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Estado de Minas LUTO E REVOLTA

COVID-19 em MG: Parentes de 14 mil idosos mortos lamentam atraso na vacina

Pessoas acima de 60 anos são 81% dos óbitos pelo coronavírus em Minas Gerais. Famílias dizem que demora na imunização tirou dessas vítimas a chance de viver


28/02/2021 06:00 - atualizado 28/02/2021 07:32

''Minha avó nunca teve nenhum problema de saúde. Não tenho dúvida de que ela poderia ter sido ajudada se tivesse tomado a vacina'' - Fabrício Maia, ao lado da avó, Áurea (que faleceu com COVID), e de Wagner, Isabela e Rosimeire (foto: FABRÍCIO MAIA/ARQUIVO PESSOAL)
''Minha avó nunca teve nenhum problema de saúde. Não tenho dúvida de que ela poderia ter sido ajudada se tivesse tomado a vacina'' - Fabrício Maia, ao lado da avó, Áurea (que faleceu com COVID), e de Wagner, Isabela e Rosimeire (foto: FABRÍCIO MAIA/ARQUIVO PESSOAL)
Os idosos são os mais afetados pela pandemia do novo coronavírus. Ainda assim, eles integram justamente o grupo que segue a passos lentos na vacinação. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas (SEE-MG), pessoas acima de 60 anos respondem por 81% das mortes causadas pela COVID-19 no estado.

A palavra final para definir as prioridades na imunização é de cada município e, como mostrou o Estado de Minas de 22/02, em várias cidades há categorias profissionais longe da linha de frente do combate ao vírus que têm conseguido passar à frente dos idosos na fila pela vacina.

Enquanto isso, parentes dessas mais de 14 mil vítimas do coronavírus lamentam a perda dos entes queridos com a certeza de que, se a imunização tivesse chegado mais rápido, os momentos com eles teriam sido prolongados.

Fazer tricô, crochê e oração. Os três hábitos mais comuns de Áurea Dias, de 83 anos, não são mais vistos pela casa. “Era uma cristã muito devota, de uma fé que nunca vi igual na minha vida. Ela orava por todo mundo da família. O que a deixava feliz era ver todo mundo feliz”, lembra o neto Fabrício Maia, de 24. O personal trainer conta que o amor de dona Áurea pela família reunia todos os parentes em aniversários e também no Natal – encontro que não foi possível em 2020 por causa da pandemia.

Do dia da descoberta da infecção pelo novo coronavírus até a morte foram 19 dias. Áurea morreu no último dia 14, capturada por uma doença que ela evitou. “Minha avó nunca teve nenhum problema de saúde”, conta o neto. “Não tenho dúvidas de que ela poderia ter sido ajudada se tivesse tomado a vacina”, lamenta. “Ela era nossa base, nosso ponto de apoio, nossa referência de união. Ela sempre fez questão de ver todo mundo junto e próximo. A gente vai sentir muita falta.”

"Meu pai foi meu maior legado de felicidade"

Perder um parente para algo invisível é doloroso. Perder dois na mesma semana significa dor em dobro. É assim que ainda se sente Janice Izabela Santos, de 25. Ela perdeu o pai, Valdir Dias dos Santos, de 61, e a avó, Iva Dias de Medeiros, de 84.  “Meu pai foi e sempre será o meu maior legado de felicidade, de força, de vontade de viver bem, de honestidade, de bondade, um homem exímio, super alto-astral, que mesmo com a deficiência visual que tinha não deixava de fazer nada na vida... extremamente querido, e deixou muita saudade em muita gente. E minha avó, meu maior exemplo de dedicação, de amor, de paciência, de resiliência, uma mulher guerreira, de muita fé e com uma história de vida muito bonita”, lembra com carinho.

''Tenho certeza de que muitas vidas serão salvas com a vacinação, assim como a dos meus familiares, que também poderiam ter sido poupados'' - Janice Izabela dos Santos, ao lado de Vilma, Iva (avó que faleceu com COVID), Valdir (o pai que faleceu com a doença) e Josiane (foto: JANICE IZABELA/ARQUIVO PESSOAL)
''Tenho certeza de que muitas vidas serão salvas com a vacinação, assim como a dos meus familiares, que também poderiam ter sido poupados'' - Janice Izabela dos Santos, ao lado de Vilma, Iva (avó que faleceu com COVID), Valdir (o pai que faleceu com a doença) e Josiane (foto: JANICE IZABELA/ARQUIVO PESSOAL)

A alegria, o amor e o cuidado que mãe e filho levavam para a família também foram roubados pela COVID-19. “Em 26 de setembro, meu pai acordou se sentindo muito mal. Eu, então, o levei ao médico, e mesmo ele me fazendo prometer que o traria de volta pra casa, infelizmente, ele não voltou. Foram 19 dias de internação. Quando completou o 13º dia, minha avó também foi diagnosticada com COVID-19 e, no dia seguinte, foi internada no mesmo hospital em que meu pai estava. Em 13 de outubro, após algumas complicações nos rins devido à COVID, meu pai teve seguidas paradas cardíacas e às 6h nos deixou. Cinco dias depois, no dia 18, a minha avó também se foi”, conta Janice.

