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Estado de Minas CORONAVÍRUS

COVID-19: Taxa de ocupação de UTIs está em colapso em 17 estados

Taxa de ocupação no auge da pandemia no país é considerada crítica por médicos


28/02/2021 06:00 - atualizado 28/02/2021 09:07

Brasil vive o auge da crise de infecções e mortes por COVID-19 desde o início da pandemia(foto: TARSO SARRAF/AFP - 7/2/21)
Brasil vive o auge da crise de infecções e mortes por COVID-19 desde o início da pandemia (foto: TARSO SARRAF/AFP - 7/2/21)

Os alertas de especialistas desde o fim de 2020 não impediram o Brasil de chegar a um patamar alarmante da pandemia, com diversos estados com leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com COVID-19 à beira do completo esgotamento. Dados das secretarias estaduais mostram taxas de ocupação dos leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) para adultos em 80% ou mais em 17 estados, o que já é considerado crítico pelo comitê Observatório COVID-19, ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A taxa está acima de 90% em oito estados. Médicos apontam: o cenário é de colapso neste momento em que o país enfrenta o auge da pandemia de coronavírus no Brasil. No Rio Grande do Sul, Porto Alegre atingiu 101,08% de ocupação e 136 aguardavam vaga para internação em UTI nesse sábado (27/02).

Em nota técnica divulgada na sexta-feira (26/2), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) afirmou que taxas observadas no último dia 22 já mostravam “uma clara piora do quadro geral do país referente às taxas de ocupação de leitos de UTI COVID-19 para adultos – o que configura-se no pior cenário já observado no país”. Naquela ocasião, 13 unidades federativas estavam com taxa de ocupação acima de 80%.

No dia 1º, o número era de nove unidades da federação, o que mostra a tendência de crescimento do cenário. Na análise da fundação, a Região Norte se mantém em situação muito preocupante, e todos os estados do Sul pioraram de situação. Alertas não faltaram.


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Ainda em dezembro, a Fiocruz já falava que “sem cuidados devidamente adequados e sem manutenção do isolamento social” em meio às festividades de fim de ano, a rede de saúde brasileira poderia colapsar.

Entre os fatores que contribuíram para o agravamento da pandemia, foram citados a “desmobilização de leitos extras dos hospitais de campanha; a ocupação de leitos por outros problemas de saúde que ficaram represados durante o avanço da epidemia de COVID-19; a maior circulação de pessoas; as dificuldades de identificação de casos e seus contatos devido à baixa testagem; e o relaxamento dos cuidados de distanciamento social, uso de máscaras e higiene”.

UTIs em colapso no Brasil

Confira a taxa de ocupação de leitos de UTI adulto para pacientes com COVID-19 no Sistema Único de Saúde (SUS) em todos os estados:
  • Acre 97,2%
  • Alagoas 69%
  • Amapá 63,9%
  • Amazonas 86,8%
  • Bahia 82%
  • Ceará 95,3%
  • Distrito Federal 94,9%
  • Espírito Santo 72,3%
  • Goiás 94,1%
  • Maranhão 83,7%
  • Mato Grosso 87,1%
  • Mato Grosso do Sul 87%
  • Minas Gerais 72,6%*
  • Pará 79,9%
  • Paraíba 71%
  • Paraná 94%
  • Pernambuco 90%
  • Piauí 76,2%
  • Rio de Janeiro 62,8%
  • Rio Grande do Norte 89,4%
  • Rio Grande do Sul 94,5%
  • Rondônia 96,7%
  • Roraima 80%
  • Santa Catarina 93,9%
  • São Paulo 71,1%
  • Sergipe 62,4%
  • Tocantins 80%
*Minas não distingue leitos de UTI adultos exclusivos para COVID-19 das demais vagas.

Auge da infecção no Brasil

A fundação agora aponta que “os dados consolidados para o país confirmam a formação de um patamar de intensa transmissão da COVID-19”, com nenhum estado apresentando tendência de queda significativa nas últimas três semanas epidemiológica no número de casos e óbitos por COVID-19.

“A manutenção de altos índices da doença, bem como  a sobrecarga de hospitais, podem ser ainda decorrentes de exposições ocorridas no final de 2020 e em janeiro de 2021, com a ocorrência de festas de fim de ano, festivais clandestinos e intensificação de viagens”, pontuou.



Infectologista do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, Jamal Suleiman ressalta que desde novembro do ano passado os especialistas estão chamando a atenção para o aumento de casos e sobre o que aconteceria com o sistema de saúde. “Já era absolutamente previsível esse repique simultâneo no país inteiro”, diz.

De acordo com ele, as pessoas se aglomeraram nas festas de fim de ano e depois no carnaval, e somou-se a isso a ausência de uma política central de controle da pandemia. “O colapso é o desfecho que a gente previa desde o ano passado”, afirma.

Tragédia anunciada na saúde

Conforme o infectologista, uma taxa de ocupação acima de 90% “é o colapso”. “O sistema de saúde não pode estar voltado exclusivamente para uma mesma doença”, ressalta. Para o médico, falta uma coordenação nacional, com planejamento. “Essa tragédia é anunciada. O que aconteceu é que a gente saltou do 20º andar sem nenhuma rede embaixo. Todas as narrativas foram no sentido de caracterizar isso como um fenômeno irrelevante, com 250 mil pessoas mortas”, relata.

Vacinas contra COVID-19 são transportadas no Pará. Estado tem quase 80% das vagas em UTIs ocupadas(foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará)
Vacinas contra COVID-19 são transportadas no Pará. Estado tem quase 80% das vagas em UTIs ocupadas (foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará)

O diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José Davi Urbaez, também afirma que o cenário é de colapso imediato quando a taxa de ocupação está neste nível. De acordo com ele, hospitais nunca devem ter taxas de ocupação de leitos de UTIs acima de 80%, porque a sobrecarga dos servidores acaba sendo intensa e há, ainda, uma redução na efetividade da internação.

