Jornal Estado de Minas

ESPERANÇA E ALERTA

COVID-19: é cedo para programar o Natal? Veja o que dizem especialistas


Próximos da 'vida normal', mas ainda enfrentando um platô de mortes provocadas pela COVID-19 e de contaminações, além do risco das variantes do coronavírus. É esse o cenário que resume a visão de infectologistas ouvidos pelo Estado de Minas, num ambiente de redução dos indicadores da doença respiratória, e ampliação da vacinação, mesmo que a passos lentos.



Por esses motivos, eles alertam a população para que sejam mantidos os cuidados de prevenção contra a virose. Para entender melhor a realidade e a tendência nos próximos meses, a reportagem consultou os três médicos infectologistas que integram o Comitê de Enfrentamento à COVID-19 na Prefeitura de Belo Horizonte.



O infectologista Unaí Tupinambás, professor na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e integrante do comitê de assessoramento da PBH nas medidas de combate à doença respiratória, alerta para o fato de que o nível dos óbitos provocados pela COVID-19 continua alto, a despeito da redução na média móvel de mortes.“O problema é que nós banalizamos o cenário atual”, comenta.

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


O médico menciona as “curvas de casos” de países europeus. Na Inglaterra, por exemplo, a onda é bem definida. Isso significa que é visível quando os diagnósticos aumentam ou diminuem bruscamente. No Brasil, desde a primeira onda, os números da pandemia ficam estáveis em um patamar alto – o chamado “platô”.





“Não gosto de falar de onda, estamos numa inundação. Se em março e abril estávamos com a água acima do nariz, tendo que ficar na ponta dos pés, hoje estamos com a água no peito. Há uma tendência de queda, que é um bom sinal. Mas estamos com situação ainda muito desconfortável”, analisa o professor.

Indicadores ainda na faixa de alerta

Os números do boletim epidemiológico e assistencial da Prefeitura de BH ajudam a ilustrar o que diz o especialista. Embora  quase todas as atividades comerciais estejam em funcionamento, a capital encerrou a semana passada com todos os três indicadores da pandemia de COVID-19 na faixa de alerta da escala de classificação de riscos.

A transmissão do vírus está em 1,04 –  a maior desde 28 de maio – e as taxas de ocupações dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) e de enfermaria marcaram, respectivamente, 66,8% e 53%.





O que muda é que, diferentemente do ano passado, os especialistas podem, agora, contar com a perspectiva da vacina, mesmo que ainda existam dúvidas sobre o tempo de imunidade. “A gente não fica livre da pandemia nem do vírus por um bom tempo. As pesquisas estão indicando que talvez tenhamos que tomar alguma dose de reforço a cada talvez 12, 18 ou 24 meses. A gente ainda não sabe. O vírus vai continuar circulando e vamos ter que tomar alguns cuidados, e, claro, a vacinação é um deles”, diz Unaí Tupinambás.

Resultados da vacinação

Carlos Starling, especialista em saúde pública pela UFMG e o mais experiente entre os médicos infectologistas do grupo que orienta o prefeito de BH, Alexandre Kalil (PSD), ressalta que a vacinação em BH já tem resultados importantes.

(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 29/5/21)


“Observamos uma redução do número de internações e do número de óbitos, isso foi estatisticamente significativo. Temos uma taxa de normalidade acima de 70%, o que tem permitido a flexibilização progressiva tanto de aulas presenciais quanto também de algumas atividades culturais e de lazer. Progressivamente, estamos com oportunidade de chegar bem próximo daquilo que nós chamávamos de nossa ‘vida normal’”, lembra.





A situação é ainda de indefinições e incertezas por causa de um motivo que preocupa especialistas: as novas variantes do coronavírus.

 “Temos uma melhora progressiva dos números, certamente resultante do processo de vacinação que avança, de forma lenta, mas avança. Portanto, temos motivos para comemorar essa redução do número de casos e de óbitos, mas as variantes circulantes, como a Delta, ainda nos deixam muito preocupados com a possibilidade de termos sim uma nova onda”, afirma Carlos Starling.



O perigo está na virulência da nova cepa, que é de cinco a oito vezes mais transmissível do que a cepa original que deu início à epidemia e vem já infectando pessoas que jamais saíram do país ou tiveram contato com outras pessoas que estiveram fora. “Portanto, é um momento ainda muito preocupante e todos devem tomar um cuidado, além de se vacinar”, alerta Starling.

É cedo para programar o Natal

O esperado fim de ano, época das tradicionais confraternizações de Natal e ano-novo, tende a ser menos triste em 2021, com a redução dos indicadores da pandemia de COVID-19 frente ao drama intenso que o Brasil viveu em 2020. Contudo, o melhor é não programar festas com a família e amigos, por enquanto.



(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 19/6/20)


“É cedo porque ainda não sabemos qual será o impacto das variantes”, observa Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, coordenador dos serviços de infectologia de hospitais na Grande BH. Ele também participa do comitê de enfrentamento da doença em BH.

“A vacina com certeza está acelerando, grande parte da população-alvo estará vacinada no fim do ano. A grande dúvida é saber qual será o impacto de algumas variantes neste momento, principalmente a variante Delta e os seus efeitos sobre a população”, adverte.

Se a vacina mostra eficiência no combate a essa variante, o Natal será seguro. Em contrário, se essa vacina for parcialmente efetiva, quer dizer, uma situação em que a cepa fugir à imunidade conferida pela vacinação, o Brasil terá problemas, na visão de Urbano.





Segundo o infectologista, a circulação gradativa da cepa por todo país é uma questão de tempo. “A grande dúvida é o quanto ela será pega pela nossa imunidade ou o quanto ela conseguirá escapar ao desenvolvimento da nossa imunidade. E é desse fator principal que falo: variantes. É a partir disso que saberemos respostas para o que teremos para o segundo semestre, qual será o nível de segurança, tranquilidade e normalidade quando nos aproximarmos desses festejos do fim do ano”, conclui.

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