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Estado de Minas JULGAMENTO

Chacina de Unaí: ex-delegado descarta Antério como mandante do crime

Antônio Celso dos Santos era delegado da Polícia Federal e participou das investigações. Para ele, Norberto Mânica seria o mandante


25/05/2022 19:08 - atualizado 26/05/2022 12:10

Cartazes com o rosto das quatro vítimas da Chacina de Unaí e cruzes
Manifestantes pedem justiça do lado de fora do local onde acontece o julgamento de Antério Mânica (foto: Jair Amaral/EM/D.A press)
A primeira testemunha de defesa a ser ouvida, no julgamento de Antério Mânica, foi Antônio Celso Santos. Ele era delegado da Polícia Federal e responsável pela investigação do crime na época, em conjunto com o delegado de Polícia Civil Wagner Pinto de Souza.

O ex-delegado detalhou como foi feita a investigação do caso e descarta que Antério seja o mandante da chacina. Ele acredita que o irmão Norberto é que ordenou as mortes dos fiscais.

“Se tivesse mais alguma coisa em relação ao Antério, eu teria investigado.”

Antônio contou que estava em Brasília e foi acionado para ir até Unaí. Segundo ele, vários fazendeiros eram suspeitos, principalmente porque o fiscal Nelson Soares da Silva era conhecido por ser rigoroso nas fiscalizações.

Ele disse que, com base nas investigações, Norberto Mânica seria o principal interessado no crime, embora outros irmãos da família estivessem sendo investigados, além de outros fazendeiros da região. 


Segundo o ex-delegado, Nelson deveria ser morto em Paracatu, mas por vários problemas a ação foi adiada. 

A única suspeita em relação a Antério foi que funcionários do Ministério do Trabalho relataram duas ligações dele para saber se havia alguma ocorrência com fiscais. Mas a testemunha disse que eles não conseguiram determinar que o telefonema foi feito de forma privilegiada, ou seja que só Antério poderia saber do fato. 

Ele afirmou que nunca sofreu qualquer pressão para não investigar os fazendeiros de Unaí.

Indícios tênues


O ex-delegado disse que relatou o inquérito, fez análise técnica, com provas. “Só indiciamos quem tínhamos alguma prova concreta. As provas e indícios contra Anterio eram muito tênues. Nas interceptações o nome dele não apareceu em nada relacionado ao crime.” 

“Tenho ética profissional de indiciar somente quem tem pelo menos alguma prova. Se fosse me apegar a coisas que ouvi, teria que indiciar metade da cidade de Unaí, todos os fazendeiros”, completou. 

Ele afirmou que apesar de checar diversas conversas, fruto de interceptações telefônicas,  nunca escutou que Antério teria interesse na morte dos fiscais. Já Norberto sim, principalmente porque ele era muito amigo de  Hugo Alves Pimenta, considerado intermediário do crime. 

O ex-delegado disse que Hugo reclamou dos fiscais para Chico Pinheiro, outro intermediário. E Pinheiro teria dito que arrumaria os pistoleiros para matá-los. 

Na época do pagamento de Chico Pinheiro, segundo as investigações, Pimenta descontou um cheque de R$ 40 mil, quantia próxima da que Chico Pinheiro recebeu. Ele chegou com R$ 39 mil em dinheiro para pagar os pistoleiros. 

MP questiona andamento de investigação 


Membros do Ministério Público questionaram o ex-delegado sobre não dar andamento à investigação do Fiat Marea. 

Ele disse que investigadores levantaram quantos veículos da marca estavam registrados em Unaí, mas que não conseguiram provas de que o Marea escuro relatado no depoimento do pistoleiro Willian Gomes pertencia a Hugo Pimenta ou à esposa de Antério. 

Os assistentes de acusação e os membros do Ministério Público questionaram o fato de algumas dessas diligências não terem sido juntadas aos autos do processo.


Julgamento retomado


Após um intervalo, o julgamento recomeçou com o depoimento de José Mário Karmircsak, conhecido como Juca. Ele era gerente da Cooperativa Agrícola de Unaí (Coagril). Antério era um dos diretores da cooperativa. 

No dia da chacina, ao ficar sabendo sobre a morte dos fiscais, Juca ligou para Antério. Ele disse que o contato foi feito em razão do vínculo de amizade entre eles. 

“Ele foi o primeiro presidente da cooperativa e me convidou para tomar o lugar dele. Tínhamos um projeto político, ele estava se candidatando à prefeitura. Dentro de uma hierarquia da cooperativa, sem nenhuma intenção liguei pra ele.” 

Perguntado pelo representante do Ministério Público (MP) se o relacionamento com Antério pode interferir nos seus esclarecimentos, Juca respondeu que não.  

Ele disse ainda que não tinha conhecimento sobre as irregularidades nas fazendas de Antério. “Sabia que ele cumpria todas as exigências.” 

Diante dos relatos feitos pelo MP de jornadas de trabalho excessivas por parte dos funcionários nas fazendas de Antério, a testemunha preferiu não comentar. Disse ainda que não soube das ameaças sofridas pelos fiscais. 

Juca é a segunda das seis testemunhas arroladas pela defesa. A juíza ainda pretende ouvir o depoimento das demais ainda nesta quarta-feira.

A Chacina de Unaí

Em 28 de janeiro de 2004, Eratóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva foram assassinados a tiros em uma emboscada quando investigavam condições análogas à escravidão na zona rural de Unaí, incluindo as propriedades da família Mânica. O motorista Ailton Pereira de Oliveira, que acompanhava o grupo, também foi morto.

Além de Antério Mânica, o irmão dele, Norberto, foi condenado como outro mandante da chacina. Ele, porém, está em liberdade. Outros condenados pelos crimes foram Hugo Alves Pimenta, José Alberto de Castro, Erinaldo de Vasconcelos Silva, Rogério Alan Rocha Rios e Willian Gomes de Miranda, que cumprem pena na prisão.


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