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Estado de Minas CHUVA NÃO É SUFICIENTE

Crise hídrica: Vale do Mucuri pode reviver caos de 2015

Pesquisa feita por professor da UFVJM mostra que crise de 2015 não foi superada; cidades têm menos árvores e choveu menos do que o esperado


03/09/2021 18:41 - atualizado 03/09/2021 19:00

Em 2015, Itambacuri viveu um período de seca completa. Não havia água para abastecimento
Em 2015, Itambacuri viveu um período de seca completa. Não havia água para abastecimento (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 6/11/15)
Olhar para o céu em tempos como esses deixou de ser um sinal de esperança. Passou a ser de medo e apreensão. Com pouca chuva, a estiagem castiga o interior mineiro, que vê cada vez mais perto o fantasma do racionamento de água por causa da crise hídrica.

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O Estado de Minas contou como o Norte de Minas tem enfrentado o período de seca intensa . Mas essa não é a única região que passa pela estiagem com severas consequências.

E para quem mora em Itambacuri, no Vale do Mucuri, a sensação é de repetição de um problema enorme. Em 2015, a cidade se viu seca . O rio que corta o município tinha um filete minúsculo, era impossível captar água. Moradores disputavam baldes de água que chegavam em caminhões pipa.

A dona de casa Maria Vieira, de 56 anos, lembra até hoje o perrengue que passou. "Não tinha água para cozinhar, nada. Era desesperador", afirmou. Na época, ela morava na região central da cidade, e hoje vive em um sítio na zona rural. E tem medo de reviver o problema.
 
"A gente economiza como pode, mas tenho medo de passar por tudo isso de novo", diz.
 
A prometida barragem, que deveria ter saído do papel antes da crise de 2015, só foi construída de fato no ano passado. Hoje, a avaliação do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) é que aquele mesmo cenário de seis anos atrás não vai acontecer novamente, mas a autarquia está preocupada com o avanço da estiagem.
 
Ainda não há falta d'água, mas a cidade pede a conscientização dos moradores para evitar o desperdício.

Sem árvores, sem chuva: uma combinação perigosa

Esta semana foi atípica, com pancadas de chuva e até alerta para grandes acumulados de água na região . Mas, segundo o sociólogo Leonel de Oliveira Pinheiro, especializado em cooperativismo, e que hoje dá aulas na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), ainda é pouco para afastar o fantasma do racionamento.
 
Desde 2010, ele estuda os efeitos da seca, das mudanças climáticas e da situação da vegetação das cidades, especialmente para produtores rurais que se unem em cooperativas e aqueles que sobrevivem do campo, como parte do Grupo de Extensão e Pesquisa em Agricultura Familiar (GEPAF). Para ele, a situação só tem piorado.
 
A região é cortada pelos rios Mucuri, Pampã e Jequitinhonha, mas o mapa é "desigual" nesse sentido. Há cidades que não são banhadas por nenhum desses rios, e em outros municípios a calha não é grande, pela própria composição geográfica.
 
A região do semi árido mineiro está sob influência de La Niña, efeito climatológico da diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico Tropical Central e Oriental, reduzindo a quantidade de chuvas e deixando o clima no Sudeste ainda mais seco.
Leonel de Oliveira Pinheiro, pesquisador do Grupo de Extensão e Pesquisa em Agricultura Familiar (GEPAF), aponta situação crítica no Vale do Mucuri
Leonel de Oliveira Pinheiro, pesquisador do Grupo de Extensão e Pesquisa em Agricultura Familiar (GEPAF), aponta situação crítica no Vale do Mucuri (foto: Divulgação)
 
Pinheiro aponta que a arenização, novo nome dado pelos biólogos ao processo de "desertificação", é grande no Vale do Mucuri. Ou seja, menos árvores, menos vegetação, que ajuda no processo das chuvas.

O município de Carlos Chagas, por exemplo, tem apenas 2% de área de vegetação, um número muito baixo, que contrasta com o solo fértil.

"É claro que esse não é o único fator. Temos uma queda gradativa desde 2010 da quantidade de chuvas na região, o aumento do calor. É uma somatória de problemas que se transforma nesse caos", disse o professor.
 
A prefeitura de Carlos Chagas reconhece o problema, mas lembra que também sofre com essas consequências. Em 2016, produtores rurais perderam cabeças de gado e muitos também tiveram lavouras perdidas.

Hoje, algumas comunidades mais afastadas já enfrentam o desabastecimento. A prefeitura leva caminhões pipa e estuda canalizar água para espaços de uso coletivo. É justamente os bairros mais distantes que preocupam.

Carlos Chagas implantou um sistema teste de captação de água para que a população mais afastada possa ter abastecimento
Carlos Chagas implantou um sistema teste de captação de água para que a população mais afastada possa ter abastecimento (foto: Prefeitura de Carlos Chagas/Divulgação)
 

Em Nanuque, distância também é problema

O estudo mostra que Nanuque e Carlos Chagas, por exemplo, têm uma grande área territorial, mas poucos moradores, a chamada baixa densidade demográfica.

"É a matemática difícil de conseguir levar água para todos os locais, por mais difíceis que sejam de alcançar. É por isso que outras políticas precisam ser pensadas para que a água chegue a todos", analisa o professor.
 
Ao Estado de Minas , o diretor da Divisão de Agropecuária e Acesso a Mercados da prefeitura, Rogério Delamare, explica que, assim que a estiagem chegou, o Conselho de Desenvolvimento Rural foi reunido, com visita técnica para conhecer a situação e estudar técnicas de conservação e armazenamento de água. 
 
"Já fizemos uma unidade demonstrativa para que sirva de experiência piloto para quem queira conhecer. Estamos em processo de elaboração de Acordo de Cooperação com o GEPAF para que seja realizado mapeamento das nascentes nas bacias hidrográficas e uma imediata ação de proteção dessas nascentes", explica.

A cidade tem cinco poços artesianos abertos na zona rural, mas não estão ativos. A prefeitura enviou um ofício à Copasa e à Copanor para que as instalações sejam concluídas.
 
Além disso, segundo Delamare, o município também avalia a implementação de "tecnologias sociais", como uma caixa seca para guardar a água da chuva, pluviômetros para verificar a quantidade dessas chuvas, barraginhas nos rios que cortam a região e viveiro de mudas nativas para reflorestamento das nascentes. Um processo de retomada dos plantios está em andamento, e a estimativa é que hoje a arborização tenha subido para 3%.

"Temos notado uma vontade das pessoas em ajudar a recuperar áreas de vegetação, e com os programas que temos previstos, a ideia é aumentar mais esse número", finaliza o diretor.


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