Muitos ambulantes estão começando agora e não têm aquela experiência que alguns já têm, mas conversando durante esses eventos (pré-carnaval) eles esperam tirar entre R$ 5 mil e R$ 10 mil de lucro”, retorna Adjailson Severo.
 
A pesquisa ainda observa que água e cerveja dominam a preferência dos foliões, que vão consumir as bebidas com recorrência. Já falando em preços médios, a Prefeitura de Belo Horizonte informa que interfere ou sugere valores para as mercadorias comercializadas no carnaval, mas o consumidor pode encontrar com os ambulantes preços que variam entre R$ 3, em um simples pacote de bala, e R$ 25, alguma bebida mais cara.
 
A queridinha cerveja pode ser encontrada em um custo que varia de R$ 7 a R$ 10. A única regra imposta para os trabalhadores ambulantes impede a venda de alimentos, bebidas fracionadas e em recipientes de vidro.

* Estagiário sob supervisão do subeditor Marcílio de Moraes

Competição maior gera apreensão

Pessoas que atuam atrás do carrinho e da caixa há muitos anos relatam que a previsão de faturamento nesta edição do carnaval é ainda mais difícil de ser feita, devido à imprevisibilidade da festa, mas contam que em outros anos o faturamento chegou a R$ 25 mil no final do mês de fevereiro. Jaqueline Cardoso, por exemplo, atua como ambulante desde os 10 anos. Hoje com 43, ela conta que não tem muita expectativa de lucro com a festa devido à alta competição entre os “caixeiros”.
 
Investindo em média R$ 3 mil, a trabalhadora afirma que o número grande de ambulantes credenciados pode complicar a vida de muitos. “Não faço ideia de quanto vou tirar, é muito ambulante junto. Em um lugar só você vê cerca de 200 a 300 caixas juntas. Atrapalha muito”, disse Jaqueline, lembrando que em outros carnavais o número de ambulantes chegava a 5 mil pessoas e agora já passa de 16 mil.
 
No último fim de semana de pré-carnaval, a ambulante atuou em blocos como o Asa de Banana, na Avenida Getúlio Vargas, e o ClandesTinas, na Rua da Bahia. Mesmo com o intenso movimento, ela relata vendas ruins e prefere nem comentar em termos de lucro no dia. Ela ainda finaliza dizendo que é preciso ter uma estratégia de venda e pensar em alguma promoção para não ter prejuízos.
 
Genis Alves compartilha do mesmo pensamento que a companheira ambulante. Coordenador da Central de Apoio ao Trabalhador Ambulante (Cata) – uma organização que tem tentado mobilizar a categoria –, o ambulante atua na área desde 2014, nunca perdeu um carnaval e também espera uma dificuldade em lucrar. “Às vezes você chega em um bloquinho e tem mais ambulantes do que folião”, observou Genis.
 
Com experiência na área, ele ainda detalha que o investimento do ambulante roda em torno de R$ 3 mil, porém é algo difícil de ser previsto, pois pode existir a necessidade de reposição de mercadoria. “O ambulante, à medida que vai vendendo ele gira. Por exemplo, esvaziou a caixa e tem alguma distribuidora perto ou algum ponto de apoio da Ambev, ele precisa repor a mercadoria. Não tem como dar um valor específico porque isso na prática não acontece”, contou Genis.
 
No último carnaval, em 2020, ele chegou a tirar R$ 12 mil no fim da festa, representando seu maior lucro no ano. O representante do Cata ainda afirma que é necessária uma política pública melhor para o carnaval e o número de ambulantes credenciados precisa ser discutido com a prefeitura. “Essa crítica precisa ser debatida com o poder público no decorrer do ano, até para não dar prejuízo para o iniciante. Lembro-me de que em outras edições a gente chegava nos blocos e com duas horas esvaziava as caixas. Hoje você tem que ir em dois ou três lugares”, completa Genis. (BN, GW e LP)

Projeto de lei regulamenta atividade

O Plenário da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) aprovou por unanimidade (36 votos a favor e nenhum contra), na sexta-feira, o PL 783/2019. De autoria da vereadora Cida Falabela (Psol) e da ex-vereadora, e agora deputada estadual, Bella Gonçalves (Psol). O texto altera trechos do Código de Posturas de Belo Horizonte que comprometiam a atividade ambulante em manifestações espontâneas e abria brechas para o recolhimento do material dos trabalhadores.
 