De acordo com Janice, os dois não tinham problemas de saúde. “Eram pessoas saudáveis, que dentro do possível se resguardavam. Minha avó saiu de casa uma única vez nesse período, para ir no consultório médico. O médico também testou positivo alguns dias após a consulta. Ele pode ter transmitido para ela, como ela também pode ter transmitido para ele. Não sabemos, COVID não tem rastreador ou uma identificação visível”, observa a jovem. A certeza, segundo ela, é de que a vacinação teria sido um alívio se tivesse chegado antes do vírus. “Tenho certeza de que muitas vidas serão salvas com a vacinação, assim como a dos meus familiares, que também poderiam ter sido poupados e, infelizmente, não foram”, disse.

Aplicação de doses reduz agravamento da doença

O Programa Nacional de Imunização (PNI) considera os riscos de agravamento e óbito por COVID-19 para definir os grupos prioritários. Os idosos são os mais vulneráveis às internações hospitalares em decorrência da doença. “Vacinar essa população é importante porque são pessoas com maior risco de agravamento pela doença, necessitando de assistência hospitalar, o que aumenta nossa ocupação de leitos por COVID-19.

Ao vacinar esse grupo, teremos uma redução do agravamento da doença entre idosos e uma diminuição do número de internados por COVID-19”, explica a subsecretária de Vigilância em Saúde da SES-MG, Janaína Passos.



Na última semana, a SES-MG iniciou a distribuição da quinta remessa de vacinas enviadas pelo Ministério da Saúde. Até sexta-feira, os imunizantes não haviam chegado a Belo Horizonte, que soma mais de 2 mil mortes de idosos pela COVID-19.

“O tempo entre a chegada dos imunobiológicos a Belo Horizonte e a saída para todo o estado é necessário para que seja conferida a temperatura; verificado o quantitativo enviado, de acordo com a estimativa de cada município; elaborada a rota, definida a logística de distribuição e finalizada a planilha de distribuição de doses, conforme público recomendado pelo Programa Nacional de Imunização (PNI)”, informou a SES-MG.

A pasta garante que para esta etapa foi ampliado o público prioritário. Desta vez, serão imunizados os idosos de 85 a 89 anos de idade e 24% das pessoas com 80 a 84. Os municípios que ainda não atingiram a meta preconizada pelo PNI de 81% de trabalhadores da saúde vacinados receberão 8% do total de vacinas.

Para Belo Horizonte, que já iniciou a vacinação de idosos acima de 86 anos, está previsto o envio de 51.130 doses. Desse total, 17.700 (dose 1 e 2) são doses da CoronaVac e 33.430 doses da AstraZeneca. Ainda assim, a prefeitura não soube informar como será a ampliação da campanha na capital.

População mais vulnerável à COVID-19

“Desde o início, a gente já reconhecia os idosos como mais vulneráveis ao Sars-Cov-2. Das certezas que a gente tem, essa é uma delas”, afirma o médico intensivista Fernando Botoni, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo o especialista, a solução está na vacinação ampla. “Até que isso não seja possível, a gente não tem outra saída que não seja o afastamento social. Infelizmente, todas essas drogas que são propaladas como eficientes (cloroquina, ivermectina e afins), não existe evidência para a eficiência delas. Digo infelizmente porque seria mais simples e fácil. Se fosse tão simples assim, o mundo não estaria estarrecido”, acrescenta.

Maiores responsáveis pela ocupação de leitos, os idosos devem ter cuidado especial. Belo Horizonte está em estado vermelho na ocupação das unidades de terapia intensiva (UTIs), com 70,1% de ocupação. “Em Minas e BH, ainda estamos em situação de certa forma menos catastrófica em relação a outros estados e cidades. Mas aqui os leitos também estão chegando ao final e vai tornar esse público mais ainda ameaçado. E a circulação dessas novas cepas do vírus é realmente apavorante”, diz Botoni. (DL)

O que é o coronavírus

Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.


transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.


A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.

Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia
  • Em casos graves, as vítimas apresentam:
  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
  • Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus 

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.


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