Em meio à grave situação, governadores começaram a decretar medidas mais restritivas, com fechamento de comércios, por exemplo. Para Urbaez, as medidas são tardias para uma situação que já era prevista por especialistas, com falta de ações de controle, festas de fim de ano e carnaval. “O Flamengo ganhou e as pessoas comemoraram como se não houvesse pandemia. E o poder público, totalmente omisso”, afirma.

É lockdown? Brasil não consegue adotar modelo


Conforme o infectologista, nada que está acontecendo é novo ou inesperado. “Quando começou essa história de flexibilização, fechamento de leito, a gente sempre advertiu que o vírus estava em altas taxas de circulação”, pontua. Para ele, tudo o que o país vive é reflexo de uma ausência de dispositivo de controle de pandemia.

Fiscais de São Paulo vistoria estabelecimento na madrugada de 27/02 para cumprir regras de toque de recolher(foto: Governo do Estado de São Paulo)
Fiscais de São Paulo vistoria estabelecimento na madrugada de 27/02 para cumprir regras de toque de recolher (foto: Governo do Estado de São Paulo)
“O poder público nunca teve controle de pandemia. O que fez foi correr atrás de leito para assistir os doentes. Mas controle de pandemia é você reduzir ao mínimo os casos. Para isso, tem que ter testagem, isolamento e planejamento na flexibilização de algumas atividades econômicas. Isso tudo é uma complexa operação que exige trabalho árduo em todas as suas esferas. Aqui, nunca foi feito”, frisa.

Governo bate na tecla de abertura de leitos

Enquanto o sistema de Saúde em diversos estados se aproxima do total esgotamento, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, aponta o aumento do número de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs) como uma das ações prioritárias a serem tomadas no momento, que ele chamou de “nova etapa” da pandemia. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS), entretanto, e outros especialistas alertam que sem outras medidas, abrir leitos não será eficaz.

Taxas de ocupação dos leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) para adultos em 80% ou mais em 17 estados(foto: TARSO SARRAF/AFP - 7/2/21)
Taxas de ocupação dos leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) para adultos em 80% ou mais em 17 estados (foto: TARSO SARRAF/AFP - 7/2/21)

Diretor-geral do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (Cepedisa) e professor titular do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Fernando Aith é enfático: abrir leitos e não trabalhar na redução da transmissão é “enxugar gelo”. “Não adianta fazer leitos de UTI, porque o problema é que você tem que reduzir o número de infectados e a taxa de transmissão, que tem que ser menor que 1, se não a gente vai ter cada vez mais infectados circulando na sociedade”, diz.

Aith frisa o que tem sido falado por especialistas ao longo de toda a pandemia, que a solução está no uso de máscara e nas medidas de distanciamento social. “Eu posso fazer leitos, mas se eu não cuidar da prevenção e aumentar o número de infectados, os leitos nunca serão suficientes”, afirma.

O diretor também pontua que para cada leito, é preciso ter profissionais treinados e habilitados para o tipo de tratamento. “Falar em leitos é populismo barato; é desviar atenção, dizendo que o problema é UTI. Não, é o problema porque nós deixamos chegar em um nível de estados graves que não é mais tempo disso”, ressalta.
Pós-doutora pela Universidade Johns Hopkins e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), a epidemiologista Ethel Maciel também frisou que apenas abrir leitos não é a solução, visto que há um limite de profissionais.

“Para você ter leitos, principalmente os de UTI, você precisa de pessoal qualificado, pessoas que saibam operar as máquinas. São muitos equipamentos específicos, que não são simples”, diz. A especialista ressalta a necessidade de aumentar a testagem e as medidas de isolamento, com apoio à população (como um auxílio emergencial) e aos pequenos e microempresários, para que possam fechar.

Sistema transbordado de pacientes

O diretor-executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS, Michael Ryan, apontou que aumentar o número de leitos não é uma solução suficiente para controlar o cenário de colapso. “O seu sistema de saúde ficará transbordando se a trajetória dos casos estiver aumentando. E o seu sistema não pode cobrir hoje e certamente não irá cobrir amanhã, se essa pressão continuar no sistema. Então, sim, é sempre bom fortalecer a capacidade da saúde, é sempre bom conseguir abrir mais leitos, mas só isso não é suficiente”, afirmou.

Além de apostar na abertura de novos leitos, Pazuello disse, ainda, na última semana, que frente à lotação de UTIs, irá adotar como uma das estratégias a transferência de pacientes entre estados. A proposta é criticada pelo infectologista do hospital Emílio Ribas, em São Paulo, Jamal Suleiman. “Já é um processo de isolamento grave do paciente em relação a sua família, e ainda é em outro lugar”, explica.

O próprio presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, ressaltou ao lado do ministro da Saúde na última semana que vários estados receberam, há algumas semanas, pacientes de outros estados em colapso, como do Amazonas e de Rondônia, mas que fazer isso neste momento seria mais difícil. “Hoje a gente já teria dificuldade bem maior de fazer esse transporte porque todo mundo está no seu limite”, disse.

Ao falar sobre a situação de colapso na última semana, o ministro Eduardo Pazuello não minimizou a gravidade do momento, mas sinalizou que a situação não era esperada, apesar de todos os alertas de especialistas desde o fim do ano passado. “Em novembro, estávamos observando a situação de estabilidade em número de casos de óbitos e, com a chegada da vacina, faríamos uma baixa efetiva”, afirmou.

O que é o coronavírus

Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.


transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.


A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.

Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia
  • Em casos graves, as vítimas apresentam:
  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
  • Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus 

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.


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