Em conversa com o Estado de Minas, a deputada Bella conta que o projeto não vale para o carnaval. “É entendido que é importante ter uma regulamentação prévia do carnaval que estabeleça suas diferentes questões. Mas ele (PL 783/2019) abre espaço para que atividades de bebidas em caixas, em manifestações culturais, artísticas, políticas e em jogos de futebol – que hoje acontecem de forma informal – possam ser credenciadas pelo Poder Executivo. A ideia é que para além do carnaval o trabalhador tenha oportunidades na cidade e isso deve ser regulamentado pela prefeitura”, disse Bella Gonçalves.
 
O projeto de lei foi uma demanda dos próprios trabalhadores, que, em um grupo de quase 50 ambulantes, levaram a questão, em 2019, para as vereadoras, sendo considerado uma importante conquista da classe, que cada vez mais tem se mobilizado politicamente. “Desde 2016, quando a prefeitura tentou impor a venda de uma marca específica de bebida, a gente tem se mobilizado. Aqui em Belo Horizonte, a gente se credencia na época do carnaval, mas no decorrer do ano era criminalizado e o projeto de lei vai ajudar nisso”, disse Genis Alves, que além de ambulante e coordenador do Cata, atua como coordenador estadual Movimento dos Trabalhadores Sem Direitos (MTSD).
 
A vereadora Iza Lourença (Psol), que tem forte interlocução com a categoria, conta que o PL foi difícil de ser aprovado, pois exigiu uma forte articulação das parlamentares. “Não é o que a gente queria, mas os trabalhadores ambulantes já consideram um avanço e abre caminhos para que a gente possa acabar com a perseguição a essa categoria”, afirmou Iza. A vereadora também explica que hoje com 10 mil ambulantes credenciados no carnaval, o processo é algo plausível. “É claro que a gente queria que tivesse a liberação dos ambulantes também no carnaval, sem precisar do cadastramento, mas uma vez que é um processo acessível, achamos que não vamos ter problemas no carnaval nesse sentido”, disse.
 
Iza Lourença e Bella Gonçalves também contaram que existe uma expectativa para que o PL seja sancionado pelo prefeito Fuad Noman (PSD) sem maiores problemas devido ao amplo debate que existiu com a prefeitura. “A prefeitura hoje é mais aberta para conversar sobre a questão dos ambulantes. A postura vem mudando muito e os trabalhadores já conseguem se reunir com o Poder Executivo”, ressaltou Bella. (BN, GW e LP)
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(foto: Gladyston Rodrigues /EM/D.A Press)

Enquanto isso...Ambulantes são Barrados em desfile da Banda Mole

No último sábado, a tradicional Banda Mole, com 48 anos de carnaval, fez o 46º desfile da sua história, na Avenida Afonso Pena. O evento, no entanto, foi patrocinado pela Cervejaria Backer e não fez parte da programação oficial do carnaval de Belo Horizonte, o que pegou alguns trabalhadores ambulantes de surpresa. Durante as 10 horas de festa, os trabalhadores precisaram ficar do lado de fora do isolamento da região ocupada pela Banda. Mesmo impedidos de entrar, os caixeiros esperavam lucrar do lado de fora do evento, que tinha uma espera de público de mais de 50 mil foliões. Porém, a realidade não foi o que muitos trabalhadores queriam. “A expectativa era de vender R$ 8 mil, zerar o estoque, mas não chegou nem a R$ 200”, disse Devanildo Teixeira (foto), auxiliar de serviços gerais que esperava tirar um extra como ambulante. Patrick Carlos, de 24 anos, trabalha com Uber no dia a dia, mas para conseguir um extra também foi atuar como ambulante no carnaval. Barrado no evento da Banda Mole, ele relata que a situação foi muito complicada, conseguindo vender um valor de R$ 50 até meados do evento. Com a caixa cheia, ele argumenta que a situação foi complicada pela maneira como foi conduzida. “Colocaram todo mundo junto do lado de fora, os ambulantes um do lado do outro e com certeza isso fica mais difícil da gente vender na frente de um supermercado ainda, fica difícil”. Patrick, que fez um investimento de R$ 2 mil para estar no bloco,  queria vender no mínimo mil para minimizar o prejuízo. “Foi decepcionante”, disse o jovem.



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