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Estado de Minas DIA INTERNACIONAL DA MULHER

'Temos de ser fortes, amar a família e tocar o barco', reflete Cristina, com 64 anos e muitas tragédias superadas

Cristina Gonzaga teve a perna amputada devido ao diabetes e enfrentou os temporais de janeiro com garra


postado em 08/03/2020 04:00 / atualizado em 08/03/2020 07:50

Cristina Gonzaga não perde a alegria de viver, apesar das adversidades que enfrentou nos últimos anos(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Cristina Gonzaga não perde a alegria de viver, apesar das adversidades que enfrentou nos últimos anos (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

As cheias do Rio das Velhas são conhecidas de longa data de Maria Hercília de Jesus Gonzaga, de 64 anos, – mas é bom explicar logo que ela poucas vezes se lembra do nome de batismo. “Todos me chamam de Cristina, desde que cheguei da roça. Mas gosto, porque minha mãe se chamava Maria Cristina”, conta a cozinheira, quituteira e doceira, nascida na zona rural de Taquaraçu de Minas e moradora do Bairro Córrego Frio, em Santa Luzia, também na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Durante a chuvarada de janeiro, Cristina ficou dois dias “ilhada” em casa com a família, mas tirou de letra. Aí, teve mais tempo para caprichar na deliciosa goiabada, feita no fogão a lenha com frutos do quintal, e depois entregar todas as encomendas de bombons de morango e aceitar outras de empadinhas, coxinhas e pasteizinhos. “Sou orgulhosa do meu serviço”, revela com um sorriso.

Mesmo com a estrada em péssimo – para ir da casa ao ponto de ônibus, é preciso caminhar um quilômetro na terra –, Cristina voltou à rotina tão logo o Rio das Velhas permitiu: “Já passei com água pela cintura, mas desta vez, felizmente, não fomos atingidos pela enchente. E meu filho mais velho, quando pode, me busca de carro no ponto”. Com a bengala de apoio, ela retornou ao trabalho como diarista na capital, embora sem a mesma agilidade de outros tempos. Há pouco mais de dois anos, devido ao diabetes, a cozinheira sofreu a amputação da perna esquerda, na altura do joelho, e se vale de uma prótese.

"Admiro a Paola (Antonini). Gostaria de conhecê-la para falar como o seu exemplo é importante. Dar um abraço"

Cristina Gonzaga, que perdeu a perna devido ao diabetes



“Nunca senti preconceito por ser mulher ou pela cor da pele. Mas, agora vejo como os deficientes penam, principalmente no transporte público”, diz Cristina, que vem para BH bem cedo com o filho caçula e, quando volta para casa, precisa pegar três ônibus. “As pessoas empurram, não cedem o lugar. Outro dia fiz um trecho no Move e ninguém se levantou. Quando era jovem, sempre dava o lugar para os mais velhos”, lamenta Cristina, certa de que, no mundo atual, a palavra mais necessária é respeito.

Bom humor diante da adversidade

Quem conhece Cristina sabe que com ela não tem tempo ruim. Está sempre sorrindo, enfrenta os problemas com bom humor, sem dramatizar. Mas como nenhum dia é igual ao outro, teve seu momento de muita tristeza algumas semanas, após sair do hospital para amputação da perna. “Esteve aqui em casa uma moça, a Isadora, para buscar uns bombons encomendados. Ao me ver chorando muito, falou sobre a Paola Antonini e da superação dela, da alegria e fé na vida."

Nesse momento, os olhos de Cristina represam as lágrimas para, em segundos, voltarem a se iluminar em emoção. “Admiro a Paola. Gostaria de conhecê-la para falar como o seu exemplo é importante. Dar um abraço”, diz Cristina sobre a modelo e apresentadora belo-horizontina, atropelada há pouco mais de cinco anos e igualmente amputada.

Casada com José Luiz Gonzaga, lavrador, e mãe de Ana Cecília, advogada, Robson, estudante de engenharia de produção, e Jeferson, segurança e trabalhador de fábrica de peças, Cristina é avó de Larissa, de 11 meses, e já coruja Bernardo, que chegará ao mundo em julho. “Trabalho desde os 9 anos. Capinei, plantei milho, colhi verdura, nunca esmoreci. Temos de ser fortes, amar a família e tocar o barco, mesmo na enchente”, brinca a cozinheira. Neste Dia Internacional da Mulher, o que Cristina mais deseja é união, e que não seja necessária a dor para o mundo entender o sentido do respeito e da felicidade.


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